O varejo mostra comportamento semelhante. Em pesquisa feita regularmente pelo MilkPoint no varejo de Piracicaba (SP), o longa vida valorizou cerca de 2,96% em fevereiro sobre janeiro, ficando com valor médio de R$ 2,08/litro (Gráfico 1). Esse dado é interessante uma vez que sinaliza uma recuperação de preços após as quedas de dezembro e principalmente janeiro.
Gráfico 1: Preços no varejo de Piracicaba (SP)
Fonte: MilkPoint.
Essa relativa tranquilidade se verifica também no campo, onde os preços estão alcançando valores altos e sem grandes oscilações. Segundo dados do CEPEA, o preço voltou a subir em fevereiro e fechou 1,1% superior à janeiro, com média R$ 0,8408/litro.
É interessante notar que esse cenário foi construído mesmo com grandes importações. De fato, o que mais chamou a atenção no mês passado foi a entrada expressiva de leite importado, aumento de 39% quando comparado à dezembro. Dentre as importações de leite em pó, foram 5.182 toneladas da Argentina, 6.221 toneladas do Uruguai, e uma participação menor do Chile.
A entrada de produtos lácteos acontece em função do câmbio e por ter em sua origem um custo de produção mais baixo do que o nosso. É o caso dos nossos vizinhos: Uruguai e Argentina. E essa pressão de entrada sempre irá existir caso o Brasil não consiga produzir leite de forma eficiente e competitiva, ou se o câmbio estiver em um patamar que mina nossa competitividade. É até repetitivo bater nessa tecla, mas é uma realidade importante quando se fala em balança comercial.
Ao analisarmos as importações veremos que os principais produtos internalizados hoje são o leite em pó e o queijo. Dessa forma, é possível encontrar no comércio brasileiro lácteos importados mais baratos que os produtos nacionais. Ainda assim, o reflexo dessa movimentação não foi sentido de forma expressiva no campo, pelo menos quando se pensa em importações reduzindo os preços do leite ao produtor.
Na verdade, ao constatarmos que o mercado está bastante estável há vários meses (olhando do lado do produtor), conclui-se que há equilíbrio entre oferta e demanda e, assim, as importações controladas têm preenchido o déficit de produção e regulado essa dinâmica, sem resultar em queda dos preços apesar do volume expressivo importado. Melhor seria, claro, se toda a demanda fosse suprida internamente. É importante ressaltar que, com importações descontroladas a preços bem mais baixos do que os internos, o resultado seria a queda de preços, afetando diretamente o preço ao produtor. Portanto, o equilíbrio é tênue.
E para frente?
O pico da safra da região tropical passou e a região sul prepara-se para entrar no vazio outonal. Historicamente, por ser um mês mais curto, fevereiro apresenta uma queda na captação em relação a janeiro, algo em torno de 3%.
Se o mercado ainda mantiver um comportamento tranquilo, é provável que os preços pagos ao produtor em março andem na linha da estabilidade ou alta. Agentes de mercado preveem leve queda na oferta baseado na curva normal de sazonalidade de produção nas regiões centrais do país. Na região Sul, o início da entressafra e o provável impacto da estiagem do verão devem contribuir para retração da produção.
Reforçando a informação anterior, historicamente a produção do segundo trimestre é em média 8% menor que o primeiro trimestre, como pode ser observado no gráfico 2. Acreditamos que, neste ano, a queda deva ser pequena (abaixo de 5%).
Gráfico 2: Comparação histórica entre a produção do 1º e 2º trimestre
Fonte: IBGE; Elaboração: MilkPoint
Essa tendência poderá ser reforçada pela análise apresentada na observação do gráfico 3, que foi feito a partir dos dados do ICPLeite/Embrapa e preços do leite em Minas Gerais apontados pelo Cepea/USP. No entanto, como o ICPLeite/Embrapa trabalha com os valores relativos apenas, nós arbitrariamente colocamos o valor de R$ 0,525/litro como custo em julho de 2007, corrigindo a partir daí pela inflação. O ICPLeite/Embrapa indicou que no mês de janeiro teve alta de 1,69% nos preços dos insumos utilizados nos sistemas de produção de leite, sendo que a maior alta ocorreu no grupo mão de obra, devido ao reflexo do reajuste do salário mínimo.
No gráfico 3, a diferença entre o preço do leite e o custo estimado reflete o lucro do produtor, e por mais que em 2011 tenha apresentado relativa rentabilidade, agora o cenário inicia-se com um comportamento diferente, com valores levemente negativos. Os custos altos e rentabilidade apertada podem fazer com que o produtor fique mais comedido em seus investimentos, podendo retrair a oferta. Com a produção mais tímida, os preços tenderão a subir a fim de balancear a dinâmica de oferta e procura.
Gráfico 3: Estimativa de preços/custos/lucro de um produtor de leite em Minas Gerais
No entanto, o mercado trabalha como cenário mais provável uma elevação gradativa e pouco pronunciada nos próximos meses, uma vez que como os preços estão elevados, o espaço para reajustes é menor, além do fato de estimarmos uma queda mais moderada na oferta do que em anos anteriores. Ademais, as indústrias vêm de um período longo de margens apertadas e o espaço para posturas mais agressivas, como ocorreu em 2010, por exemplo, é menor.
Além disso, se os preços subirem significativamente, as importações principalmente do Uruguai devem se elevar. Em janeiro, o Brasil comprou desse país 6.221 toneladas de leite em pó e 1.043 toneladas de queijos. O Instituto Nacional de Leite do Uruguai (INALE) estimou um acréscimo de 24% na produção de leite em janeiro de 2012 em relação ao mesmo mês de 2011. Ainda que esse aumento não deva refletir o comportamento do restante do ano, percebe-se pelo gráfico 3 que a produção uruguaia começa 2012 em um outro patamar, quando comparada aos anos anteriores.
Gráfico 3: Produção de leite do Uruguai
Fonte: INALE; Elaboração: MilkPoint
Portanto, o cenário mais provável hoje é: leve redução da oferta no segundo trimestre; demanda continua funcionando; importações preenchem o déficit de produção; leve espaço para aumento de preços ao produtor, sendo improvável uma corrida de preços.