Produtores de leite da Califórnia testarão novo sistema para transformar esterco em energia

Há uma década ou mais, dúzias de produtores de leite da Califórnia construíram sistemas multimilionários chamados de digestores de metano que convertem esterco em energia. Contudo, problemas inesperados de poluição, barreiras referentes à regulamentação e baixas taxas de retorno fecharam a maioria desses sistemas, deixando apenas alguns em operação. Tudo isso pode estar mudando, à medida que companhias de energia renovável desenvolvem novas formas de uso dos digestores para aumentar os lucros.

Publicado por: MilkPoint

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As 1.200 vacas leiteiras de Ron Koetsier produzem aproximadamente 90 toneladas de esterco por dia e, nas últimas três décadas, ele tentou sem sucesso transformar isso em energia para usar em sua fazenda de 182 hectares em Visalia, Califórnia.

Ele instalou um sistema de energia renovável de quase US$ 1 milhão em 1985 que usava o metano do esterco para gerar eletricidade em sua fazenda. Em 2002, ele substituiu esse sistema por uma tecnologia mais nova, mas ficou com um problema quando os padrões de qualidade do ar pediram por reajustes caros para reduzir a poluição. Ele, então, acabou fechando o sistema em 2009.

Em poucas semanas, entretanto, os esforços de energia renovável de Koetsier serão reiniciados à medida que uma nova companhia substitui seu atual sistema por um que deverá satisfazer os rígidos padrões de qualidade do ar na região altamente poluída de San Joaquin Valley.

Há uma década ou mais, dúzias de produtores de leite da Califórnia construíram sistemas multimilionários chamados de digestores de metano que convertem esterco em energia. Então, problemas inesperados de poluição, barreiras referentes à regulamentação e baixas taxas de retorno fecharam a maioria desses sistemas, deixando apenas alguns em operação.

Tudo isso pode estar mudando, à medida que companhias de energia renovável desenvolvem novas formas de uso dos digestores para aumentar os lucros. Elas estão melhorando a tecnologia para cumprir as rígidas leis de poluição. Ao mesmo tempo, o Estado está experimentando um processo de licenciamento simplificado que ajuda a remover os obstáculos de regulamentação que são caros.

Koetsier será o primeiro produtor de leite a instalar um digestor sob o programa do Estado. Ele disse que está otimista de que esse sistema – que é sua terceira tentativa de fazer funcionar – finalmente terá êxito. Após ouvir sobre a tecnologia e outros avanços, ele decidiu “dar outra chance”.

Oficiais do Estado estão pressionando pela redução nas emissões dos gases de efeito estufa e isso está levando as pessoas a buscar mais fontes de energia renovável. Especialistas disseram que os digestores são uma grande promessa na Califórnia, o maior Estado produtor de leite dos Estados Unidos, com 1,8 milhão de vacas.

“Se os digestores funcionarem adequadamente, podem reduzir os odores associados com o esterco, estabilizar o nitrogênio e ter uma série de benefícios ambientais”, disse o conselheiro sobre mudança climática da Agência de Proteção Ambiental da Califórnia, John Blue.

Uma companhia de energia renovável da Califórnia, a CH4 Power Inc., disse que planeja construir mais de 40 sistemas de digestores no próximo ano. A empresa deverá começar a construir seu primeiro digestor na fazenda leiteira de Koetsier nas próximas semanas. Outras firmas deverão vir em seguida.

O desafio, entretanto, poderá ser tentar persuadir os cansados produtores de leite a dar outra chance aos digestores, especialmente depois de alguns anos difíceis na indústria leiteira.

Os produtores de leite têm uma grande quantidade de esterco para converter em energia. Uma vaca típica produz cerca de 68 quilos de esterco por dia. Isso apresenta um contínuo desafio para descartar os resíduos e controlar o metano – um gás de efeito estufa – produzido pelo esterco em decomposição.

Os digestores pareciam ser a solução perfeita há alguns anos. O esterco é colocado no digestor, que extrai o metano do material orgânico em decomposição, remove as impurezas e o queima para produzir energia. Porém, muitos produtores entraram em conflito com as normas de poluição do ar, porque seus geradores emitiram oxido de nitrogênio, ou NOx, um componente da poluição. Digestores readaptados com conversores catalíticos eram caros, custando cerca de US$ 150.000, e colocavam pressão adicional nos motores, o que fazia o sistema funcionar.

