O ano de 2008 se encerrou com muitas incertezas quanto às previsões para o mercado lácteo em 2009. De forma geral, todo o mercado está abalado, consequência dessa crise financeira que, a princípio, atingia as grandes potências, mas que já chega aos países emergentes, afetando também o Brasil.
Os preços, tanto internos quanto no mercado global, tiveram quedas expressivas no segundo semestre de 2008. No final do ano, a tonelada do leite em pó integral era vendida a valores até menores que US$ 2.000 na Europa e Oceania. Nos leilões online realizados pela Fonterra, a queda de preços também se acentuou, sendo que desde o primeiro leilão, em julho, os preços para leite em pó integral caíram de US$ 4.330/t para US$ 2.223/t em 3 de dezembro.
No último relatório semestral divulgado pelo USDA, as análises indicaram que os compradores enfrentam incertezas quanto às condições do mercado doméstico e tem cortado drasticamente as importações, com compras pontuais para suprir as necessidades imediatas. Consequentemente, é provável que os preços permaneçam fracos até que sinais visíveis de recuperação econômica sejam vistos, segundo o relatório.
O cenário de crise financeira também assola as indústrias lácteas. A falta de crédito é uma grande preocupação, já que sem crédito fica mais difícil estocar produto e escoar a produção. Outro ponto é a desvalorização do barril do petróleo, uma vez que os maiores compradores de lácteos são exportadores de petróleo (nesse caso do Brasil, principalmente a Venezuela). Mesmo com a desvalorização do real frente ao dólar, as vendas ao exterior não são interessantes (embora sejam necessárias), já que os preços internacionais encontram-se muito baixos, sendo muitas vezes mais rentável vender no mercado interno.
Gráfico 1. Evolução dos preços de exportação do leite em pó integral no Oeste da Europa e na Oceania, em dólares por tonelada.
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Um outro fato que traz preocupação não só para o Brasil, mas para todo o mercado lácteo, é a retomada dos subsídios à exportação pela União Européia. Mesmo a gigante Fonterra está alerta sobre as consequências dessa intervenção.
No mercado interno, os preços parecem ter estabilizado em dezembro, e essa é a aposta da maioria dos agentes consultados pela Equipe MilkPoint para os próximos dois meses (janeiro e fevereiro). De acordo com o Cepea-Esalq/USP, em dezembro o preço ao produtor (média nacional), manteve-se estável, a R$ 0,5908/litro.
Série de preços médios pagos ao produtor (média de RS, SC, PR, SP, MG, GO e BA).
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Agentes do setor consultados pela Equipe MilkPoint acreditam que os preços se mantenham estáveis até fevereiro, com valores próximos de R$ 0,55 a R$ 0,60 por litro ao produtor. As indústrias estão trabalhando com certa ociosidade, particularmente na produção de leite longa vida, o que indica que a produção está de acordo com a demanda pelo produto, sem formação de grandes estoques. O mercado de queijos também estaria sem estoques altos, com preços estáveis desde o final do ano.
Ainda não se sabe qual será o efeito sobre a produção leiteira causado pela forte estiagem que afeta os estados do Paraná e, mais intensamente, o Rio Grande do Sul. De outro lado, as chuvas intensas castigaram regiões de Minas Gerais. Um fato é certo: com o aumento dos custos de produção e a queda de preços verificada durante o segundo semestre de 2008, os produtores de todas as regiões estão freando a produção, seja com cortes na suplementação alimentar, na diminuição dos investimentos, redução do número de ordenhas e até no envio de vacas para o abate.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) iniciou a realização de leilões quinzenais de Pep (Prêmio de Escoamento de Produto), com o objetivo de reduzir o excedente do produto no mercado, permitir o escoamento da produção para regiões deficitárias e melhorar os preços para os produtores. No primeiro leilão de Pep de leite, realizado no dia 13, foram vendidas 38 mil toneladas do produto (sendo que foram ofertadas 200 mil toneladas). As lideranças do setor consideraram que o preço mínimo de referência para efeito de comprovação está abaixo dos custos, afirmando que é preciso usar o preço mínimo atual nas ofertas.
Neste cenário, o mercado de leite para 2009 mostra-se instável, muito dependente dos preços internacionais e das mudanças no panorama econômico. Mas o setor de alimentos não deve ser o mais afetado - as pessoas precisam consumir e, para manter esse consumo, deverão cortar outros gastos, principalmente com bens duráveis. Otimistas, esperamos que o pior, para o nosso setor, já tenha passado.
E você, acredita em qual cenário para os próximos dois meses? Participe, manifestando sua opinião através do box de cartas abaixo.