Patógenos comuns no colostro e no leite, como Escherichia coli, Listeria monocytogenes, Mycoplasma, Salmonella, Streptococcus, Staphylococcus, Campylobacter e Mycobacterium avium (MAP - paratuberculose ou Doença de Johne) podem ser transmitidos quando se alimenta os bezerros. Para reduzir a carga bacteriana, muitas fazendas leiteiras pasteurizam com sucesso o colostro e o leite de descarte. Existem algumas fazendas leiteiras que estão usando um tratamento de luz ultravioleta (UV) como uma alternativa à pasteurização. Entretanto, até recentemente, tem havido poucas evidências que apoiam o uso de luz UV com o leite.
O tratamento com luz UV é usado rotineiramente para água de consumo globalmente e na indústria de processamento de alimentos para itens como suco. A luz UV inativa as bactérias afetando o DNA e prevenindo que essas se reproduzam. Entretanto, a efetividade da luz UV para inativar bactérias é influenciada pelo tipo e número de bactérias presentes, quantidade de luz UV usada e teor de sólidos presente no líquido. É interessante notar que a luz UV está começando a ser usada para tratar leite humano de bancos para reduzir as bactérias vegetativas em 100.000 vezes para cumprir com os requerimentos dos bancos de leite. Doses maiores de luz UV são necessárias quando o teor de sólidos do leite humano aumenta. O problema do teor de sólidos pode ser uma preocupação quando se trata o colostro versus o leite de descarte na fazenda.
Pesquisadores da Universidade de Cornell usaram um sistema de tratamento com luz UV similar ao comercialmente disponível UV Pure (GEA Farm Technologies) e trataram leite integral e colostro que foram inoculados com vários tipos de bactérias (Listeria innocua, Mycobacterim smegmatis, Salmonella, E. coli, Staphylococcus aureus, Steptococcus agalactiae e Acinetobacter baumannii). Eles descobriram que o tratamento com luz UV reduziu de forma significativa (~1.000 vezes) todas as espécies de bactérias testadas, exceto M. Smegmatis (um substituto para o patogênico MAP) no leite. Em contraste, o tratamento com luz UV do colostro somente reduziu a quantidade de Listeria, Salmonella e A. baumannii em cerca de 10 vezes, mesmo quando o colostro foi exposto a mais ciclos de radiação UV. A luz UV é limitada em sua capacidade de penetrar no líquido por causa do alto teor de sólidos do colostro (~6,7% e gordura, 14% de proteína) com relação ao leite (4% de gordura, 3,1% de proteína). O tratamento com luz UV reduziu a concentração de IgG no colostro em até 50% na proporção com o tempo de tratamento. Em outro estudo, a IgG caiu em até 42% com o tratamento UV em comparação com colostros não tratados.
Pesquisadores da Penn State avaliaram o sistema UV Pure para leite de descarte em nove fazendas leiteiras da Pensilvânia e descobriram que o tratamento com luz UV foi efetivo para alguns, mas não para todos os tipos de bactérias encontradas no leite de descarte. No geral, as bactérias foram reduzidas em aproximadamente 10 a 100 vezes. Coliformes, Streptococcus agalactiae, Staphylocuccus aureus, environmental streptococci e streptococci contagiosa foram reduzidas em mais de 50%. Pesquisas do Reino Unido mostraram que a MAP é mais resistente à luz UV (isto é, redução de menos de 10 vezes) do que outras bactérias encontradas no leite, sugerindo que a luz UV não é uma alternativa viável à pasteurização para reduções na MAP.
Um estudo recente usou o sistema UV Pure para tratar leite de descarte em fazendas leiteiras e descobriu reduções significativas (10 a 1000 vezes) nas contagens bacterianas de E. coli, Staphilococcus aureus e Streptococcus sp. No mesmo estudo, o leite de descarte foi pasteurizado a 162oF (72,22oC) por 15 segundos e reduziu a contagem bacteriana em 10 a 100.000 vezes. Os pesquisadores concluíram que, no geral, o tratamento térmico do leite de descarte foi mais efetivo do que o tratamento com UV na redução da contagem bacteriana. Além disso, o colostro que foi pasteurizado a 145oF (62,78oC) por 60 minutos teve reduções maiores nas contagens bacterianas do que o colostro que foi tratado com luz UV. É interessante notar que o colostro que foi tratado ou com calor, ou com UV, tiveram menores concentrações de IgG do que o colostro não tratado. Entretanto, não houve diferenças nas concentrações séricas de IgG entre as bezerras que receberam o colostro tratado de forma diferente.
A reportagem é do Dairy Herd Management, traduzida e adaptada pela Equipe MilkPoint Brasil.
