Com foco em nutrição e saúde, líder da Nestlé quer abrir novos mercados
Quando Paul Bulcke foi nomeado diretor-presidente da Nestlé, em 2008, seu discurso foi claro: não mexa no que está dando certo. Ainda assim, Bulcke, um belga de 60 anos que entrou na Nestlé em [...]
Publicado por: MilkPoint
Publicado em: - 5 minutos de leitura
"Queremos ser uma empresa notável em nutrição, saúde e bem-estar", disse Bulcke em uma entrevista recente ao The Wall Street Journal na sede da Nestlé, em Vevey, Suíça.
Na prática, isso significa a extinção de marcas como Jenny Craig, Juicy Juice e PowerBar, que não se enquadravam na estratégia da Nestlé ou não ofereciam suficiente crescimento do lucro. Ao mesmo tempo, Bulcke liderou a aquisição de empresas mais alinhadas com os objetivos da empresa, como a unidade de nutrição infantil da Pfizer, em 2012. Neste ano, a Nestlé adquiriu os direitos de comercializar vários produtos estéticos e dermatológicos da Valeant Pharmaceuticals International nos Estados Unidos e Canadá.
Como resultado, a unidade de Nutrição e Ciência da Saúde da Nestlé deve ser responsável por 11% do faturamento total da empresa, estimado em 91,8 bilhões de francos suíços (US$ 95,2 bilhões). Descontando aquisições e desinvestimentos, o crescimento orgânico das vendas da unidade foi de 7,6% em 2013.
Os ajustes que Bulcke fez no porfólio não apenas abriram novos mercados para a Nestlé como elevaram sua margem de lucro. A previsão é que o lucro da Nestlé antes de juros, impostos, depreciação e amortização atinja 19% da receita este ano, comparado com 16,7% em 2007, antes de ele ter assumido o cargo.
Analistas estimam que a Nestlé lucre 10,7 bilhões de francos suíços este ano, com o lucro líquido aumentando para 11,4 bilhões de francos suíços em 2015. A receita deve crescer 6,4%, para 97,7 bilhões de francos suíços.
A Nestlé foi fundada em 1867, na Suíça, quando o farmacêutico Henri Nestlé criou um alimento infantil para substituir o leite materno. A empresa cresceu, fundiu-se com uma fabricante de leite condensado e se expandiu para o setor de laticínios. Em 1938, ela lançou o café instantâneo Nescafé e, depois, o Nestea e os achocolatados em pó. Impulsionada por aquisições, a empresa tem hoje 29 marcas de produtos que vão desde a água Perrier até o chocolate KitKat, passando pela Purina, de comida para animais. Marcas como a Nespresso já geram sozinhas vendas anuais de US$ 1 bilhão ou mais.
A Nestlé também possui uma fatia de 23,4%, avaliada em mais de 17 bilhões de euros (US$ 21 bilhões), no grupo francês de cosméticos L'Oréal.
A empresa opera 450 fábricas em 86 países e emprega 340 mil funcionários. A seleção e o treinamento de funcionários são pilares da cultura da empresa. Mais de 95% dos 1.300 cargos principais são preenchidos através de promoções internas.
Bulcke foi criado na cidade belga de Ostend. Seu pai era gerente-geral de uma empresa que fornecia as partes de concreto para os cabos de alta tensão das concessionárias de energia elétrica, um negócio que ele acabou comprando e hoje é operado por dois irmãos de Bulcke.
Depois de se formar em administração de empresas, Bulcke passou alguns anos trabalhando na subsidiária da Scott Paper na Bélgica. Mas ele e sua mulher, com quem se casou quando tinha 22 anos, queriam ver o mundo. Um amigo sugeriu que ele tentasse um emprego na Nestlé.
O executivo entrou na Nestlé em 1979 e, um ano depois, estava trabalhando como estagiário de vendas e mercadorias no Peru, que atravessava uma crise econômica e lutava para conter rebeldes comunistas. Apesar dos riscos, Bulcke e sua família cruzaram o país em um Fusca. "Vi muitas empresas irem embora em busca de situações melhores, mas a Nestlé ficou."
