Presente no país desde 2013, a Lactalis primeiro se concentrou em fincar os alicerces na nova fronteira. Gastou cerca de R$ 2 bilhões em aquisições, conforme cálculos que circulam no mercado, montou uma rede formada por 15 fábricas espalhadas por sete Estados - só não há unidade na região Norte -, passou a contar com mais de 13 mil fornecedores de leite e está na fase final do processo de integração dos diferentes ativos e culturas absorvidos.
Mas, ainda que o ajuste de processos e padrões continue, é hora de estreitar os laços com o consumidor. Nesse sentido, a empresa está lançando uma linha de produtos Président fabricados no Brasil e voltada ao mercado doméstico e se prepara para ampliar os aportes em marketing. Com um portfólio que também inclui duas marcas internacionais (Parmalat e Glabani) e nove nacionais (Balkis, Batavo, BoaNata, Cotochés, DaMatta, DoBon, Elegê, Poços de Caldas e Santa Rosa), a Lactalis sabe que um dos desafios que enfrenta é não perder a identidade em nenhum dos elos da cadeia produtiva.
"A empresa ainda é uma criança no Brasil. Começamos a caminhar, mas ainda não estamos correndo", afirma Patrick Sauvageot, presidente da Lactalis para a América Latina. Ele observa que os investimentos feitos na "fundação" das operações no país, por exemplo, já saltaram aos olhos. A companhia ficou em segundo lugar no ranking de captação da Leite Brasil (entidade que reúne produtores) em 2015, com volume de quase 1,6 bilhão de litros de leite, 12% superior ao do ano anterior.
Mais que isso: com os esforços empreendidos até agora, o Brasil passou a representar cerca de 70% da receita da múlti na América Latina - a região responde por quase 10% das vendas globais, que giram em torno de € 17 bilhões por ano. A Lactalis mantém unidades de produção em 43 países. São 229 no total, com um número de funcionários que se aproxima de 75 mil.
"Mas nossa ambição para o Brasil é muito maior", diz Sauvageot, que tem 56 anos e está radicado no país há dois. No futuro próximo, caberá também a equipe formada por ele liderar a estratégia de expansão do grupo em outros mercados da América do Sul. "Vamos construir uma empresa muito grande na América Latina, com investimentos expressivos", afirmou o executivo.
Mas antes disso a "criança" tem aprender a correr. E é sobre esse crescimento o encontro desta quinta entre o presidente global Jaouen e o governador Sartori. Com os mais de R$ 100 milhões que serão anunciados, a Lactalis vai ampliar as quatro unidades que tem em operação no Rio Grande do Sul e erguer uma nova, focada em proteína de soro. E, segundo Sauvageot, certamente o montante será gasto em bem menos tempo que os oito anos previstos no protocolo de intenções que será assinado.
Paralelamente, afirmou o presidente da Lactalis para a América Latina, os aportes para a melhora da qualidade do leite cru recebido de seus fornecedores no país continuam. Até porque alguns padrões globais do grupo têm de ser respeitados. Na França, por exemplo, a matéria-prima utilizada pela companhia tem, no máximo, 30 mil germes por mililitro, enquanto no Brasil a média supera 500 mil. "Estamos desenvolvendo um trabalho com 1,5 mil produtores da nossa rede de fornecedores para baixar esse nível para menos de 200 mil. Está dando resultados e vamos ampliá- lo", disse.
Ele esclareceu que no processo de industrialização do produto os germes são eliminados, na França ou no Brasil. Mas o que não representa risco para a saúde pode afetar, ainda que minimamente, o sabor dos produtos finais - o que, para uma marca com o status da Président, pode ser bastante prejudicial. E que, muitas vezes, a solução é simples. Como o nível de contaminação no Brasil é alto por causa da água, a instalação de um sistema de purificação com cloro nas fazendas dos fornecedores já resolve boa parte do problema. E um sistema de aquecimento da água é considerado indispensável. Nada do outro mundo, a bem da verdade.
Esse cuidado com o leite, aliado ao apoio técnico para a ampliação da produtividade dos pecuaristas, já tornou viável o lançamento de queijos mussarela, prato, minas frescal e reino com a marca Président no mercado doméstico. Sem contar o requeijão, um produto tipicamente brasileiro que a empresa pretende começar a exportar. A manteiga da marca ainda é importada, mas se tudo der certo os investimentos na tecnologia necessária para iniciar a produção por aqui também serão feitos, disse Sauvageot. "Seguindo esses passos - investimentos na qualidade da matéria-prima, nos padrões das fábricas, na cadeia de fornecedores e na parte comercial e de marketing, construiremos a número um em lácteos no Brasil". Palavra de presidente.
Président: campanha incentiva consumo de queijos do dia a dia produzidos pela marca
As informações são do jornal Valor Econômico.
