Gráfico 1 Preços do leite ao produtor (R$/litro) e variação da produção em relação ao mesmo mês do ano anterior (%).
Animados com o aumento de preços e a relação de troca favorável (preço da dieta/preço do leite), como mostra o gráfico 2, produtores de regiões mais especializadas do Sudeste e Centro-Oeste estão investindo na alimentação do rebanho, sendo que nestas regiões, apesar da entressafra, já é registrado aumento de produção. No Sul, as pastagens devem estar aptas a receber o rebanho em 30 a 40 dias, com início da safra no começo de junho.
Gráfico 2. Receita menos custo de ração (R$/vaca/dia, corrigidos pelo efeito da inflação).
No ano passado, além do aumento característico do período da entressafra, as cotações do leite longa vida perduraram por mais tempo em alta, contribuindo com a elevação dos preços ao produtor. Este ano, a sequência de aumentos de preços do longa vida também aconteceu, porém antecipadamente, e talvez não alcançando os picos de preços de 2009 (ainda não temos os dados do Cepea para abril). Atualmente, os valores no atacado já estão sendo reduzidos, assim como no varejo. De meados de abril até agora, o preço do leite longa vida no atacado já recuou entre 10 a 15 centavos, com cotações entre R$ 1,50 a R$ 1,70/litro, segundo agentes consultados.
No gráfico 3, observam-se os períodos de aumentos de preços do leite longa vida, esperados com o início da entressafra do Sudeste e Centro-Oeste. Exceto em 2008, quando os preços do UHT andaram de lado e não tiveram grandes variações, nota-se claramente o período de abril-julho como os meses de alta de preços do UHT no atacado. Em 2010, este período de reajuste de preços veio antes, resultado da antecipação da safra no final de 2009 (por condições pluviométricas e climáticas favoráveis, o pico de produção no SE e CO veio em novembro e início de dezembro) e de condições adversas (seca e depois excesso de chuva) que prejudicaram a produção no início do ano, principalmente no Sul do país. Assim, os preços no atacado começaram a subir já em fevereiro e, apesar de ainda não termos os dados do Cepea-Esalq/USP sobre os valores de atacado em abril, tudo indica que o pico de preços tenha sido atingido neste mês, considerando que no início de maio a maioria das empresas consultadas em nossas pesquisas afirmaram ter reduzido os preços nas vendas ao varejo. Para elaboração deste gráfico, estimamos o valor de R$ 1,75/litro para o preço do UHT no atacado em abril. Observa-se também que os valores do UHT este ano não alcançaram os mesmos patamares de 2007 e 2009.
Gráfico 3. Evolução dos preços do leite UHT no atacado, preços ao produtor, e a diferença entre eles (em R$/litro, corrigidos pelo efeito da inflação).
Agentes do setor consultados pelo MilkPoint informaram que houve uma oferta de leite longa vida superior ao consumo nos últimos 60 dias, gerando um excedente que está estocado, parte nas indústrias e parte no varejo. Até que esse estoque se estabilize, os preços sofrerão reajustes.
As cotações no varejo, no entanto, não cederam ainda como no atacado. Dados do varejo de Piracicaba, interior de São Paulo, apontam abril e a primeira quinzena de maio com valores acima dos verificados em março. É provável, como ocorreu no passado, que o varejo demore a reduzir os preços ao consumidor para forçar queda nos preços do atacado, recuperando os ganhos que normalmente perde quando o leite no atacado começa a subir.
Os preços do leite no mercado spot também esfriaram, com redução de até 15 centavos em relação aos preços de abril, em algumas regiões. As negociações ocorrem com preços que variam entre R$ 0,90 e R$ 0,80/litro.
Os preços do leite em pó no mercado interno também mostraram redução. Esperando novas altas no mercado internacional que viabilizassem as exportações, algumas empresas esperaram para vender no mercado interno. No entanto, como a trajetória de alta não veio, esse produto foi vendido no mercado interno e as cotações caíram cerca de R$ 1,00/kg, ficando entre R$ 8,00-8,50/kg. Já os queijos permanecem com preços estáveis.
Nesse sentido, a opinião da maioria dos agentes do setor consultados pelo MilkPoint é de que os preços ao produtor deverão ser ajustados para baixo nos próximos meses. Para o pagamento de maio (referente ao leite de abril) os preços podem ficar estáveis, ou ainda com leve aumento. Já para o pagamento de junho (leite de maio), deve haver alguma redução dos valores.
Em abril, as importações voltaram a preocupar o mercado nacional: o volume importado dobrou quando comparado a março de 2010, com compras de 11,6 mil toneladas de lácteos; em valor, foram US$ 32,5 milhões, gerando um déficit de US$ 19 milhões na balança comercial de lácteos. Nos próximos meses, há apreensão quanto ao volume que virá do Uruguai, resultado da retirada das restrições à importação do produto pelo governo brasileiro.
O ambiente externo também é incerto: os preços internacionais certamente estão bem acima do ano passado, mas ainda não favorecendo as exportações brasileiras. De qualquer forma, colocam um piso não tão distante dos níveis atuais de preços, comparando com o passado recente, por exemplo. Os mercados emergentes se mantêm com demanda firme e crescente, mas há o alerta sobre fragilidades na economia europeia.
A magnitude da correção dependerá não só do mercado externo, mas também da oferta interna. Nesse primeiro semestre, a expectativa era que a produção fosse significativamente maior do que em 2009, pelo menos atingindo os números de 2008, mas não é isso o que as informações preliminares indicam: dados do Cepea apontam 3 a 4% de aumento sobre 2009. Até que ponto, havendo redução de preços nesse momento, vai haver estímulo para forte crescimento da produção nos próximos meses? Essa é uma variável importante para definição dos rumos do mercado nos próximos 6 meses.