Demanda chinesa por fórmulas infantis se torna global

Os chineses estão comprando leite em pó para bebês em todos os lugares que vão fora da China. Isso levou à escassez em pelo menos meia dúzia de países, da Holanda à Nova Zelândia. A falta de oferta é um lembrete de como os padrões de consumo dos chineses - e suas crescentes preocupações com segurança alimentar e ambiental - podem ter impactos de amplo alcance em bens diários críticos em todo o mundo.

Publicado por: MilkPoint

Publicado em: - 6 minutos de leitura

Ícone para ver comentários 1
Ícone para curtir artigo 0

Um grupo de 40 turistas chineses fez todas as compras esperadas em uma recente viagem à Europa: lenços de seda, relógios suíços, bolsas caras e, é claro, leite em pó para bebês em grande quantidade.

Avançando as prateleiras dos supermercados na Alemanha, os compradores chineses colocavam meia dúzia de latas grandes nas sacolas, disse um dos turistas. “Uma mulher me disse, ‘Se fosse mais fácil de carregar, compraria mais; é bom e barato aqui’”, disse o turista Zhang Yuhua, 60 anos, que comprou duas latas.

Os chineses estão comprando leite em pó para bebês em todos os lugares que vão fora da China. Isso levou à escassez em pelo menos meia dúzia de países, da Holanda à Nova Zelândia. A falta de oferta é um lembrete de como os padrões de consumo dos chineses – e suas crescentes preocupações com segurança alimentar e ambiental – podem ter impactos de amplo alcance em bens diários críticos em todo o mundo.

Grandes redes varejistas, como Boots e Sainsbury’s, na Inglaterra, agora limitam as compras individuais a duas latas de fórmulas infantis por compra e os oficiais da alfândega em Hong Kong estão agora impondo uma restrição de duas latas, ou quatro libras (1,8 quilos) aos viajantes – com as violações enfrentando multas de até US$ 6.500 e dois anos de prisão.

Oficiais em Hong Kong estão tratando os contrabandistas de leites para bebês como criminosos que traficam os tipos mais ilícitos de drogas. Em abril, a polícia alfandegária anunciou que uma “operação anticontrabando” resultou na quebra de três “sindicatos”, na prisão de 10 pessoas e na apreensão de quase 220 libras (quase 100 quilos) de fórmulas infantis no valor de US$ 3.500.

A obsessão dos país chineses com o leite em pó estrangeiro, que surgiu da falta de confiança nas marcas domésticas, está estimulando um movimento nacionalista “compre China” entre alguns oficiais.

Nesse mês, uma agência do governo anunciou que começou uma investigação sobre a fixação de preços na indústria de leite em pó para bebês; as metas da investigação incluíram algumas das maiores companhias estrangeiras. Os oficiais também anunciaram procedimentos mais rígidos de inspeção na indústria e editoriais de organizações de notícias estatais disseram que esperavam que os fabricantes de leite em pó chineses melhorariam seus padrões visando “derrotar” as companhias estrangeiras.

Os viajantes que forem pegos chegando à China com grandes quantidades de leite em pó para bebês precisarão evitar os oficiais da alfândega chinesa, que estão agora impondo limites mais rígidos nas importações de fórmulas.

“A segurança do leite em pó é a preocupação número um entre as mulheres grávidas e famílias com bebês recém nascidos”, disse o diretor executivo e co-fundador do site Babytree.com, o maior fórum online para pais chineses, Allen Wang. “As pessoas estão perguntando aos amigos, ‘O que você recomenda? Como você armazena marcas estrangeiras? Você pode me ajudar se viajar para o exterior?’”.

As preocupações com as fórmulas infantis domésticas começaram em 2008, quando seis bebês morreram e mais de 300.000 crianças ficaram doentes por beber leite contaminado com melamina, um composto químico tóxico. Em resposta a isso, muitos chineses começaram a comprar leite em pó para bebês importados. Porém, desde esse ano, tem havido relatos ocasionais de distribuidores ou varejistas na China adulterando o leite em pó estrangeiro com fórmula chinesa, de forma que muitos consumidores chineses começaram a comprar seu leite em pó diretamente no exterior.

Uma pesquisa da Pew Research Center mostrou que 41% dos chineses disseram no ano passado que a segurança alimentar era um problema muito sério, comparado com apenas 12% em 2008.

“Como podemos continuar confiando no alimento feito na China após ler todas essas histórias horrendas sobre questões de segurança alimentar?”, disse Tina, 28 anos, residente em Guangzhou e mãe de um bebê. “Somos pais de nossas crianças e ninguém pode nos acusar por querer o melhor para nossos bebês. Não é que não amamos nosso país – só não queremos correr riscos”.

Tina disse que obtém 80% de suas fórmulas pelo correio de parentes na Nova Zelândia. Além disso, membros da família vão cerca de uma vez por mês para Hong Kong para comprar fraldas e outros produtos para bebês. “A maioria dos meus amigos recorre a outras pessoas para trazer fórmulas para bebês de fora”.

