O portal MilkPoint Portugal buscou depoimentos de agentes relevantes do setor leiteiro do país, para melhor ilustrar como é encarada a situação do outro lado do oceano Atlântico.
No artigo, publicado originalmente aqui, os participantes demonstram diversos pontos de vista sobre a preocupação com os novos rumos da produção europeia no período pós-cotas.
As duas questões colocadas foram:
1. Do seu ponto de vista como será encarada esta nova realidade da Europa sem cotas?
2. Que adversidades VS oportunidades são previstas com o fim das cotas leiteiras?
Carlos Neves, presidente da APROLEP
1) "Com expectativa, frente a um futuro mais instável, mais dinâmico, mas que não tem necessariamente de ser pior que a situação atual. Ocupado sim, preocupado e com medo não, porque o medo paralisa a nossa capacidade de agir".
2) "Adversidades possíveis: excesso de produção na europa, risco de importação de sobras de outros mercados melhor defendidos que o mercado português
Oportunidades: exportação de produtos de valor agregado para mercados diversificados; melhoria na eficiência da gestão ao longo da cadeia para conseguir passar maior percentagem de margem para o produtor".
Leite – Um setor estratégico da economia regional que deve ser protegido
“A agricultura é a principal atividade dos Açores, onde a cadeia do leite tem uma importância decisiva, já que representa cerca de 70% do setor agrícola regional, sendo responsável por 33% da produção nacional e cerca de 85% dos produtos resultantes da transformação do leite são exportados, tendo desta forma, uma contribuição decisiva para a balança comercial regional.
Atendendo a esta importância da cadeia do leite, as alterações regionais, nacionais e internacionais, que ocorrem neste setor, repercutem-se diretamente na economia regional, por isso, a recente tendência da baixa do preço do leite que teve origem em decisões políticas da União Europeia e dos Estados Unidos da América de aplicar um embargo à Rússia, teve consequências negativas na economia real e em particular, nos produtores de leite e foi já um indício do que poderá ser a abolição do sistema de quotas leiteiras.
Nestes contextos, as indústrias devem ter um papel ativo na salvaguarda dos seus produtores e embora algumas estejam a ter um comportamento adequado, outras estão a limitar a produção, nomeadamente a Bel, tentando junto dos produtores, um aditamento ao contrato, que poderá descer o preço de leite em mais 1 centavo por litro de leite aos produtores que ultrapassem a produção do seu histórico dos últimos dois anos.
São situações destas que podem estrangular a cadeia do leite porque este decréscimo, associado às descidas de 4 centavos por litro nos últimos 4 meses, pode significar menos sete a oito milhões de euros na receita da lavoura, já que está em causa mais de 10 milhões de litros de leite e também irá penalizar no prêmio aos produtores de leite (Posei), devido à limitação da produção imposta unilateralmente.
A indústria deve transformar a qualidade do leite açoriano em produtos de valor agregado, e quando se registram excedentes de produção, devem recorrer à secagem da matéria-prima (leite em pó). Estas são formas simples da indústria resolver uma situação, sem penalizar demasiadamente a produção.
Temos insistido na criação de um observatório do leite, por ser esta uma forma de todos os membros da cadeia poderem reunir-se periodicamente e acompanhar a evolução dos mercados do leite e laticínios e também, analisar e propor soluções para o setor na região.
Para fazer face à abolição das quotas leiteiras e às consequências nefastas que esta situação origina na região, uma vez que não existem alternativas viáveis a esta cadeia, a União Europeia deve encontrar soluções específicas para as regiões ultraperiféricas além dos instrumentos financeiros existentes (Posei e Prorural+) e das medidas criadas com o objetivo de proteger o setor leiteiro europeu.
Deve também ser implementado um mecanismo que defina um preço mínimo por litro leite, que preveja compensações para os produtores, sempre que o preço seja inferior a um patamar previamente estabelecido, devendo-se estabelecer critérios capazes de reconhecer as diferentes realidades das regiões europeias, nomeadamente, uma região ultraperiférica, como os Açores, que é um caso específico e particular.
O Governo dos Açores terá sempre de participar ativamente na defesa dos produtores de leite, através da criação de medidas, que sejam capazes de continuar a reestruturar o setor e permitam melhorar as suas eficiências, promovendo e apoiando também, a criação de um lobby em Bruxelas.
O futuro dos Açores passa por uma Agricultura forte e capaz de enfrentar os desafios que se adivinham, por isso, a cadeia do leite, como setor estratégico da economia regional, deve ser protegido e encarado por todos os intervenientes da sociedade, desde o Governo Regional, da República, aos deputados ao parlamento europeu e à República, às organizações de produtores, à indústria ou à distribuição, como uma prioridade, pelo que se exige, o seu maior empenho e a defesa intransigente dos produtores de leite”.
Testemunho dado durante a entrevista anteriormente publicada no MilkPoint, "Casal de Quintanelas: A entrevista", em que indica que um dos objetivos da filosofia genética adotada na exploração é fazer face aos desafios do mercado pós-cotas.
Drª Ana Claudia Sá, Diretora Geral da Bel Portugal
Testemunho dado na entrevista anteriormente publicada "O que podemos esperar do " Programa Leite de Vacas Felizes" da Bel?"
MP Portugal: Enquanto Indústria, como é que a BEL encara o cenário do fim das quotas leiteiras na UE, e em especial no nosso mercado?
Ana Cláudia: "Provavelmente vamos ver uma situação de maior oferta do que procura, que poderá forçar alguma flutuação de preços. Estaremos atentos e confiamos na diferenciação das nossas marcas. O Programa Leite de Vacas Felizes é já uma resposta à liberalização dos mercados, estamos apostando na diferenciação das nossas marcas e superiorização do nosso leite – um leite distinto, de alta qualidade, que tem tanto de nutritivo como de saboroso".
Equipe MilkPoint Portugal, adaptado pela Equipe MilkPoint Brasil.