Portugal: Menos 54 mil produtores de leite em 22 anos de quotas
A nove dias do fim das quotas leiteiras, os preços vão diminuir no que concerne à produção, mas o consumidor final não será afetado. O setor receia que este seja o fim de mais propriedades em Portugal.[...]
Publicado por: MilkPoint
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Durante 22 anos, a produção de leite na Europa foi regulada por um sistema de quotas, que equilibrava a produção de cada país. A partir de 1 de abril, esse sistema desaparece, e o que vai imperar é a competitividade.
Para os produtores portugueses, "não vai ser bom. Alguns países já ultrapassaram as quotas e, com isso, os preços para os produtores já estão a descer desde outubro de 2014, 8 a 10 centavos", afirma José Oliveira, presidente da Associação de Produtores de Leite e Carne (LEICAR).
A Federação das Cooperativas de Leite e Laticínios (FENALAC) também não espera grandes dias. "Portugal trabalhou sempre para o mercado interno e, dadas as condições, não conseguimos preços apetecíveis para o exterior. Por outro lado, os países do norte da Europa, grandes produtores, e também a Polónia, com potencial, quiseram sempre o fim das quotas, que sentiam como um colete de forças".
Para Fernando Cardoso, secretário-geral da FENALAC, é possível que se venha a assistir ao fim de mais fazendas em Portugal. Em 22 anos de quotas, Portugal perdeu 54 mil produtores, mas conseguiu aumentar a sua produção, e em termos globais é autossuficiente no leite.
A Associação dos Industriais de Laticínios acredita que "em dois a três anos a produção passe para o norte da Europa e países bálticos, e os países do sul serão tendencialmente prejudicados".
Paulo Leite, diretor-geral da ANIl, faz também referência à descida de preços, frisando que "os preços dos produtos referência, leite em pó magro e manteiga já em 2014 desceram 40%". Também não são boas as perspetivas para a indústria, que não tem por objetivo importar leite. Por outro lado, sendo Portugal um país aberto, "as marcas de distribuição irão comprar produtos lácteos a preços completamente desfasados da realidade local".
Mais produção de leite poderia significar descida de preços dos produtos lácteos para o consumidor final. Mas nenhum dos responsáveis do setor acredita que tal venha a acontecer. Paulo Leite lembra que "o queijo tem um preço semelhante há 15 anos. A cadeia de valores está desfasada, o leite custa em Portugal, ao consumidor 57 centavos, e na Espanha 90 centavos, sendo que o IVA é de 4% e aqui 6%. Mas, os preços à produção são semelhantes".
Fernando Cardoso também afirma que "o consumidor final não será beneficiado. A produção está no limiar da sustentabilidade, e o leite em Portugal tem um dos preços mais baixos da Europa para o consumidor, na Alemanha custa o dobro e nos outros é um pouco mais".
José Oliveira não admite a baixa de preços para o consumidor, mas sim para os produtores. "Nenhum produtor da UE vai ficar bem".
Embargo à Rússia com impactos
Os produtores de leite nacionais, representados pela Leicar, já "sentiram o que poderão ser os efeitos do fim das quotas do leite com o embargo à Rússia", afirmou José Oliveira, da LEICAR. "Os grandes países europeus que exportavam muito para a Rússia não o podem fazer e o excedente acaba por ser exportado para os países da União Europeia, situação que fez baixar o preço à produção". Fernando Cardoso, da FENALAC, apontou a situação quase como um ensaio: "O embargo à Rússia baixou imenso os preços, muitas explorações estão no limiar da sustentabilidade", admitindo que agora desapareçam as explorações de média e grande dimensão e de jovens agricultores.
A matéria é do Jornal Dinheiro Vivo/Portugal.
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