“Quem define o varejo alimentar é o consumidor”. Essa foi a resposta dada por Marcos Escudeiro, especialista em varejo alimentar, quando questionado sobre as principais tendências nos próximos anos. Ele compõe a grade de palestrantes do Dairy Vision 2018, evento que chega na 4ª edição e reunirá especialistas, grandes líderes e empreendedores do setor lácteo brasileiro e mundial.
Marcos não hesita em afirmar que os varejistas que melhor perceberem e – mais se aproximarem atendendo as necessidades e expectativas dos consumidores – são os que mais terão sucesso. “O conhecimento profundo do consumidor e para onde ele segue definem as tendências. Nunca se noticiou tanto sobre varejo do futuro como neste ano e - apesar dos meios de comunicação divulgarem ideias de consultorias sobre as diversas tendências e iniciativas no mundo, como lojas sem checkout, delivery em uma hora, supermercado em casa e assinaturas de produtos - a realidade da grande parte do mundo não tem acompanhado tudo isso. Há caminhos distintos entre os diversos níveis de consumo”, explicou, acrescentando que os formatos que mais têm demonstrado crescimento no mundo são os low cost, como as redes alemãs caracterizadas pelo hard discount, Aldi e Lidl.
Os formatos que mais têm demonstrado crescimento no mundo são os low cost, como as redes alemãs caracterizadas pelo hard discount, Aldi e Lidl
“Essas redes têm ganho muito espaço onde entram. Nos últimos 10 anos, por exemplo, a Aldi e a Lidl, que vendem barato, tomaram 12% do mercado inglês e têm se expandido fortemente, o que tem assustado um pouco os americanos. Já no Brasil, no momento, assistimos ao crescimento dos atacarejos. Isso demonstra que os consumidores estão procurando valores mais enxutos. Além disso, alimentos orgânicos, saudáveis, sustentáveis e proteína vegetal vão crescer, no limite da renda da população. Várias redes de supermercados estão incrementando seus sortimentos com itens chamados saudáveis, os ‘free from’ (sem sódio, sem lactose, sem açúcar, entre outros), mas essa influência é sempre proporcional ao mercado. Para exemplificar, a produção de orgânicos ainda é muito pequena e cara”, comentou.
E-commerce
Em entrevista exclusiva ao MilkPoint, Marcos destacou que ‘o que dá notícia é o novo’ e que, acompanhando a mídia, vemos praticamente todas as companhias se transformando em empresas digitais, que atendem pela internet, celular e priorizam o melhor recurso tecnológico para isso.
“Hoje já vemos as necessidades de consumo sendo atendidas por meio de aplicativos que, baseados no histórico de consumo, sugerem itens de interesse. Porém, devo destacar que isso se destina aos pequenos nichos de mercado porque o total do comércio pela internet no país não chega a 4% do total e se concentra em itens não alimentícios. Se calcula que 76% das famílias brasileiras ganhem menos que R$ 2.900,00 e apenas 25% da população tenha cartão de crédito bancário. E o que isso quer dizer? No meu ponto de vista, que dificilmente poderá existir um varejo alimentício forte utilizando a internet. Apenas existem nichos pelos quais todos estão brigando”.
Encaixando os produtos nas novas tendências
Para Marcos, é de extrema importância que a indústria acompanhe bem de perto as tendências indicadas pelos consumidores para que sejam feitas as devidas alterações. “A redução de embalagens por conta de menores famílias exemplifica isso, assim como o crescimento de produtos embalados mais preparados para rápido consumo. Os consumidores, especialmente nas grandes cidades, cada vez têm menos tempo para preparar suas refeições, então quanto mais rápido o preparo, melhor. Mas, aqui também vale a regra que depende do nicho ou melhor, do tamanho do bolso do consumidor”.
Marcas próprias e agregação de serviços na hora da compra
Escudeiro explica que marcas próprias são estratégias dos varejistas para fidelizar seus clientes. “Mas, salvo alguns poucos exemplos no Brasil, por aqui ainda a participação das marcas próprias é muito pequena em comparação, especialmente, aos países europeus. Quanto aos serviços, também dependerá das questões anteriores e de quanto o consumidor está disposto a pagar. Sempre existe a dicotomia de preço e serviço, embora o bom atendimento possa ser o serviço mais barato de prestar porque envolve apenas treinar e tratar bem os funcionários. Nos Estados Unidos conseguimos ver exemplos recentes em que as empresas de supermercado de melhor reputação são também as melhores empresas para se trabalhar. Garanto que não é uma simples coincidência”, finalizou.
Chegando em sua 4ª edição, o Dairy Vision contribuirá (e muito!) com o setor por meio de vários insights apresentados sobre as tendências na área de alimentos e bebidas no Brasil e no mundo. Assim, é fundamental que o Dairy Vision 2018 esteja na sua agenda! Ele mostrará oportunidades e clareará ao público os principais desafios de todas essas mudanças, principalmente para o setor lácteo. Então, nos vemos em breve! Dias 28 e 29 de novembro na Expo Dom Pedro, em Campinas/SP.