Ele acabou passando 16 anos na América Latina, principalmente no Equador e Chile, voltando para a Europa em 1996 como chefe de operações da Nestlé em Portugal. Depois, ele exerceu o mesmo cargo na República Tcheca e na Eslováquia.
Em 2000, mudou-se para a Alemanha para supervisionar a reestruturação da empresa durante a introdução do euro, numa época em que varejistas de desconto estavam conquistando mercado. Para Bulcke, os desafios foram revigorantes. "Fizemos muita coisa", diz.
Bulcke se mudou para a Suíça em 2004, como responsável pela região das Américas. Ele foi promovido ao cargo máximo quatro anos depois, sucedendo Peter Brabeck-Letmathe.
O carismático Paul Polman, então diretor financeiro, era o principal candidato ao posto na opinião de analistas e investidores. Foi uma surpresa quando Bulcke ganhou o comando, mas observadores dizem que ele estava mais em sintonia com a cultura da Nestlé. Polman saiu em 2008 para ser diretor-presidente da Unilever.
Ao nomear Bulcke, Brabeck citou sua experiência em mercados emergentes e desenvolvidos e o descreveu como um "líder empresarial forte e pragmático, com um registro de desempenho comprovadamente formidável".
Bulcke "é conhecido dentro de casa por sua liderança baseada em confiança e transparência e tem um alto nível de integridade pessoal", disse Brabeck, que continua como presidente do conselho de administração da Nestlé. Brabeck tem muito em comum com seu protegido. Também não é suíço - e sim austríaco - e também passou quase toda sua carreira na Nestlé. Além disso, ambos trabalharam na América do Sul e compartilham uma paixão pela aviação.
Como diretor-presidente, Bulcke está ciente da história e cultura da Nestlé e de seu papel nas comunidades onde está presente. "Apenas teremos sucesso se criarmos valor para a sociedade", diz. Ele tem orgulho das contribuições que a empresa faz e cita países como Brasil, Índia e Filipinas, onde a Nestlé está presente há mais de um século.
Fluente em seis línguas - flamengo, francês, português, espanhol, alemão e inglês -, ele se considera um "cidadão do mundo".
O sucesso da Nestlé não ocorreu sem controvérsias. Como líder global no setor de alimentos, ela é frequentemente alvo daqueles que culpam seus produtos por contribuir com dietas prejudiciais à saúde. A Nestlé tem se comprometido em reduzir os níveis de açúcar, sal e gordura saturada dos seus produtos e remover as gorduras trans. Bulcke observa que a empresa produz cereais com grãos integrais e, em países onde as dietas são pobres, ela adiciona micronutrientes como ferro e iodo aos cubos de caldo. "Somos parte da solução", diz.
As opiniões de Bulcke sobre negócios são buscadas por outros líderes. Ele é o representante suíço do Conselho Estratégico de Atratividade, um grupo de 30 líderes empresariais criado pelo governo francês para compartilhar visões sobre a atratividade dos investimentos franceses. Bulcke é "muito brutal, muito direto", e oferece avaliações que o governo pode não querer ouvir, diz Patrick De Maeseneire, diretor presidente do Adecco Group, maior empresa de recrutamento do mundo. Ele também participa do conselho.
Por enquanto, Bulcke espera comandar a Nestlé e continuar direcionando-a à saúde nutricional. Ele sonha em comprar um veleiro um dia, mas não tem pressa. "É bom ter sonhos", diz. "O dia em que comprar um veleiro, meu sonho acaba."
A notícia é do Jornal Valor Econômico.
Para continuar lendo o conteúdo entre com sua conta ou cadastre-se no MilkPoint.
Tenha acesso a conteúdos exclusivos gratuitamente!
Publicado por:
MilkPoint
O MilkPoint é maior portal sobre mercado lácteo do Brasil. Especialista em informações do agronegócio, cadeia leiteira, indústria de laticínios e outros.