A atual geração de digestores tem uma tecnologia melhorada que deve aliviar essa preocupação, disseram especialistas. Com esses avanços em mente, oficiais estão tentando dar o pontapé inicial em novos projetos, voltando-se a um programa de permissão consolidado nos livros desde o meio dos anos noventa, mas nunca usado. Foi necessária a colaboração do Departamento de Alimentos e Agricultura do Estado, Agência de Proteção Ambiental da Califórnia (Cal/EPA) e de conselhos locais de qualidade do ar e da água para descobrir como permitir os novos digestores. A meta é envolver todas as várias agências de permissão no começo do processo para garantir que não haja surpresas mais tarde, disse Blue.

O presidente da CH4 Power, Ray Brewer, disse que Koetsier apoiou o conceito do digestor com a promessa de uma forma nova e potencialmente com risco menor: em vez de Koetsier executar a operação, a CH4 arrendará a terra onde o sistema será instalado e comprará o esterco de Koetsier. Os técnicos da CH4 serão capazes de monitorar o sistema remotamente e estarão prontamente disponíveis se houver problemas, disse Brewer.

Brewer disse que testou seu sistema em outros estados, como Wisconsin e Idaho, antes de negociá-lo com os produtores de leite da Califórnia, que, segundo ele, estavam muito resistentes. Ele, afinal, assinou seu primeiro contrato com Koetsier, que também estava apreensivo.

O modelo de negócios de Brewer, em que os produtores arrendam sua terra e vendem o esterco de seus animais para operadores terceiros, parecia uma aposta pouco financeira, disse Koetsier. É um modelo com o qual os produtores de leite estarão mais confiáveis, disseram especialistas. Dessa forma, um operador de leite pode focar na produção de leite, e não em fazer funcionar uma pequena planta de geração de energia. “Existem muitos produtores de leite que investiram no projeto e se viram querendo entrar no setor de energia”, disse a diretora de políticas do Conservation California, um grupo ambiental de San Francisco, Stacey Sullivan. “Houve poucas pessoas que administraram isso para que funcionasse”. Ela disse que a tecnologia avançou para suprir os padrões de qualidade do ar e da água, mas a peça que falta no quebra-cabeça é se o sistema será economicamente favorável aos produtores.

Outros, entretanto, estão céticos e esperando para ver como a CH4 Power vai se sair. O presidente da RCM International Inc., Mark Moser, parou de instalar digestores na Califórnia há quatro anos. Moser disse que o maior obstáculo não era o preço pago pela energia produzida – mas sim, as regulamentações ambientais do Estado. Ele disse que da última vez que instalou um digestor na Califórnia, levou 18 meses para ter a permissão. Na Pensilvânia, onde ele também instalou suas máquinas, demorou três meses. “As normas sobre o ar são impossíveis”, disse ele.

Há cerca de 10 anos, havia muitos digestores na Califórnia. Agora, existem apenas 11, e seis deles são de Moser. Ele vem desde então mudando sua equipe e sua produção para fora do Estado.

Não está claro se a aposta da CH4 funcionará, mas observadores, como Blue, estão prestando bastante atenção. “Eu suspeito de que se pudermos ter um projeto através desse processo com sucesso, então teremos outros mais. Todos querem ser o segundo da fila com esse tipo de coisa”.

A reportagem é do Los Angeles Times, traduzida e adaptada pela Equipe MilkPoint.
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Valdinei
VALDINEI

QUATIGUÁ - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 17/06/2013

Caros, boa noite

Parabéns pela reportagem, pois mostra que nossos "vizinhos" tem muito a nos mostrar. Aqui temos geradores de energia advindo de criadores e produtores de leite? Sei que aqui no Paraná, temos alguns suinocultores com projetos em funcionamento, ao produtor de leite há viabilidade para geração energia ou somente para destinação do esterco e forma de bio fertilizante? Voces tem alguma matéria sobre o assunto?

Grato

Valdinei
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