A pecuária possui o grande potencial de tornar a produção cada vez mais sustentável nos diferentes sistemas de produção. Além de ser uma questão cada vez mais questionada pelos consumidores, a produção sustentável na pecuária tem se tornado um compromisso do setor para maior eficiência na utilização de recursos e insumos e maior rentabilidade na atividade.
Comprometendo-se com a otimização do uso de recursos hídricos e a implementação de práticas, sistemas, tecnologias inovadoras e, principalmente, com a mitigação da emissão dos gases do efeito estufa (GEE), a pecuária busca liderar a transição rumo a uma produção mais sustentável.
O que é o efeito estufa?
O efeito estufa refere-se à radiação solar que atinge a superfície terrestre. O calor então é novamente emitido da superfície terrestre para atmosfera, sendo que parte deste fica retido na camada atmosférica. Essa retenção térmica é fundamental para sustentar a vida na Terra, pois sem ela, a temperatura média do planeta poderia despencar para -18°C. No entanto, a preocupação atual é o aumento da retenção de calor na superfície terrestre devido ao acúmulo dos gases do efeito estufa (GEE).
Alguns desses gases, possuem maior capacidade de provocar o acúmulo do calor na superfície terrestre, como é o caso do dióxido de carbono (CO²), sendo esse o mais abundante na atmosfera, o metano (CH4) e o óxido nitroso (N²O). Os 3 gases também são os mais importantes na cadeia agropecuária.
Como ser sustentável na cadeia pecuária?
Nos últimos anos, alguns estudos têm sido realizados com o objetivo de demonstrar de que forma a cadeia pecuária está buscando tornar a produção mais sustentável.
- O sistema de pastejo, a atividade microbiana e o carbono no solo
O gráfico abaixo compara o teor de carbono microbiano no solo e a massa de raízes em sistema de pastejo e sem pastejo.
Imagem 1. Relação teor de carbono microbiano e massa de raízes.
Fonte: Souza et al. (2008).
O estudo indicou que o sistema de pastejo incentiva a formação de perfilhos das forrageiras, incentivando, consequentemente a formação de raízes, que por fim, estimulam a atividade microbiana do solo.
Mas por que isso é desejável? Porque são os microrganismos que realizam a decomposição do material orgânico para deixá-lo sequestrado no solo. Assim, os microrganismos são favorecidos pelo componente animal presente nesse sistema, promovendo um aumento na biodiversidade que torna o sistema mais eficiente na incorporação de carbono no solo. Vale destacar que o aporte de carbono no solo é uma meta desejável, contribuindo significativamente para a mitigação das mudanças climáticas.
- A eficiência produtiva e emissão de metano
Um estudo apresentado pela Aliança SIPA mostra uma associação muito importante entre a emissão de gases do efeito estufa e a eficiência produtiva em sistema de pastejo. A pesquisa relaciona o ganho de peso diário de bovinos, a emissão de metano entérico e a altura do pasto na entrada dos animais. Revela-se que, que dentro da faixa ótima de altura de pastejo, obteve-se o melhor ganho de peso dos bovinos associado com a menor emissão de metano e menor fermentação entérica dos animais.
O estudo enfatiza que a eficiência produtiva desempenha um importante papel na redução da emissão de metano dentro dos processos produtivos.
Imagem 2. Relação da eficiência produtiva do bovino e a emissão de metano.
Fonte: Aliança SIPA.
- O sistema de pastejo e os atributos químicos do solo
Uma pesquisa que comparou sistemas com e sem pastejo para os atributos químicos do solo, sem revolvimento, revelou alterações nos atributos químicos, especialmente no pH, na saturação por bases e alumínio.
Nos sistemas de pastejo com a presença do componente animal, observou-se uma melhoria significativa no pH do solo em até 20 cm de profundidade, em contraste com os sistemas sem o componente animal, onde essa melhoria ficou limitada aos primeiros 10 cm da camada do solo
Os resultados mais promissores deste estudo estão relacionados à saturação por bases e alumínio. Essas características apresentaram melhorias notáveis em profundidades de até 40 cm na presença do componente animal, enquanto nos sistemas sem pastejo, as melhorias foram restritas a até 20 cm de profundidade.
Imagem 3. Atributos químicos do solo.
Fonte: Martins et al. (2018).
- O sistema de pastejo e o nitrogênio no solo
As áreas de pastagem contribuem significativamente para a redução das perdas de nitrogênio por lixiviação no solo, assegurando assim que o lençol freático associado a esse sistema seja menos contaminado por fontes nitrogenadas. Além disso, esse cenário propicia um aproveitamento mais eficiente do adubo nitrogenado, uma vez que ele é retido de maneira mais eficaz no sistema.
A implementação de práticas adequadas de manejo de fertilizantes, a adoção de técnicas de plantio direto e a promoção de sistemas agrícolas integrados emergem como estratégias essenciais para mitigar tais emissões e fortalecer a sustentabilidade na pecuária.
De maneira geral, práticas mais conservacionistas, como o plantio direto e a integração lavoura-pecuária-floresta, asseguram uma biodiversidade mais robusta no sistema, especialmente no solo, onde se observa uma maior atividade microbiana. Esse contexto favorece uma significativa retenção de carbono no solo.
A pecuária, ao adotar conhecimentos e práticas sustentáveis e conservacionistas, apresenta uma notável vantagem e potencial para mitigar a emissão de gases do efeito estufa dentro do próprio sistema produtivo. Essa abordagem não apenas promove a sustentabilidade da produção como também traz benefícios econômicos para atividade.
Fonte consultada: Agropecuária e sustentabilidade: desmistificando a coexistência. Izabella Marani. EducaPoint.