ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Análise inédita indica que RMCR explica quase 70% da variação na oferta

POR CARLOS EDUARDO PULLIS VENTURINI

PANORAMA DE MERCADO

EM 14/10/2015

5 MIN DE LEITURA

3
0
Num ano até agora marcado pelo fraco desempenho da demanda da maioria das categorias lácteas (assim como também “patina” a demanda por outros itens de consumo em massa, como cerveja, refrigerantes e até açúcar), a produção de leite também surpreende negativamente pelo terceiro trimestre consecutivo, com redução dos volumes produzidos em relação a 2014.

O gráfico 1 abaixo mostra a evolução da captação formal de leite no Brasil, indicando a produção de janeiro a junho de 2015, de acordo com informações divulgadas pelo IBGE (Pesquisa Trimestral do Leite).

Gráfico 1 - Brasil – Volume de leite adquirido pelas indústrias.

Segundo dados do IBGE, a captação de leite no Brasil no primeiro semestre de 2015 foi 1,8% menor do que em relação ao mesmo período de 2014. No entanto, é interessante notar a aceleração desse movimento de queda na oferta: no primeiro trimestre, a queda em relação a 2014 havia sido de 1%, já no segundo trimestre desse ano, a retração foi de 2,6%.

Gráfico 2 - Variação da captação de leite x mesmo trimestre do ano anterior.



Obviamente, ao ver uma queda dessa magnitude, associada ao baixo crescimento econômico do país, somos levados a crer que isso foi causado pela crise econômica e diminuição do consumo. A verdade é que ainda não.

O gráfico abaixo apresenta a disponibilidade per capita de leite (produção + importações – exportações/população). Nele, podemos ver que nos dois primeiros trimestres de 2015, a variação em relação a 2014 foi baixa: isso porque a queda na oferta interna foi suprida pelo crescimento das importações ao longo de 2015. Os dados mostram que, em equivalente-leite, as importações subiram 71% em relação ao primeiro semestre de 2014, o equivalente a 4,4% da captação de leite brasileira no primeiro semestre de 2015.

Gráfico 3 – Variação da disponibilidade per capita de leite x mesmo trimestre do ano anterior.


Além disso, é importante se atentar às bases de comparação: desde o terceiro trimestre de 2014, a disponibilidade per capita vem caindo (exceto pelo T1 2015, quando houve leve crescimento). No entanto, esses dados são comparados a períodos de forte crescimento na disponibilidade per capita: os trimestres do final de 2013 até a metade de 2014 apresentaram continuamente crescimento acima de 4% na disponibilidade per capita, ou seja, as quedas que ocorreram são em relação a um período no qual houve forte crescimento.

E o que esperar a partir de agora?

O panorama do segundo semestre de 2015 e início de 2016 possui alguns pontos diferentes do início deste ano:

- A economia está expressivamente pior: o desemprego vem crescendo de forma acelerada (foi de 4,3% em janeiro para 7,6% até agosto e, de acordo com as expectativas do mercado, deve piorar ainda mais), o PIB possui projeções cada vez piores (em janeiro, o Boletim Focus do Banco Central apresentava expectativa de 0,5% de crescimento na economia; na projeção dessa semana, é esperada queda de -2,97% em 2015). Tal conjuntura deve intensificar as quedas no consumo de lácteos.

- Por outro lado, as importações devem diminuir expressivamente. Na verdade, elas já diminuíram: de junho a agosto, as importações caíram 19% e, com o aumento dos preços de leite em pó no mercado internacional aliado à disparada do dólar, importar já não é mais tão bom negócio quanto foi ao longo do primeiro semestre.

Logo, apesar da mudança no panorama das importações, a redução do consumo deve ditar o ritmo do mercado gerando queda nos preços recebidos pelos produtores e, consequentemente, redução na oferta interna.

