Dominância do mercado mundial de lácteos pela Nova Zelândia se torna calcanhar de Aquiles
A Nova Zelândia está descobrindo que sua maior força é também seu calcanhar de Aquiles. O medo de contaminação da produtora de leite Fonterra Cooperative Group Ltd. está comprometendo os laços de exportação com a China, que nesse ano, ultrapassou a Austrália como seu maior parceiro comercial. Os lácteos são os principais produtos exportados, representando 28% das vendas externas totais em uma economia onde as exportações representam cerca de um terço da produção
Publicado por: MilkPoint
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“Os eventos nos últimos dias são um forte lembrete da crescente vulnerabilidade da Nova Zelândia a um único produto e a um único destino de exportação”, disse o economista do Bank of New Zealand Ltd. em Wellington, Doug Steel. “Qualquer preocupação importante prolongada sobre a qualidade da produção de alimentos da Nova Zelândia poderia ter implicações econômicas de longo alcance”.
A moeda do país caiu para o menor valor do mês após a Fonterra, maior exportadora mundial de lácteos, em 3 de agosto ter dito que um cano sujo em uma planta processadora possa ter contaminado proteínas do soro do leite usadas em fórmulas para bebês com a bactéria causadora de botulismo. A China barrou as importações de alguns produtos da Fonterra e a agência oficial de notícias, Xinhua, escreveu em um editorial que o novo slogan de turismo da Nova Zelândia, de “100% Puro”, está se tornando uma “ferida purulenta”, dizendo que os compradores de bens neozelandeses estão perdendo a fé nessa imagem de limpo e verde.
O dólar neozelandês caiu em mais de 1 centavo de dólar quando os mercados abriram em 5 de agosto e os comerciantes reduziram as apostas em maiores taxas de juros nesse ano, por causa da preocupação de que o incidente possa enfraquecer a economia de US$ 156 bilhões.
A notícia levou ao recolhimento de produtos na China, Vietnã, Tailândia, Sri Lanka e Nova Zelândia. A Rússia baniu a importação e a distribuição de produtos da Fonterra e sua agência veterinária escreveu à Autoridade de Segurança Alimentar da Nova Zelândia pedindo que suspendesse a certificação da companhia.
A proteína do soro do leite é usada em bens que vão de fórmulas infantis a bebidas esportivas. O diretor executivo da Fonterra, Theo Spierings, pediu desculpas em Pequim em 5 de agosto e expressou otimismo sobre a remoção das restrições às importações em breve.
Em 2008, a sócia chinesa da Fonterra, Sanlu Group, entrou em colapso após leite em pó contaminado com melamina e produzido localmente ter matado e hospitalizado bebês, causando um escândalo na indústria. Em janeiro desse ano, a Fonterra garantiu à China que traços de um composto químico encontrado em alguns leites não tinha riscos à saúde.
“Tem sido uma continuação de falhas da garantia de qualidade”, disse o diretor executivo da Peak New Zealand, cuja fórmula para bebê é vendida na China e não contém o ingrediente contaminado, Stephen Julian. “Isso prejudicará a integridade da Nova Zelândia por um longo tempo a menos que o governo tome uma atitude e se envolva”.
O primeiro ministro neozelandês, John Key, prometeu uma investigação sobre o incidente em meio a questões sobre a demora da Fonterra em divulgar o ingrediente potencialmente contaminado, que foi identificado inicialmente em março.
Questionado sobre um possível impacto econômico, Key disse que dependerá de quanto tempo demorará para se obter detalhes e se vai surgir algum problema de saúde. “Em médio e longo prazo, estou confiante de que a Nova Zelândia possa se recuperar disso”, disse Key em uma conferência de imprensa em Wellington em 5 de agosto. “Porém, em médio prazo, não há dúvidas de que isso prejudicará a Nova Zelândia”.
A China comprou NZ$ 7,7 bilhões (US$ 6,14 bilhões) de produtos da Nova Zelândia no ano até junho, dentre os quais NZ$ 3 bilhões (US$ 2,40 bilhões) foram de lácteos.
“Isso prejudica nossa reputação como um fornecedor limpo, verde, 100% puro”, disse o líder do principal partido de oposição, o Partido Trabalhista, David Shearer. Embora o “ouro branco” tenha feito “muita coisa para nossa economia”, a Nova Zelândia precisa diversificar, disse ele.
A indústria de lácteos da Nova Zelândia emprega cerca de 45.000 pessoas, com cerca de 6,4 milhões de vacas. As exportações começaram em 1846, apenas seis anos após o Tratado de Waitangi entre os indígenas Maori e a Coroa Britânica ter sido assinado. Os envios de produtos refrigerados em 1882 abriu novos mercados e preparou as bases para a dominância da Nova Zelândia como um exportador de lácteos. A Fonterra, maior companhia da Nova Zelândia, é responsável por cerca de um terço do comércio mundial de produtos lácteos e teve receitas de NZ$ 19,8 bilhões (US$ 15,80 bilhões) no ano até julho de 2012.
A Fonterra foi formada em 2001 a partir da fusão das duas maiores companhias de lácteos do país. A legislação do governo protegeu seu monopólio virtual após a Fonterra argumentar que precisava de escala para competir com rivais como Nestlé SA em mercados em crescimento como a China. A companhia é agora a maior processadora de leite do mundo, processando 22 bilhões de litros por ano. A Fonterra vendeu 3,9 milhões de toneladas de produtos em 2011-12. Cerca de 38 toneladas foram afetadas pela possível contaminação, disse a Fonterra.
Existem sinais de que a Nova Zelândia está se recuperando do susto e que os danos serão limitados. Spierings disse em uma conferência de imprensa em Auckland que todos os produtos afetados foram localizados e contidos.
O ministro das Finanças, Bill English, disse no Parlamento na semana passada que os produtos à vendas na China têm um valor de NZ$ 125 milhões (US$ 99,74 milhões) por ano e somente uma fração disso está sujeita a restrições. “Não há indicações de que o problema aumentou a um ponto onde possa ter um impacto significante” no crescimento econômico, disse English.
As preocupações sobre a capacidade da Nova Zelândia de processar seus produtos lácteos de forma segura persistirão, disse Julian do Peak New Zealand, que vê a Holanda e Alemanha bem posicionadas para tirar vantagem desta situação. “O que estamos vendo é uma série de cadeias que compram produtos da Nova Zelândia olhando para esses mercados, vendo-os como muito mais seguros. A Nova Zelândia como um ingrediente é fantástico, é o que fazemos com o ingrediente que preocupa”.
A reportagem é do Bloomberg, traduzida e adaptada pela Equipe MilkPoint.
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