No mês de abril, os produtores tiveram um aumento no preço recebido pelo leite. De acordo com o Cepea, a média nacional teve acréscimo de 1,7 centavo por litro, ao preço de R$ 0,6258, alta de 2,81% em relação ao mês anterior. Notadamente, os aumentos de preços variaram regionalmente, sendo que em abril, os maiores aumentos, de quase 3 centavos por litro, ocorreram em Minas e em Goiás - reajustes de 4,63% e 5,02% respectivamente. Já em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, as médias não conseguiram se sustentar, mas os recuos não chegaram a um centavo por litro.
De acordo com a Embrapa, em seu Índice de Custo de Produção - que mede o custo de produção de leite em uma empresa localizada no Estado de Minas Gerais - no mês de março o índice geral permaneceu estável. Contudo, analisando os grupos separadamente, houve reajustes em mão-de-obra (9,95% - decorrente do aumento do salário mínimo), qualidade do leite (4,82%), sanidade (0,63%) e produção e compra de volumosos (0,49%). Já para o grupo dos insumos, o mês de março foi de queda - sal mineral (-5,87%), concentrado (-1,14%), reprodução (-0,37%) e energia e combustível (-0,13%).
Gráfico 1. Preços médios pagos ao produtor (média de RS, SC, PR, SP, MG, GO e BA).
A oferta de um determinado produto é fator de extrema importância na formação de seu preço (senão o principal). A conhecida lei da "oferta e procura" ilustra essa afirmação. No caso do leite, estamos no período de entressafra do Sudeste e Centro-Oeste, em que a produção é reduzida, gerando maior competição pelo produto. Concomitantemente, a região Sul foi afetada por um grave período de estiagem, sendo que em algumas regiões a produção chegou a cair mais de 20%.
Se é verdade que a oferta é fundamental para formação de preços, o inverso também acontece. Em épocas de preços em ascensão, a resposta é relativamente rápida, com incremento do volume de produção. Isso pode ser observado através do Índice de Captação de Leite do Cepea-Esalq/USP, no qual nota-se a elevação da captação à partir do 2º semestre de 2007 (quando os preços começaram a subir no mercado internacional), e sua regressão após o 2º semestre de 2008 - a partir de então, a captação vem caindo mês a mês, quando comparada ao mesmo período do ano anterior. Nesta última aferição (março/09), no entanto, a queda do volume captado, em comparação ao mesmo mês de 2008, já foi menor.
Com a redução da oferta, o que se vê é uma maior competição entre as empresas, em busca de leite. E aqui residem os movimentos de alta nos preços ao produtor. A maioria das fontes do setor consultadas pela Equipe MilkPoint acredita em novo reajuste de preços para o próximo mês, entre 3 a 5 centavos, com preços variando entre R$ 0,65 a R$ 0,78/litro (bruto). Altas mais expressivas não foram relatadas, denotando que, para esse ano, não é esperada uma escalada de preços, até onde se pode analisar. A continuidade do efeito da oferta pressionando preços vai depender agora do aumento da produção no Sul, com o início das chuvas, que pode reduzir o déficit de leite no meio do ano.
Um outro fator de peso na reação dos preços tem sido o leite longa vida. Apesar de todos os produtos lácteos terem reagido - em proporções consideravelmente menores - o leite UHT vem subindo de preço - no mês de abril, o IPCA (Índice de Preço ao Consumidor Amplo - medido pelo IBGE), registrou alta de 3,12% para o leite pasteurizado, no qual o IBGE inclui o leite UHT. A demanda está firme e não há estoques. Apesar de termos os dados de atacado do Cepea apenas até fevereiro, agentes do setor informaram que, no atacado, os preços médios do litro do leite longa vida variam hoje entre R$ 1,55-1,60 (Sul), R$ 1,70-1,80 (CO) a R$ 1,80-2,00 (Sudeste). No varejo, as médias do produto vão de R$ 1,80 a R$ 2,20/litro, com regiões registrando preços acima de R$ 2,40 (MS), de acordo com as mesmas fontes.
Mesmo que de forma mais modesta, os demais produtos lácteos apresentaram reação nestes últimos dias. O leite em pó, após um leve sinal de alta no mercado internacional, tem tido preços mais firmes no atacado, já apontando alguma recuperação. Segundo agentes do setor consultados pela Equipe MilkPoint, os preços no atacado giram em torno de R$ 7,00/Kg, e o mercado mostra-se estabilizado (com estoques reduzidos e demanda normalizada). Até o momento da elaboração deste artigo, novos contratos de exportação não haviam sido fechados, mas há negociações sendo feitas, com preços médios de US$ 2.300/tonelada (para o Mercosul) e US$ 2.800/ton (para a Argélia). O mesmo ocorre com os queijos, que devem mostrar uma reação neste próximo mês. O quilo do produto está sendo negociado no atacado entre R$ 7,00 e R$ 8,50, e no varejo, entre R$ 11 e R$ 14,00/Kg.
