Indicações geográficas: movimento da UE ameaça fabricantes de queijos nos EUA

Estudo da Informa Economics (IEG) mostra que Indicações Geográficas (IGs) levariam bilhões da indústria de laticínios dos Estados Unidos, reduziriam o consumo de queijo e aumentariam os preços para os consumidores.

Publicado por: MilkPoint

Publicado em: - 5 minutos de leitura

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Desde 1939, a queijaria de Wisconsin, Sartori, fabrica produtos de alta qualidade usando leite fresco de fazendas próximas. Mas o esforço por parte da União Europeia (UE) de ter a exclusividade no uso nomes como: parmesão, asiago e feta, ameaça o futuro da empresa familiar e outras similares.

De acordo com a análise divulgada recentemente pela IEG (Informa Economics), aceitar as IGs (indicações geográficas) da União Europeia (UE) custaria bilhões de dólares à indústria de laticínios dos EUA, reduziria o consumo de queijos nacionais e aumentaria os preços para os consumidores. A agenda europeia de política agrícola e comercial está focada na utilização de IGs para conceder injustamente, aos produtores de alimentos europeus, uma enorme vantagem comercial. Isto forçaria agricultores e produtores de alimentos de fora da Europa a dar nomes desconhecidos aos alimentos familiares.

A confusão resultante no mercado interno dos Estados Unidos (EUA) poderia fechar as produções familiares, eliminar milhares de empregos rurais e prejudicar a economia geral dos EUA, mostrou a análise.

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Nomes são vitais para os queijos

A questão não é sobre a qualidade. No Global Cheese Awards na Inglaterra, o parmesão clássico da Sartori ganhou uma medalha de ouro. A questão é sobre o controle global da linguagem. "É essencial que mantenhamos a capacidade de chamar de parmesão o produto para os consumidores", diz Blair Wilson, diretor sênior de marketing da Sartori. Parmesão é o produto, cumpre padrão de identidade e elimina confusão, diz ele.

O Global Cheese Awards também homenageou o SarVecchio Parmesão como o "Melhor queijo dos EUA" e o "Melhor queijo não-europeu". “Se a UE tiver êxito, a Sartori teria que chamar suas variedades de parmesão premiadas de outra coisa, como "queijo duro ralado."

A análise econômica de 60 páginas foi encomendado pelo Consórcio de Nomes Comuns de Alimentos (CCFN), uma aliança internacional de empresas e organizações dedicadas a preservar o direito de usar termos alimentares comuns. De acordo com o estudo, os consumidores irão escolher queijos importados com nomes que reconhecem e produtos nacionais com nomes que não reconhecem. Como resultado, a queda da demanda por queijo doméstico iria colocar inúmeros fabricantes de queijo dos EUA - particularmente fabricantes de queijos especiais - fora do negócio.

"A expansão contínua das IGs europeias de maneira a proteger termos considerados, há muito tempo, genéricos, revira todo o conceito de IG", disse Tom Suber, presidente do Conselho de Exportação de Lácteos dos EUA (USDEC), que representa os interesses dos produtores de leite e processadores no comércio mundial e é o fundador da organização CCFN. "Em vez de proteger os nomes de alguns alimentos ligados a áreas específicas, a UE utiliza IGs para eliminar a concorrência a seus produtores."

Efeito dominó negativo por meio da economia dos EUA

Este dano não seria limitado apenas ao setor lácteo. Segundo o estudo, como o impacto sobre os lácteos afeta os setores como transporte e serviços veterinários, a economia dos EUA poderia perder até 175.000 postos de trabalho. Além disso, os consumidores teriam que enfrentar preços mais altos, menos escolhas e confusão nos supermercados quando nomes comuns de queijo fossem substituídos por outros desconhecidos.

"Haverá um enorme custo para nós se não pudermos usar estes nomes comuns (de queijo)", disse Errico Auricchio, dono da Belgioioso Cheese, uma empresa de Wisconsin que simboliza a luta para manter os nomes comuns de queijo.

