O que é oligopsônio? É comum escutarmos falar em monopólio, definido como um único indivíduo, seja ele pessoa ou empresa, que detém o fornecimento de um produto ou serviço. Na mesma forma, quando são poucos fornecedores, chamamos de oligopólio (oligo = poucos). A partir destas informações, podemos dizer que o oligopsônio se traduz na situação contrária ao oligopólio, ou seja, poucos COMPRADORES de produtos ou serviços.
Neste artigo, Scalco e Braga, analisam a probabilidade das indústrias de laticínios terem o controle do preço do leite pago ao produtor; e comprovar a hipótese de que as indústrias tem poder para definir o preço do leite.
A pesquisa considerou dados do período compreendido entre janeiro de 1997 até dezembro de 2011, com informações de 15 mesorregiões dos estados que detém o maior volume de produção de leite – localizados no sul, sudeste e centro-oeste – conforme pode ser visto na abaixo.
Figura: Distribuição espacial das 15 mesorregiões selecionadas
Fonte: Dados da pesquisa
A coleta de dados foi resultado de um compilado de informações do IBGE (para número de animais e produção de leite); IPEA (preço de concentrado e da arroba do boi em pé); CEPEA (preço do leite pago ao produtor e preço dos produtos lácteos no atacado); Banco Central do Brasil (taxa de câmbio e cálculo do poder de compra do consumidor); IPEADATA (salário) e ANEEL (preço da energia elétrica).
Resultados:
Foi identificada a relação entre a distância compreendida entre os produtores de leite e a fábrica de laticínios, mostrando que o preço do frete tem forte relação com o número de empresas que o produtor pode negociar seu produto. Devido ao fator proximidade e para padronização das amostras, este trabalho, considerou que os produtores de cada mesorregião só forneciam leite para as empresas que atuavam naquele local, não tendo relação com as mesorregiões adjacentes.
A pesquisa ainda revela que, na amostra estudada, não houve relações estatisticamente comprovadas da existência de mono ou oligopsônio em quase todas das regiões brasileiras estudadas e, quando houve evidências de distorções de mercado causadas pelo oligopsônio, esta era pequena. Resultados diferentes foram reportados em trabalhos de alguns países europeus como Ucrânia e Hungria.
Segundo os pesquisadores, apesar da possibilidade do mercado de leite cru ser concentrado e os laticínios deterem o poder nesta parte da cadeia produtiva, os resultados levam a crer na existência de mercados extremamente dinâmicos de concorrência perfeita ou quase. Em outras palavras: há quantidades suficientes de produtores e laticínios para que o preço seja definido pelo mercado em si, sem distorções.
Há inclusive, outros fatores além da relação produtor/indústria, que justificam o resultado anterior. Alguns pesquisadores citados no texto, trabalhando com a formação do preço do leite, concluíram que o preço no mercado internacional tem impactos diretos nos valores recebidos pelo leite cru no Brasil. Esta variável, por ser um fator externo sem controle nacional, dificulta o tabelamento de preços.
Os autores ainda consideram o mercado informal de leite - seja pela venda do leite cru ou derivados - outro obstáculo para o controle do preço pois são concorrentes na captação de matéria-prima.
Em suma, o trabalho conclui que não houve evidências estatisticamente confiáveis de que exista formação de monopsônio ou oligopsônio nas mesorregiões estudadas e, caso haja, estes não têm poder para influenciar os preços pagos ao produtor de leite.
Esta informação é importante, pois contradiz diversos outros trabalhos, inclusive alguns de caráter governamental, que serviram de embasamento para a formação de políticas públicas.
Por fim, é necessário enfatizar o fato de que este trabalho contempla apenas 15 mesoregiões brasileiras e, assim sendo, pode não refletir a realidade em outras áreas do país. Além disso, esta pesquisa considera apenas a relação produtor/indústria, ou seja, não foi incorporada a influência dos outros fatores - como o papel do mercado varejista - da cadeia produtiva do leite que podem ter parcela de responsabilidade nesta questão.
Os dados são do IFAMA, adaptados pela Equipe MilkPoint Brasil.
Para ter acesso ao artigo completo (em inglês) CLIQUE AQUI. (http://visitor.benchmarkemail.com/c/l?u=3655166&e=47BB65&c=14FE9&t=0&l=66ABDE1&email=ohEPWtdsW8vbmFwdsQlGH3eXQbHCf1oR)
Referência bibliográfica:
SCALCO, P. R.; BRAGA M. J. Measuring the Degree of Oligoposony Power in the Brazilian Raw Milk Market . IFAMA. Vol. 17 (2), 2014.
