No bairro de Pinheiros, em São Paulo, a Mercearia Mestre Queijeiro, criada há dois anos, vende 45 tipos de queijos de 30 produtores de dez Estados. O mais vendido é o minas da Serra da Canastra. Uma peça de um quilo custa R$ 76, diz o dono da loja, Bruno Cabral, que também trabalha como comprador, vendedor, entregador e maturador de queijos.
Cabral teve a ideia de montar a empresa quando estudava gastronomia na Espanha, em 2007. Em Barcelona, trabalhou em um estabelecimento que vendia mais de 350 opções do produto. "Foi ali que comecei meus estudos no setor. Fiz um curso de produção promovido pelo governo da Catalunha e me tornei o especialista em queijos da loja, por três anos", lembra. Depois de oito anos na Europa, fundou a Mestre Queijeiro como uma distribuidora. "A coisa cresceu e achei que era a hora de abrir uma loja."
Mercearia Mestre Queijeiro. Fonte: Kekanto
O empresário, também mestre queijeiro e co-autor do livro "Queijos Brasileiros à Mesa" (Editora Senac, 168 páginas), investiu R$ 180 mil na criação da empresa, de três funcionários. No balcão, recebe clientes que escolhem itens de R$ 46 a R$ 257, o quilo, preço do queijo azul de leite de ovelha, produzido no Rio Grande do Sul. "Temos consumidores que entram e gastam R$ 14 ou que levam mais de R$ 1 mil em mercadorias." Também trabalha como distribuidor para restaurantes, lojas e mercados, fatia que representa 40% do faturamento total.
Para escolher as mercadorias que vende, Cabral usa critérios como sabor e aceitação do público, além do tipo de parceria mantida com o produtor, viabilidade financeira e regularidade de entrega. "O principal desafio é sobreviver às taxas tributárias e custos de frete, que não contemplam as características de um pequeno negócio." O empreendedor acredita que fatores culturais também dificultam o crescimento do setor no Brasil. Segundo ele, o brasileiro consome, em média, menos de quatro kg de queijo ao ano, ante 20 kg do europeu. "Temos de fomentar o consumo."
A Mercearia Mestre Queijeiro faturou R$ 850 mil em 2015 e prevê um crescimento de 25%, em 2016. "Há uma maior procura pelo tipo artesanal, principalmente por chefs de cozinha de grandes restaurantes", diz. "Outro fator que nos ajuda é o alto preço do dólar e do euro, que faz o nosso produto ficar mais competitivo." Nos meses de janeiro e fevereiro, a loja teve aumento de 25% no faturamento, comparado a mesmo período de 2015. Já a venda para empresas cresceu 75%. Este ano, deve lançar um braço virtual para dinamizar as entregas.
Em Joanópolis, a 100 km de São Paulo, a também mestre queijeira Heloísa Collins comanda a queijaria artesanal do Capril do Bosque desde 2011, especializada em derivados de leite de cabra. A atividade começou como um hobby, nos anos 1970, e hoje inclui restaurante e criação de animais.
A queijaria, com três funcionários, tem capacidade de processamento para cerca de oito mil litros ao mês e entrega nove tipos de queijos, além de coalhada e doce de leite de cabra. O quilo de queijo custa R$ 150. "Temos 15 revendas e distribuímos para restaurantes e bufês na capital e interior de São Paulo", diz. Nos últimos cinco meses, o faturamento praticamente dobrou, segundo Helena, sem revelar valores. "A crise abriu oportunidades para os queijos finos vendidos em reais."
Para a empreendedora, o mercado artesanal precisa de apoio técnico, facilidades para a aquisição de equipamentos e incentivo para produzir. Recentemente, produtos do Capril do Bosque ficaram na 11ª colocação, de um total de 35 competidores, no World Championship Cheese Contest, concurso internacional que reuniu 26 países, nos EUA. "Até o final do ano, a ideia é aumentar a produção em até 40%", diz.
O aumento nas entregas também está na agenda de Marli Alves da Silva, do Capril Santa Cecília, em Itaguara (MG). A empresa, que trabalha como uma agroindústria familiar, tem dez funcionários (oito são da mesma família), produz e entrega três tipos de queijos, além de ricota e leite, para restaurantes, supermercados e sacolões.
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As informações são do Valor Econômico.