Entre janeiro em setembro, as vendas globais alcançaram 65,5 bilhões de francos suíços (US$ 66,1 bilhões), numa alta de 3,3% que representa o mais fraco resultado em mais de uma década. A Nestlé reduziu suas ambições para 2016. O crescimento orgânico (sem aquisições) de 4,2% para este ano foi reajustado para 3,5%, em meio à persistente demanda reprimida, deflação em países industrializados e inflação em certos emergentes. A empresa diz que, em todo caso, conseguiu ganhar ou aumentar fatias de mercado em 60% de seus negócios no mundo.
A Nestlé continua a priorizar aumento de volume, mas o resultado do terceiro trimestre mostra que as condições são duras para a indústria alimentar como um todo, observam analistas. Ainda assim, a Nestlé supera os concorrentes. No Brasil, a companhia aumentou os preços de maneira importante em junho para compensar a pressão com a desvalorização do real, e isso teve impacto no curto prazo sobre o volume, disse François-Xavier Roger, CFO (chief financial officer) da Nestlé. Dessa forma, o faturamento cresceu mais do que o volume vendido, levando a companhia a dizer que o modelo de crescimento mudou.
A Nestlé informou ainda que o crescimento no Brasil "está resiliente, embora afetado pelo aumento necessário dos preços, particularmente em produtos lácteos e de confeitaria". Bulcke adota um tom cauteloso sobre o Brasil, um dos maiores mercados da companhia. "O Brasil passa uma fase de turbulência política e a economia foi um pouco sacrificada", afirmou. Indagado se considerava que o governo de Michel Temer tomou o rumo correto, Bulcke respondeu: "Não sei. Ainda há muitas tensões, elas não acabaram". Acrescentou que "há inflação, um pouco de recessão. É uma pena, porque todo mundo sabe que o Brasil agora tem que pagar um preço, e é o que está acontecendo".
O executivo acompanha o debate sobre como o governo quer tornar o país de novo competitivo "e economicamente viável", e "esperamos que possamos continuar investindo". Lembrou que a Nestlé tem muitas fábricas no país, novas tecnologias estão sendo adotadas, e que a unidade industrial da marca de café Dolce Gusto, a última inaugurada no país, talvez necessite de uma nova linha de produção, assim como há possibilidade de mais exportações. "Eu não diria que a economia continua contraindo, e nós não estamos contraindo", acrescentou.
De seu lado, François-Xavier Roger, CFO (chief financial officer), estima que em setembro as vendas voltaram "a uma situação mais ou menos normal no Brasil", mas que "há incertezas, muita volatilidade de mês a mês, de um trimestre para outro". Para Roger, a Nestlé consegue resistir, mas precisa continuar sendo prudente porque "há muita incerteza econômica, não se pode esquecer que o Brasil passou a sua pior crise dos últimos tempos".
Para Bulcke, uma vantagem da Nestlé é o fato de ter as pessoas certas no mercado brasileiro, que entendem bem a situação local. Uma boa notícia é a solução para a fusão da Nestlé e da Garoto. "Enfim parece que chegamos a um resultado", exclamou Bulcke, após 14 anos de impasse "lamentável". Segundo o executivo, a Nestlé venderá algumas marcas. "Ok, é o preço a pagar. Isso nos permite realmente ir adiante. É um bom sinal para o futuro". Nos emergentes, a grande preocupação é mesmo a China. As vendas de bebidas estagnaram.
Uma nova legislação sobre alimentos exigirá mais adaptações no modelo de negócios. Indagado sobre quanto tempo acha que a demanda global continuará deprimida, Bulcke afirmou: "A crise financeira nos atingiu há oito anos e muita gente falou que a recuperação ainda pode durar mais de 10 anos. É o caso. Sair desse ambiente de baixo crescimento vai demorar alguns anos ainda. E tem também a dimensão política, desinflação, endividamento das nações em alta, gastando-¬se dinheiro que ainda não se ganhou". Nesse cenário, a indústria de alimentação "não deve cair na armadilha do curto prazo e salvar o dia", disse Bulcke. Tem que apresentar resultados, mas precisa manter o foco investindo no longo prazo.
As informações são jornal Valor Econômico.