A água e o exemplo do campo

A falta de chuvas que castiga as cidades, especialmente em Minas Gerais e São Paulo, é a mesma que penaliza o campo, de onde saem os alimentos que abastecem os centros urbanos. Mas há, entre campo e cidade, uma diferença crucial [...]

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A falta de chuvas que castiga as cidades, especialmente em Minas Gerais e São Paulo, é a mesma que penaliza o campo, de onde saem os alimentos que abastecem os centros urbanos. Mas há, entre campo e cidade, uma diferença crucial.

Gestores públicos e parte da própria população das metrópoles parecem continuar acreditando na fantasia de que a água é um bem infinito – e que, portanto, desperdícios e falta de planejamento na gestão dos recursos hídricos são toleráveis. No campo, os produtores rurais, sejam eles de pequeno, médio ou grande porte, já conhecem há décadas o valor da água e vêm buscando, incessantemente, tecnologias, técnicas e processos para sua conservação e reutilização.

Tome-se, como exemplo, a irrigação na agricultura. No mundo, cerca de 17% das áreas agrícolas são irrigados; elas são responsáveis por cerca de 47% da produção mundial de alimentos. O que muita gente não sabe é que a água utilizada na irrigação não se perde: parte volta aos lençóis freáticos, parte evapora ou é transpirada pelas plantas e animais. Assim, o consumo real é apenas o que fica retido no corpo da planta ou do animal. Além disso, dispomos hoje de técnicas e tecnologias que permitem chegar ao desperdício zero.

Há outros avanços. Produtores rurais de todos os portes têm intensificado o uso de práticas como construção de barragens de terra, com drenos de fundo, que proporcionam a maior recarga dos aquíferos, seguram as águas das chuvas e favorecem diversos empreendimentos de agricultura irrigada. Reter a água na bacia hidrográfica por mais tempo, por meio das acumulações e da irrigação, favorece a infiltração no solo e reduz o escoamento superficial, que causa erosão e picos de cheia a jusante. São , assim, arranjos produtivos com base em uma gestão integrada dos recursos hídricos, o que ainda não acontece nos centros urbanos.

Portanto, é o espaço rural que reúne hoje as alternativas de maior e melhor regularização do fluxo hídrico ao longo do ano. O poder público pode desempenhar um papel importante nesse processo, estimulando políticas que incentivem ainda mais os produtores para a reservação das águas e adequadas alocações das mesmas. Trata-se de facilitar a coleta e o armazenamento das águas das chuvas e a regularização da vazão de rios, e usá-las na agricultura irrigada.

O produtor rural tem apresentado bons exemplos à sociedade, como o reuso das águas servidas na produção animal e vegetal, os cultivos protegidos, a preservação de matas e nascentes e as práticas conservacionistas do solo e da água. Temos no campo, assim, credenciais para participar ativamente dos debates de uma nova agenda estadual, nacional e internacional relacionada à gestão planejada e consciente das águas. Neste quesito, estamos anos-luz à frente das metrópoles, que, sem saber de onde veio e nem como é conduzida, consomem água à vontade.

É importante termos em mente que as condições climáticas extremas, como a seca deste ano, deverão ser cada vez mais frequentes – e suas consequências, cada vez mais devastadoras sobre o Brasil e todo o planeta.

Só para se ter uma ideia, vamos precisar de três anos consecutivos de um bom volume de chuva para recuperarmos o nível atual dos lençóis freáticos em Minas Gerais, estado que é considerado a caixa-d’água do país.

Outro exemplo? Para que represas como Furnas e Três Marias voltem aos níveis considerados normais, seriam precisos cinco anos consecutivos de generosos períodos de chuva. É muito tempo. E não há nenhuma garantia de que teremos esses volumes este ano, ou no próximo, ou nos seguintes.

É neste cenário que as experiências e tecnologias já implantadas no campo podem atuar como importantes referências para políticas públicas de conservação das águas. As palavras-chave agora são estas: planejamento e conservação. Temos competência e tecnologia para isso. E, principalmente, temos a vocação para o diálogo.

O texto é de Roberto Simões, presidente do SISTEMA FAEMG, publicado no Jornal Estado de Minas.
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