O Especial Região Sul de hoje é para aqueles que gostam de história! Vamos contar a saga de uma propriedade tradicional de Santa Catarina, localizada no município de Treze Tílias. Mas não se enganem, ter história não é sinônimo de ser arcaico. Essa propriedade, apesar de antiga, não “dormiu no tempo” e vem apostando muito em inovação e tecnologia. Fiquem, então, com a história da Leitaria Tirolesa, contada pela Júlia Thaler, futura proprietária da fazenda e estudante de Medicina Veterinária.
Tudo começou na Áustria, em meados dos anos 30, quando a Segunda Guerra Mundial era eminente. Diante desta triste realidade, Andreas Thaler, Ministro da Agricultura da Áustria naquela época, organizou uma missão colonizadora e emigrou para o Brasil, onde fundou a cidade de Treze Tílias/SC.
Fonte: cedida pela Família Thaler
“Por ser filho de agricultores e intimamente ligado a este setor, já no ano de 1937, ele adquiriu um lote de gado Holandês e repassou aos agricultores da recém-formada colônia Dreizehnlinden”, contou Júlia. O filho mais velho do fundador da cidade, Andrä Thaler, ganhou uma área de terra no ano seguinte, casou-se, comprou a sua primeira vaca e firmou-se na agricultura.
Contudo, não permaneceu à frente da atividade por muito tempo, preferindo dedicar-se às artes: pintura e escultura em madeira. Assim, seu primogênito, André Jacob, assumiu a propriedade ainda muito jovem. Este casou-se com Elizabeth, em 1963, e foi se desenvolvendo na atividade agropecuária.
Em 1965 surgiu uma lei no estado de Santa Catarina que obrigava todas as propriedades rurais a terem um nome. Eis que surge, então, a Granja Tirolesa. André Jacob tocou a atividade leiteira por 30 anos, porém, em 1995, já com a ajuda de seu filho Arno, optaram por trabalhar apenas com a venda de novilhas.
Catorze anos mais tarde, em 2009, a atividade leiteira foi retomada, surgindo a Leitaria Tirolesa. “Neste momento a propriedade contava com apenas 15 animais da raça Holandesa e sistema a pasto. Com a aquisição de alguns planteis de propriedades pequenas que estavam parando com a atividade, o rebanho aumentou consideravelmente em um curto espaço de tempo”, disse Júlia. Já em 2014, decidiram construir um galpão free stall com capacidade para 110 animais.
Galpão com free stall. Fonte: cedida pela Família Thaler.
Mas as mudanças na Leitaria não paravam por aí. “O ano de 2017 foi um ano de significativas mudanças na propriedade. Decidimos dar ênfase na gestão e administração, bem como fazer uma nova ampliação no barracão”, contou Júlia. Segundo ela, um dos principais problemas enfrentados pela propriedade era o estresse térmico, que levava à grande variação nos índices de produção e reprodução conforme a estação climática.
Pensando nisso, construíram um galpão compost barn para as vacas em transição. O free stall foi ampliado, agora com capacidade para 200 animais, e investiram no modelo túnel de vento, sendo a primeira propriedade do estado de Santa Catarina a possuir esse modelo de climatização. “Com essa mudança, em pouco tempo, já se pôde observar grande melhora tanto na parte produtiva quanto reprodutiva. A propriedade teve um incremento de produção: o que antes girava em torno de 27 litros/vaca/dia (verão) a 33 litros/vaca/dia (inverno), alcançou uma produção atual de 38 litros/vaca/dia, com estabilidade anual”, disse a proprietária.
Pista de alimentação. Fonte: cedida pela Família Thaler.
As melhoras também foram observadas nos índices reprodutivos. Segundo Júlia, a taxa de concepção média de 2018 ficou em 41%, sem variação considerável durante o ano. Além disso, observaram que com o DEL (dias em lactação), a produção de leite e a concentração de partos ficaram muito mais estáveis.
Mas o uso de tecnologia não parou por aí! Além do investimento em climatização, os animais da propriedade utilizam colares para detecção de cio, monitoramento de saúde e identificação na sala de ordenha - que também é informatizada.
A aposta mais recente foi no diagnóstico da mastite na fazenda, implementando um laboratório. Por meio das análises realizadas, os patógenos são identificados em menos de 24h, otimizando a tomada de decisão. Para isso, contam com a assessoria de uma das proprietárias da empresa Vida Vet/Innovate Science, Carla Vasconcelos, e utilizam as placas coloridas Accumast para diagnóstico. “Fizemos um treinamento em Botucatu/SP, adquirimos as placas e temos acesso a um aplicativo que nos auxilia nas dúvidas dos resultados. Também temos assistência dos profissionais da empresa para quaisquer dúvidas, via telefone ou Whatsapp. Após a implementação desta metodologia, o tratamento passou a ser muito mais ágil e personalizado”, disse Júlia.
Quanto aos parâmetros de qualidade do leite, a Contagem Bacteriana Total tem se mantido abaixo de 15 UFC/mL, enquanto a Contagem de Células Somáticas gira em torno de 250 células/mL de leite.
Família Thaler, da esquerda para a direita, Janete, Arno, Júlia e Murilo. Fonte: cedida pela Família Thaler
A Leitaria Tirolesa é marcada pela sucessão familiar e, pelo visto, a história vai se repetir. Júlia tem grande interesse na propriedade e já aplica muita coisa aprendida nos dois anos cursando Medicina Veterinária. Os demais membros da família também estão bastante envolvidos nas atividades. Sua mãe, Janete, cuida da parte administrativa e do laboratório. Seu pai, Arno, é o responsável pelos animais e pela estrutura da propriedade. Segundo Júlia, ele é um verdadeiro “Professor Pardal” e já construiu um encostador de comida para o free stall, um brete para casqueamento e um scrapper para remoção de desejos. Além disso, seu irmão Murilo pretende cursar Engenharia Mecânica e a expectativa é que trabalhe com o pai desenvolvendo equipamentos que simplifiquem o trabalho diário.
Por fim, Júlia fez um apanhado dos últimos dois anos, desde a implementação do novo sistema e chegou a seguinte conclusão: “todas as alterações realizadas foram altamente positivas, tanto na saúde e bem-estar animal, como do ponto de vista econômico, visto que obtivemos aumento e constância na produção.”