O lento mas constante processo de concentração que vive o setor leiteiro mundial tem seu correlato na Argentina. Em apenas quatro anos, os maiores produtores locais aumentaram sua participação em um ponto para 6% do leite fluido que é produzido diariamente.
Nos últimos 20 anos, o número de fazendas leiteiras na Argentina foi reduzido pela metade. No entanto, o número de vacas se manteve e a produção cresceu para um recorde de mais de 11,5 bilhões de litros, em 2021. Em outras palavras, os produtores de leite estão ficando maiores e em menor número.
De fato, já existem pelo menos 10 "mega-produtores de leite" que ultrapassam os 100.000 litros produzidos diariamente.
O ranking elaborado pela Agrofy News, com base em uma atualização do que era uma lista ainda mais extensa compartilhada pela TodoAgro em 2018, aponta os maiores fornecedores da indústria láctea argentina. No entanto, dois dos membros da lista em análise preferiram permanecer no anonimato.
Neste ranking – que tem correlação direta com o das 20 maiores fábricas de laticínios do país – estão expostos os diferentes modelos de produção adotados pelos players locais, desde aqueles a pasto até os estábulos da Adecoagro, o maior player do setor, mas muitos exemplos de modelos híbridos também podem ser encontrados.
Por sua vez, entre as características marcantes desses grandes produtores de leite está o fato de quatro deles (Adecoagro, Williner, La Sibila e La Ramada) possuírem laticínios próprios, ou seja, são integrados verticalmente a partir da produção de forragem, entre próprios e campos alugados, até o despacho de produtos elaborados tanto para o mercado local quanto para exportação.
Como chegaram até aqui?
O processo de concentração da indústria de laticínios ocorre em todo o mundo, mas os motivos para a expulsão das menores fazendas leiteiras (menos de 3.000 litros por dia), na Argentina, são muito diferentes.
O analista Marcos Snyder explica que para "ficar na corrida" os produtores locais devem crescer pelo menos 4% ao ano no volume de litros produzidos, seja pela melhoria da produtividade ou do número de vacas. Caso contrário, a necessidade de cobrir os custos crescentes aumenta drasticamente as chances de estar "fora do jogo".
Nesse sentido, o Observatório da Cadeia Láctea Argentina (OCLA) reúne as informações mais confiáveis relacionadas à indústria local e seu diretor executivo, Jorge Giraudo, assegura: “se as fazendas de mais de 10.000 litros eram apenas 1% em 2010 e contribuíam com 5% da produção; hoje, elas representam quase 6% e contribuem com 25% do leite do país”.
Dito isso, os 10 primeiros juntos somam uma média diária de 1,82 milhão de litros, ou seja, cerca de 6% da oferta nacional contra os quase 5 pontos que detinham no último trimestre de 2018. Considerando que a comparação é feita entre a média anual atual e o período de maior produção, o salto é ainda mais eloquente e supera em muito os 20% em menos de quatro anos.
Em relação ao perfil dos atores que compõem a lista, o peso das empresas familiares, como ocorre em outros setores agrícolas analisados, como os exportadores de amendoim, os grandes grupos plantadores ou os maiores pecuaristas, é avassalador. Só a número um é uma empresa que foge do quadro de empresa familiar.
Ranking de fazendas leiteiras na Argentina
Segue abaixo os dados das maiores fazendas produtoras com o número de vacas leiteiras e litros produzidos por dia em relação a 2018.
10. G - Empresa familiar
3000 vacas
108.000 litros
9.Grupo LP - Arnaldo Luis Peluffo Inchauspe e família
7.000 vacas
126.000 litros
2018: 150.000 litros
O grupo de empresas pastoris decidiu avançar em uma reorganização abrangente que reduziu o número de vacas leiteiras no oeste da província de Buenos Aires.
8.H - Empresa familiar
6200 vacas
130.000 litros
7. O Ramadã - Família Gonella
3600 vacas
130.000 litros*
2018: 102.000 litros
A família Gonella, com sede na cidade de Esperanza, Santa Fé, construiu sua própria fábrica em Frank, depois de ceder suas instalações anteriores a um grupo peruano. *Inclui 50% da fazenda Mikaut del Noa, localizado em Catamarca.
6. Fazendas La Dorita - Jorge Alberto e Hugo Luis Biolcati
+3500 vacas
130.000 litros
2018: 100.000 litros
Netos da família Magnasco, um dos sobrenomes mais antigos do laticínio local, já tiveram o título de ser o laticínio que mais leite fornecia à Nestlé no mundo.
5. Milkland (Grupo Los Lazos) - Família Boglione
5.000 vacas
170.000 litros
2018: 161.000 litros
O grupo de Rosário, também proprietário da usina La Sibila, em Entre Ríos, tem suas fazendas leiteiras distribuídas entre as províncias de Santa Fé e Córdoba.
4. Grupo Fabro - Marcelo Fabro
6300 vacas
+170.000 litros*
2018: 132.000 litros
Marcelo Fabro é outro dos players com décadas no setor que participa através de várias empresas e uma dezena de fazendas leiteiras ativas na província de Córdoba. (*Informações não oficiais).
3. O Grupo do Javali - Jack Campbell
10.595 vacas
183.000 litros*
2018: 155.000 litros
Mais de meio século de trabalho rural dão as credenciais a este apaixonado pecuarista baseado na raça Jersey e epicentro em Carlos Casares. *Estimado via conversão de sólidos.
2. As Taperitas - Família Williner
8.000 vacas
216.000 litros
2018: 244.000 litros
Os proprietários de Ilolay concluíram um processo de concentração que reduziu o número de fazendas leiteiras de 23 para 14 em regime pastoril, descartando apenas mil vacas e aumentando a produção per capita de 19 para 27 litros por dia.
1. Adecoagro - Mariano Bosch
+13.000 vacas
+460.000 litros
2018: 300.380 litros
A gigante agrícola que possui a maior fazenda estabulada da América do Sul no sul de Santa Fe investiu mais de US$ 170 milhões no negócio de laticínios e está verticalmente integrada.
As informações são do Portal Lechero, traduzidas e adaptadas pela equipe MilkPoint.