De iniciativa do Sindicato dos Produtores Rurais de São João Batista do Glória (SINDGLÓRIA) e Associação dos Produtores de Leite do Sudoeste de Minas (APROLEITE), o encontro trouxe à região o agrônomo Eduardo de Carvalho Pena, que é o presidente da Comissão Técnica de Pecuária de Leite da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG).
O evento atraiu participantes de 14 municípios regionais. Além do município gloriense, estavam representadas as cidades de Passos, Alpinópolis, Alterosa, Bom Jesus da Penha, Carmo do Rio Claro, Cássia, Delfinópolis, Juruaia, Machado, Nova Resende, Piumhi, Pratápolis e São Sebastião do Paraíso. O deputado estadual Emidinho Madeira e o prefeito de Pratápolis José Eneido Modesto - também presidente da Associação dos Municípios da Região do Médio Rio Grande (AMEG) - participaram das discussões.
Após a abertura do evento pelo presidente do SINDGLÓRIA, Ricardo Godinho, o palestrante Eduardo Pena explanou sobre os cenários internacional e nacional do mercado de leite, e sobre como eles interferem na formação dos preços pagos aos produtores brasileiros. Nos últimos dois meses, foi reduzido drasticamente o valor pago por litro de leite ao produtor, que com custos altos de produção, é quem mais tem as contas no vermelho. Além disso, o produtor só é informado do valor que receberá pelo litro do leite depois que já entregou toda a sua produção ao laticínio.
Ricardo Godinho, presidente do SINDGLÓRIA, deu as boas vindas a mais de 150 participantes da região em evento que discutiu mercado de leite
A retração no consumo brasileiro de lácteos é uma das explicações para a situação recente. “Mas o argumento de que está sobrando leite no mercado nacional não procede. Há um déficit de leite no Brasil, e é por isso que há importação”, esclarece o representante da FAEMG. Mas quando se fala em importação, essa também é uma pedra no sapato do setor produtivo nacional, pois a política cambial favorece uma concorrência internacional desleal e desregrada.
Outro fator que agrava a situação do produtor de leite é a norma IN26/2016, que permite que laticínios na região da SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) façam a reconstituição do leite em pó, o que contribui para o aumento das importações. “A FAEMG tem trabalhado incessantemente junto à Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) para que o Governo Federal suspenda essa normativa e faça o estabelecimento de acordo de cotas de importação, especialmente ao Uruguai”, informou Eduardo Pena.
O representante da FAEMG apresentou ao público regional a proposta de implantação do Conseleite Minas, um conselho paritário entre produtores de leite e representantes da indústria de lácteos para discutir os desafios comuns aos dois elos da cadeia leiteira e, juntos, definir soluções que balizem os preços e contratos de fornecimento do leite.
O Conseleite já existe no Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em Minas Gerais havia uma resistência à criação deste conselho, de acordo com Eduardo Pena. “Mas as conversações com a Ocemg (Organização das Cooperativas de Minas Gerais) e Silemg (Sindicato da Indústria de Laticínios de Minas Gerais), que representam os laticínios, estão avançando. Até o final do mês esperamos uma notícia boa, que é a formação deste conselho que é muito importante para a cadeira produtiva do leite em Minas Gerais”, afirmou Eduardo Pena.
Participaram de uma mesa redonda sobre o tema, além de Eduardo Pena: Marcelo Cassoli, representando a APROLEITE e o SINDGLÓRIA e conduzindo a discussão; o deputado estadual Emidinho Madeira; o presidente da AMEG e prefeito de Pratápolis, José Eneido Modesto; o dirigente cooperativista de Alterosa, Leandro Lino das Graças; e os representantes de laticínios Carlos Zamboni (Mococa) e Gilson Tavares (Casmil). Os laticínios Danone e Vigor, que compram leite da região, não enviaram representantes.
Mesa redonda: da esq. p/ a direita, Gilson Tavares (Casmil), Carlos Zamboni (Mococa), Marcelo Cassoli (APROLEITE), Eduardo Pena (FAEMG), José Eneido Modesto (AMEG), Dep. Estadual Emidinho Madeira e Leandro das Graças (Cooperativa de Alterosa)
Segundo os organizadores do evento, a mesa redonda foi produtiva e possibilitou conhecer as dificuldades de ambos os lados, produtores e indústria. Carlos Zamboni, representante do Laticínio Mococa, apontou a pressão que a indústria também recebe do varejo, que joga os preços do leite e derivados para baixo.
Dentre as ideias discutidas, enfatizou-se a necessidade de maior organização do setor produtivo, e dele com o setor da indústria, para juntos negociarem com as redes varejistas, tarefa que será apoiada pelo Conseleite Minas. A possibilidade de isenção fiscal para os insumos da produção de leite também foi cogitada.
“Fiquei feliz e honrado de falar com produtores rurais, a iniciativa é espetacular. O fato de terem convidado a indústria para participar, e considerando que algumas vieram, contribuiu para a boa vontade de todos em discutir. O público foi excelente e acho que todo mundo aprendeu alguma coisa. Essas reuniões devem sempre acontecer”, avaliou o representante da FAEMG.
Evento sobre mercado de leite, organizado pelo SINDGLÓRIA e APROLEITE, reuniu produtores rurais e lideranças de 14 municípios da região
As informações são da Comissão Organizadora do Evento e da FAEMG.