Produtores da indústria de lácteos de A$ 4 bilhões (US$ 4,10) da Austrália estão fazendo acordos diretos com supermercados que controlam 80% do setor de vendas de alimentos do país, uma medida para vender o leite por A$ 1 (US$ 1,02) por litro. Isso está ameaçando os processadores Kirin Holdings, Parmalat e Fonterra Cooperative.
“Coles e Woolworths têm algum grau de poder de mercado que dificulta aos fornecedores de obter retorno”, disse o porta-voz do Australian Dairy Farmers, grupo que representa processadores e produtores, Nick Green. “Qualquer indústria é insustentável se ficar neutra (sem ganhos ou perdas) ou tendo perdas”.
A indústria de lácteos da Austrália viu seus volumes de exportação mais que dobrarem desde 1993. Isso foi principalmente devido à crescente demanda da Ásia, que aumentou seu consumo global de lácteos em 27% desde 2000.
A mudança direcionou investimentos pelas companhias de lácteos. Na Kirin, maior fabricante de bebidas do Japão, os lácteos australianos e os refrigerantes são os maiores negócios com 9,4% de vendas do grupo. O país também é a segunda maior região para a Parmalat, sendo responsável por 20% das receitas e ultrapassando as vendas em seu mercado doméstico da Itália. A Fonterra, localizada em Auckland, na Nova Zelândia, fez seu maior investimento externo na Austrália, com 14% dos ativos do grupo no país, de acordo com dados compilados pelo Bloomberg.
O mercado internacional não ajudou os processadores junto aos supermercados australianos, que vêm reduzindo os preços desde que a rede Coles reduziu pela primeira vez o preço do leite para A$ 1 (US$ 1,02) por litro em janeiro de 2011, disse o diretor da PPB Advisory em Sydney, Ben Craw. “Eles estão tentando eliminar o intermediário. As margens dos processadores declinarão”.
A Kirin’s Lion, que em 2010 forneceu todo o leite para ser vendido com as marcas Coles e Woolworth fora do Estado de Western Australia, na semana passada, perdeu contratos com a Coles no valor de cerca de metade de seus negócios restantes de marcas da loja.
A Coles disse em 10 de abril que iria passar a comprar 200 milhões de litros por ano – cerca de 10% do consumo de leite fresco do país – da cooperativa de produtores Murray Goulburn Cooperative e a Norco Cooperative Murray Goulburn disse que gastaria A$ 120 milhões (US$ 123,29 milhões) em duas plantas de processamento para lidar com o novo negócio.
O produtor de leite, Tim Bale e outros produtores em Manning Vallet, a cerca de 300 quilômetros ao norte de Sydney, recebeu um suporte regulatório para um acordo similar para barganhar coletivamente com a Woolworths, maior varejista do país, e com a Milk2Market por três anos. Bale disse que atualmente vende à Parmalat.
A indústria “tem sido estruturada de uma certa maneira por um período de tempo: os produtores vendem ao processador, o processador vende ao varejista”, disse o gerente de mercadorias da Coles, John Durkan. “Não há lei que diga que isso precisa ser estruturado assim para sempre”.
A Woolworths e a Wesfarmers, dona da Coles, juntas, são responsáveis por cerca de 80 centavos de cada dólar gasto em mercados de alimentos no país e são maiores que Safeway ou J. Sainsbury.
Mesmo com os fornecedores sofrendo, o controle rígido sobre os custos e a cadeia de fornecimento aumentaram os lucros dos dois varejistas. As ações do Woolworths aumentaram em cerca de 21% nesse ano e do Wesfarmers em 14%.
Autoridades antitruste da Austrália estão investigando as alegações de fornecedores de que os supermercados fizeram mau uso de seu poder de mercado, disse o presidente da Comissão de Competição e do Consumidor da Austrália, Rod Sims. Ele não disse se a investigação estava avaliando o setor de lácteos e os queixosos não foram divulgados. Ambos os supermercados disseram que cooperariam com a investigação.
Os descontos nos produtos lácteos estão começando a afetar os processadores de leite. O Kirin’s Lion reduziu mais da metade do valor de sua divisão de lácteos que comprou por A$ 3,68 bilhões (US$ 3,78 bilhões) em 2007 e 2008. Os menores preços foram apontados por 10% da queda nas vendas na unidade de lácteos e bebidas da Austrália e da Nova Zelândia no ano passado. A Fonterra, maior exportadora de lácteos do mundo, culpou o “ambiente varejista muito competitivo” da Austrália pela queda de 32% nos lucros da primeira metade em sua unidade local em 27 de março. A Fonterra está estudando o acordo da Coles com a Murrat Goulburn e “reformulando seu negócio” em resposta às “mudanças no mercado australiano”, disse Louise Nicholson.
Os lucros da unidade australiana da Parmalat caíram em 83% no primeiro trimestre de 2011 após a queda “dramática” de preços no varejo para o leite com marca da loja, disse o diretor operacional da companhia, Antonio Vanoli. A Parmalat está focando em produtos com margens maiores, como o leite com marca e o iogurte e os lucros antes dos juros, impostos, desvalorização e amortização aumentaram em 21% no país durante 2012.
Muita pressão sobre os fornecedores pode dar errado, disse o chefe de pesquisa da Ord Minnett Group, Stephen Scott. A maior parte da produção de lácteos australiana já é usada para fazer queijos, manteiga, iogurte, leite em pó e outros extratos usados em sorvetes e outros alimentos. Apenas 25% vai para o leite fresco para o mercado local e isso poderia cair se o negócio não for lucrativo, disse Scott. “Em curto prazo, os supermercados têm o poder. Em médio prazo, se eles não pagam o suficiente pelo leite, esse será processado e exportado. O leite encontrará um retorno maior”.
A reportagem é do Bloomberg, traduzida e adaptada pela Equipe MilkPoint.
AUS: Produtores de leite vendem direto aos supermercados para aumentar margem
Produtores da indústria de lácteos de A$ 4 bilhões (US$ 4,10) da Austrália estão fazendo acordos diretos com supermercados que controlam 80% do setor de vendas de alimentos do país, uma medida para vender o leite por A$ 1 (US$ 1,02) por litro. Isso está ameaçando os processadores Kirin Holdings, Parmalat e Fonterra Cooperative.
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