O embargo russo, originalmente imposto em agosto de 2014, teve pouco impacto direto nas exportações de lácteos dos Estados Unidos – o país não exportava quantidades significativas de lácteos à Rússia desde 2010 devido à falta de acordos o com relação à certificação. Porém, seu impacto direto nos setores de lácteos dos Estados Unidos e do mundo foi substancial
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A renovação do embargo deverá prolongar o desequilíbrio do mercado global e adiar a recuperação dos preços das commodities internacionais. Isso também deverá, na melhor das hipóteses, continuar intensificando a competição externa dos Estados Unidos ou, na pior das hipóteses, facilitar a erosão dos volumes de exportação de lácteos dos Estados Unidos e participação de mercado.
Algumas das consequências desse embargo são evidenciadas nos dados de produção e comércio, desde sua implementação. Antes do embargo, a Rússia era o maior mercado de exportação da UE, comprando cerca de um terço de suas exportações de queijos e um quarto de suas exportações de gordura. No total, as importações da Rússia de produtos da UE eram equivalentes a cerca de 2% da produção de leite do bloco europeu.
Nos primeiros sete meses de 2014, antes do começo do embargo, os fornecedores de lácteos da UE exportavam em média 18.604 toneladas de queijos e 2.510 toneladas de gordura por mês para a Rússia. Desde o embargo, a UE precisou encontrar um novo mercado para todo esse produto.
Com a perda de seu maior cliente de queijos, os fornecedores da UE canalizaram sua maior produção de leite em leite em pó e manteiga. Eles agressivamente (e de forma bem sucedida) buscaram compradores globais de leite em pó desnatado, invadindo o recente sucesso do leite em pó dos Estados Unidos, bem como expandindo sua base existente de clientes. A UE, por exemplo, dobrou seu volume de exportações de leite em pó desnatado ao Oriente Médio/África do Norte, seu maior mercado de leite em pó, para mais de 278.000 toneladas em 2014, e adicionou mais 8% de crescimento durante os primeiros quatro meses de 2015.
As vendas de leite em pó desnatado da UE ao sudeste da Ásia (Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura, Tailândia e Vietnã), maior mercado de leite em pó dos Estados Unidos em 2013, cresceram em 27%, para 143.337 toneladas em 2014 e aumentaram mais 27% durante os primeiros quatro meses desse ano.
As exportações de gordura da UE ao Oriente Médio/África do Norte – de longe, o maior comprador de manteiga dos Estados Unidos – aumentaram em 70%, para mais de 45.000 toneladas em 2014 e aumentaram em mais de 85% durante os primeiros quatro meses de 2015. As vendas dos Estados Unidos, em contraste, encolheram.
O bloco também fez um bom trabalho de descobrir novos mercados para seu queijo. As vendas de queijos da UE aos três principais mercados dos Estados Unidos – México, Coreia do Sul e Japão – aumentaram em 228%, 151% e 61%, respectivamente, durante os primeiros quatro meses de 2015, após aumentos consideráveis em 2014.
Havia expectativa de que a Rússia substituiria as perdas das importações que vinham da UE, de queijos e gordura, de outras regiões e nações, como América do Sul, Índia, Suíça e outros. Isso, por sua vez, criaria demanda em outros locais do mundo.
Algumas dessas relações nunca se materializaram. Outros fornecedores, como Argentina e Uruguai, viram um aumento nos envios de lácteos à Rússia, mas os ganhos de volume foram baixos em comparação às perdas das vendas vindas da UE.
A Rússia está simplesmente se dando bem com menos produtos na maioria das categorias. Sem contar com o que está comprando de seu parceiro Bielorrússia, as importações de lácteos para os primeiros quatro meses de 2015 caíram mais de 80% com relação a janeiro a abril de 2014.
Com pelo menos outro ano de embargo russo devendo ocorrer, a competição causada pelos produtos europeus desviados a outros mercados deverá permanecer intensa.
A reportagem é do USDEC, traduzida pela Equipe MilkPoint.