O consumo de produtos de primeira necessidade, assim como de artigos que, de certa forma, tragam alguma forma de compensação ao consumidor - com a crise, foram adiados investimentos em bens duráveis, como carros, imóveis, eletrodomésticos, entre outros - tem aumentado. Segundo uma pesquisa da LatinPanel, no 1º trimestre deste ano o crescimento de compras de alimentos e bebidas foi de 15% e 9%, respectivamente.
Com oferta reduzida e demanda firme, reajustes de preços são esperados como um ajuste normal de mercado. Como fatores de restrição a esse movimento estão as importações e a valorização do real. De janeiro a abril de 2009, foram importadas 26 mil toneladas de leite em pó da Argentina (equivalente a cerca de 213 milhões de litros de leite). No mês de abril, foram importadas 5,7 mil toneladas de leite em pó integral (equivalente a 46,9 milhões de litros), sendo 78,2% provenientes da Argentina (ao preço médio de US$ 1.840/t) e 21,4% do Uruguai (em média, a US$ 1.665/t). Em relação ao mês de março - no qual foram importadas 9,589 mil toneladas de leite em pó integral (69% proveniente da Argentina) - as importações recuaram 41%.
No final de abril, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) decidiu impor uma barreira à importação de produtos lácteos da Argentina. O colegiado de sete ministros autorizou o governo a implantar um sistema de licenciamento não-automático para as compras externas de leite e derivados do vizinho. Um grupo interministerial está analisando e monitorando os pedidos de importação. No acordo firmado com o país vizinho, estabeleceu-se o preço mínimo de US$ 2.200/tonelada de leite em pó, e volume máximo até 3 mil toneladas por mês.
Caso a oferta interna de leite se mantenha em declínio - como no 1º trimestre - e as importações do Mercosul sejam insuficientes (principalmente pela limitação às importações de leite da Argentina), será necessário trazer leite de fora do bloco, pagando 27% de imposto + tarifas anti-dumping. Como resultado, teremos um descolamento de preços em relação ao mercado externo, o que pode estimular uma elevação dos preços ao produtor, com consequente aumento da produção no final do ano.
No mercado internacional, as atenções estão voltadas - além dos preços - para os estoques. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, sigla em inglês), no 1º trimestre deste ano, os estoques de leite em pó desnatado atingiram níveis históricos, com 84,2 milhões de quilos (15,4% acima em relação ao ano anterior). Na Europa, os estoques de intervenção de manteiga e leite em pó desnatado atingiram os mais altos volumes desde 2002; cerca de 61.000 toneladas de manteiga e 120.000 toneladas de leite em pó desnatado estão em estoques de intervenção públicos, além de 72.000 toneladas de manteiga em estoques privados.
Em relação aos preços, o mercado internacional não tem reagido da forma esperada, apesar de se manter firme no último mês. No último leilão da Fonterra (12/05), o preço médio alcançado para todos os produtos e períodos contratuais para o leite em pó foi US$ 2.144/t, posto na Nova Zelândia (antes do embarque) - valor 4,07% inferior ao do leilão do mês anterior. Já os preços futuros do leite Classe III nos Estados Unidos chegaram a cair em abril, mas já mostram uma recuperação nas últimas duas semanas. E assim como no Brasil, não há indícios de altas expressivas nos preços. No Oeste da Europa e na Oceania, o cenário é mais positivo. Os preços de exportação de lácteos têm mostrado recuperação há duas quinzenas consecutivas. Nesta última quinzena (1º a 14 de maio), o preço médio da tonelada do leite em pó integral atingiu o valor de US$ 2.537,5 no Oeste da Europa, alta de 6,8% em relação à quinzena anterior.
Gráfico 2. Preços médios de exportação no Oeste da Europa (US$/tonelada).
Um outro ponto extremamente relevante para o saldo da balança comercial brasileira de lácteos - e consequentemente para os preços internos - é a variação do câmbio. Na última semana houve nova valorização da moeda brasileira (assim como dos demais países emergentes) frente ao dólar, e já há agentes do mercado que apostam no dólar com valores anteriores à crise, em patamares em torno de R$ 1,80. Nesta hipótese do real valorizado - e os preços internacionais na casa dos US$ 2.200/t - as exportações brasileiras ficam em posição ainda mais difícil. Ao contrário, a viabilidade para trazer produtos de fora, aumenta.
Em relação aos preços, o cenário é mais propício para valores não muito acima dos atualmente praticados, variando entre as regiões e sempre considerando as diversas variáveis que compõem essa equação. Além da oferta, do câmbio, dos preços externos, dos efeitos da crise e das medidas visando a limitação das importações argentinas, a elevação dos preços do leite UHT traz mais uma variável: até que ponto essa alta de preços no varejo será sustentável, com manutenção das vendas?