"Mais de um século atrás, meu bisavô fundou uma empresa de queijo na Itália com base em uma filosofia de excelência", disse Auricchio. "Em 1979, me mudei com minha família para este país com o objetivo de continuar o legado de meu bisavô. Quero criar os melhores queijos italianos nos Estados Unidos. São empresas como a minha que sofrerão muito sob planos totalmente injustificados da Europa para aproveitar o direito de usar nomes comuns de queijo para o uso exclusivo dos fabricantes europeus ".

Auricchio também exerce cargo de presidente da CCNF

Nos preços atuais, a diminuição do consumo de queijo dos EUA, devido à perda de nomes de alimentos comuns, poderia chegar a US$ 2,3 bilhões em vendas perdidas em 3 anos e US$ 5,2 bilhões em 10 anos. Isto poderia empurrar os balancetes da fazendas de leite abaixo do ponto de equilíbrio durante 6 dos 10 próximos anos, custando aos agricultores US$ 59 bilhões em receita acumulada e forçando milhares de fazendas a sair do negócio, diz a análise.

O estudo foi apresentado em conjunto pela CCFN e as três principais associações comerciais norte-americanas de produtos lácteos: o USDEC, a Federação Nacional de Produtores de Leite (NMPF) e a Associação Internacional de Alimentos Lácteos (IDFA).

Declarações de membros do Congresso e aliados da CCFN também foram lançadas.
"O plano da Europa para expandir IGs irá prejudicar os agricultores americanos, fabricantes e consumidores", disse Paul Ryan de Wisconsin, o presidente da Câmara. "Comércio aberto e livre não pode ocorrer com este tipo de sistema de IG. Parmesão, feta, asiago e muitos outros queijos de Wisconsin ganharam aclamação internacional e deveriam ser capazes de competir de forma justa no mercado mundial."

Outro negócio dos EUA ameaçado: Klondike Cheese Company

Feta é outro nome de alimento comum sob ameaça. Ele é fabricado pela Klondike Cheese Company, que produz um queijo feta premiado desde 1988.

"Nós criamos um perfil de sabor excepcional, que foi premiado em campeonatos do Concurso de Campeão Mundial de Queijo, da competição de queijo dos Estados Unidos e todo o caminho até nosso condado local e feiras estaduais", diz Teena Buholzer, diretora de marketing da Klondike Cheese Company em Monroe, Wisconsin.
Consequentemente, os consumidores americanos têm a oportunidade de comprar feta de alta qualidade a um custo razoável em comparação com o feta importado.

"Descobrimos que a maioria dos nossos consumidores vão a uma loja para comprar feta, em seguida, decidem o tipo ou a marca", disse Buholzer. "Devido a isso, usamos a palavra feta com o maior tipo ou estilo em nossas embalagens", acrescenta ela. "Sem sermos capazes de usar a palavra feta na embalagem, teríamos que re-educar os nossos consumidores sobre que queijo estariam comprando."

Questionada sobre quais palavras a Klondike Cheese Co. colocaria na embalagem se não pudesse usar "feta", Buholzer respondeu: "Não tenho certeza. Não pensamos nisso ainda". 

Questão continua a ser um ponto de discórdia nas negociações do T-TIP

A questão de nomes comuns de alimentos tornou-se um grande ponto de discórdia no Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (T-TIP), acordo de comércio e investimento que está sendo negociado entre os EUA e a União Europeia (UE).

O Diretor Executivo da CCFN, Jaime Castaneda, disse que a indústria de laticínios agradece o apoio de membros do Congresso: o representante comercial dos Estados Unidos, Michael Froman, e o secretário de Agricultura, Tom Vilsack - para combater a apropriação ilegítima de nomes de alimentos comuns.

"Para evitar consequências graves", disse Castaneda, "os EUA devem se opor agressivamente ao desmembramento dos mercados e se recusarem a conceder monopólios aos poucos fornecedores europeus privilegiados. O uso de nomes comuns da indústria de laticínios dos EUA - e na verdade todos os outros setores confiados aos termos de comidas típicas - deve ser preservado de forma rígida, tanto para uso doméstico quanto internacional".  

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As informações são do portal Selectus. 


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