Um ponto importante a se atentar é a influência das margens dos produtores na evolução da captação de leite. O gráfico abaixo aponta a variação anual da captação de leite x a variação anual da RMCR (Receita Menos Custo de Ração).

Gráfico 4 – Variação anual da Captação de leite x Variação anual da RMCR (com 2 meses de defasagem).



A RMCR é um indicador que indica a receita que sobra para o produtor após pagar os custos de ração (milho, soja e sal mineral) para uma vaca que produz 20 litros/dia. O raciocínio é importante pois os custos com alimentação giram em torno de 60% do custo operacional de produção, ou seja, a alimentação é o principal item na cesta de custos do produtor (e o mais variável), o que faz com que a relação receita do leite - custo da ração seja um importante indicador para se estimar o resultado das fazendas produtoras de leite.

No gráfico, a RMCR possui uma defasagem de dois períodos: ou seja, quando o eixo X marca janeiro de 2007, na verdade o dado da variação da RMCR é referente a novembro de 2006. Isso porque os efeitos de transmissão de uma margem maior não são instantâneos: é preciso um tempo para que o produtor assimile a melhora nos resultados, invista na produção e as vacas efetivamente passem a produzir mais.

A correlação entre os dados não é nada desprezível: 0,66, o que indica uma correlação forte. Dessa forma, pode-se dizer que 66% da variação na captação de leite está correlacionada à variação da RMCR, enquanto os outros 34% possuem outras variáveis explicativas (clima, renda, demanda e outros). Logo, a utilização da RMCR pode não indicar perfeitamente a variação da oferta, mas é uma ótima e simples ferramenta para se utilizar como estimativa.

Segundo nossas projeções de preços pagos ao produtor e custos de insumos, a RMCR deve apresentar um segundo semestre pior do que foi o primeiro, em relação a 2014. Dessa forma, a captação também deve ser prejudicada: enquanto no primeiro semestre houve queda de 1,8%, estimamos que, para esse segundo semestre, tal ritmo se acelere e haja uma queda de 3,4%, fazendo com que, no agregado do ano, a captação de leite caia 2,6%. Segundo os dados de captação de leite do IBGE, disponíveis a partir de 1997, nunca houve uma queda da captação na série de dados. Nos dados referentes à produção de leite, a última queda foi em 1993, 22 anos atrás.

Essa queda pode ser maior ainda: nas premissas, não levamos em conta a redução da produção de leite na região Sul, que sofreu com fortes chuvas no período em que a oferta atinge seu pico anual. Dessa forma, há uma probabilidade não desprezível de que a captação de leite recue 3% ou mais em 2015.



Quer receber as notícias do MilkPoint via whatsapp? É muito fácil! Clique aqui e cadastre-se.

CARLOS EDUARDO PULLIS VENTURINI

Economista formado pela ESALQ/USP; Coordenador de Conteúdo do MilkPoint Mercado

3

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

LEODOLFO ALVES DO NASCIMENTO FILHO

GOIÂNIA - GOIÁS - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 16/10/2015

Parabéns. Claríssima a leitura do gráfico 4.
PAULO MAURICIO B BASTO DA SILVA

CASTRO - PARANÁ - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 15/10/2015

O artigo é interessante, porém devemos lembrar que a captação de leite cai nos períodos indicados (é normal). Ainda não parece ser conclusivo que a queda da captação é uma simples consequência da queda do RCMR. A queda RCMR acompanha a queda da captação, mas pode ser também pela alta de insumos nos períodos em questão. Acredito que o preço de leite é afetado diretamente pelo crescimento da economia e a demanda para produtos de laticínios possui uma demanda relativamente elástica, ou seja, economia sobe, a demanda sobe, economia cai, a demanda cai e, aí, os preços caem e o preço de leite é forçado para baixo, ou seja o RCMR tende a cair.
FERNANDO FERREIRA PINHEIRO

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL

EM 14/10/2015

Excelente artigo!!

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures