Embora ainda seja cedo para estimar o alcance do problema, grandes produtores de Mato Grosso, Estado que lidera a colheita nacional de soja e milho, já estão preocupados em não conseguir plantar a extensão do cereal planejada. "Ainda não podemos dizer que a falta de chuva vai prejudicar a produtividade de soja, mas a área da safrinha de milho está comprometida", disse Rodrigo Pozzobon, produtor de Sorriso (MT), no médio-norte do Estado, região responsável por cerca de 30% da produção mato-grossense.
Segundo o agricultor, a área de soja plantada até 20 de outubro é a que poderá receber, posteriormente, a segunda safra de milho ainda durante a "janela climática ideal" - com chuvas para o desenvolvimento do cereal. "Mas não conseguimos plantar a soja que tínhamos planejado. Comprei semente de milho e devo perder".
Para o agrometereologista Marco Antonio dos Santos, da Rural Clima, ainda é prematuro apostar em produção de milho menor que a projetada. "A janela ideal para o plantio do milho safrinha em Mato Grosso vai de 20 de janeiro a 20 de fevereiro. Essa janela ficará apertada, mas há a possibilidade de as chuvas se estenderem neste ano", avaliou. Santos disse que a irregularidade de chuvas no início do plantio de soja pode ter gerado a necessidade de replantio pontual em áreas em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás. Até agora, porém, esse movimento não é expressivo.
Até a sexta-feira, segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a semeadura de soja havia chegado a 25,8% dos 9,4 milhões de hectares esperados para o ciclo 2017/18, abaixo da média para o período (30%). A projeção do Imea, ligado à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), é que a colheita estadual da oleaginosa alcance 30,5 milhões toneladas no ciclo 2017/18, 2,08% a menos que em 2016/17. "Há um atraso, mas não deve trazer perda de produtividade de soja e há previsão de chuvas com volume significativo para o fim de semana", avaliou Ana Luiza Lodi, analista da INTL FCStone.
Endrigo Dalcin, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), lembrou que havia uma previsão de regularização das chuvas no Estado na segunda quinzena deste mês, que não se concretizou. "Seguramente, a nossa safrinha de milho vai ficar estrangulada".
Segundo a analista da INTL FCStone, "esse estrangulamento", além de trazer uma diminuição da área de milho inverno, poderá, sim, elevar o risco da safra. "Se houver um veranico num momento importante do desenvolvimento, uma parte maior da produção será afetada", disse.
No Paraná o plantio não está atrasado - 51% da previsão de 5,435 milhões de hectares -, mas o risco é que temperaturas mais baixas alonguem o ciclo, o que também pode prejudicar a produção de milho no Estado. "As temperaturas, de fato, caíram, mas ainda é muito difícil dizer se esse quadro se manterá", ponderou Ana Luiza.
As informações são do jornal Valor Econômico.