Na China, mais mães estão amamentando devido aos recentes escândalos, mas a fórmula continua popular por várias razões, incluindo um marketing agressivo pelos fabricantes. Wang disse que pesquisas do Babytree.com mostram que cerca de dois terços das famílias chinesas com bebês usam fórmulas e as marcas estrangeiras comandam 60% do mercado. O Beijing News reportou em maio que as estatísticas mostraram que a quantidade de leite em pó estrangeiro que a China importa aumentou para 310.000 toneladas em 2009, mais de duas vezes a quantidade em 2008, quando o escândalo aconteceu. Em 2011, foram importadas 528.000 toneladas.

Os preços vêm aumentando com a demanda. Wang e a edição online do People’s Daily, jornal oficial do Partido Comunista, disseram que os preços das fórmulas infantis vendidas na China aumentaram em pelo menos 30% desde 2008. Algumas latas de 28 onças (793,79 gramas) custam mais de US$ 60.

Por questões de segurança e preço, os chineses querem cada vez mais comprar de alguém no país de origem. Uma forma popular para fazer isso é a internet – empresários que têm lojas online pedem a pessoas que conhecem no exterior que enviem fórmulas à China. Os pais chineses também pedem a amigos ou parentes que vão ao exterior que enviem ou tragam o produto.

Esse foi o caso de Zhao Jun, 30 anos, que em maio pediu a um amigo que ia em uma viagem a trabalho para a Inglaterra para comprar latas da marca inglesa, Cow & Gate, para sua bebê. “Em meus círculos, todas as mães que conheço compram leite em pó de fora ou compram em Hong Kong”.

Desde sua primeira experiência com fórmulas estrangeiras, Zhao vem comprando muito mais Cow & Gate. Online, ela encontra estudantes chineses ou donas de casa no exterior que cobram pelo serviço de comprar as fórmulas e enviar à China. “Normalmente, eu compro seis latas por vez”. Ela disse que os limites recentes nas redes varejistas britânicas significam que ela tem que pagar a esses empreendedores uma sobretaxa e que seus amigos que voltam de viagens de trabalho no exterior trazem menos latas.

Os pais estão perguntando por que os fabricantes não podem aumentar a produção para suprir a demanda e alguns dizem que esses podem estar encorajando os limites de compras no exterior para forçar os chineses a comprar os mesmos produtos a preços mais altos na China. O International Formula Council, uma associação de fabricantes, não quis dar entrevista. A Mead Johnson Nutrition, uma fabricante americana, disse que apesar de ter plantas “estrategicamente localizadas” em todo o mundo, houve também “flutuações não características na demanda dos consumidores – como a situação em Hong Kong no começo do ano”.

Ao mesmo tempo, Andrew Opie, diretor de alimentos do British Retail Consortium, disse que os limites nas lojas varejistas foram “feitos a pedido dos fabricantes”.

O limite determinado pelo Governo em Hong Kong entrou em efeito em 1 de março. Existem grandes sinalizações em chinês e inglês em ambos os lados da passagem da fronteira entre Hong Kong-Shenzhen, em Lo Wu, que alertam: “Quem sair com fórmulas em pó em excesso comete um delito”.

Em Lung Fung Garden, um shopping de rua que é na parada de metrô de Lo Wu, os empregados e gerentes de farmácias que exibem torres de latas de fórmulas disseram que o negócio despencou. “Antes venderíamos todo nosso estoque”, disse um homem da Lung Fung Pharmacy. “Eu acho que o governo deve retirar o limite de duas latas”.

Os compradores chineses ainda estão enchendo o shopping e a maioria parece estar aderindo ao limite de suas latas. Uma mulher, no entanto, colocou três latas da fórmula Friso Gold, a US$ 25 cada, em uma mochila preta.

A reportagem é do The New York Times, traduzida e adaptada pela Equipe MilkPoint.
Ícone para ver comentários 1
Ícone para curtir artigo 0

Publicado por:

Foto MilkPoint

MilkPoint

O MilkPoint é maior portal sobre mercado lácteo do Brasil. Especialista em informações do agronegócio, cadeia leiteira, indústria de laticínios e outros.

Deixe sua opinião!

Foto do usuário

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração.

alex campos machado
ALEX CAMPOS MACHADO

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 31/07/2013

Faz alguns dias, vi uma reportagem, na qual dizia que os asiaticos consumiam em media 30 litros de leite ano (entre leite,bolos, etc) , e que os americanos em torno de 250 a 300 litros anos, agora imagine se os asiaticos começarem a consumir a mesma quantidade dos americanos.



- Essa é uma noticia muito boa para os produtores.



- Agora só falta os nossos deputados fixarem um bom preço para o leite, e dar mais apoio aos nossos queridos produtores.



  
Qual a sua dúvida hoje?