Governo paulista pretende vender 13 fazendas de pesquisas agropecuárias

O governo paulista pretende colocar à venda ao menos 13 fazendas de pesquisa científica voltadas à agricultura e pecuária, na tentativa de elevar as receitas do Estado. A venda, que tem provocado críticas de pesquisadores, faz parte de um pacote de alienação de 79 imóveis que tramita em caráter de urgência na Assembleia Legislativa e prevê levantar R$ 1,43 bilhão. Somente as fazendas vinculadas à Secretaria de Agricultura deverão representar cerca de 90% desse total.

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O governo paulista pretende colocar à venda ao menos 13 fazendas de pesquisa científica voltadas à agricultura e pecuária, na tentativa de elevar as receitas do Estado. A venda, que tem provocado críticas de pesquisadores, faz parte de um pacote de alienação de 79 imóveis que tramita em caráter de urgência na Assembleia Legislativa e prevê levantar R$ 1,43 bilhão. Somente as fazendas vinculadas à Secretaria de Agricultura deverão representar cerca de 90% desse total.

"Como é de conhecimento, a crise macroeconômica que atinge o país implicou a queda da arrecadação tributária, com potencial de gerar consequências danosas para o equilíbrio das contas públicas, notadamente em um cenário no qual é necessário manter investimentos em serviços públicos essenciais à população", defendeu, em carta à Assembleia, o secretário de governo Saulo de Castro Abreu Filho. 



Desde 2013, a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), vinculada à Secretaria de Agricultura, vem mapeando todas as suas propriedades para estabelecer áreas prioritárias e indispensáveis para a pesquisa e as passíveis de "reordenamento". A agência tem 42 unidades, que ocupam 16 mil hectares, a maior parte recebida como doação de cafeicultores no início do século passado.

A análise mostrou que algumas dessas propriedades, em sua totalidade ou de forma parcial, perderam a serventia para pesquisas, seja por falta de demanda do mercado ou por terem sido "engolidas" por centros urbanos - o que limita o escopo das pesquisas. Nesse contexto, a ação é vista como um ajuste necessário que, em tese, não afetaria o desempenho dos estudos.

"Temos fazendas muito grandes para a realidade de São Paulo hoje", disse ao Valor Orlando Melo de Castro, coordenador da Apta. "É pesado manter essas unidades. A grande parte está agora inserida em centros urbanos, o que elevou os casos de vandalismo e roubos".

Neste primeiro momento, estarão disponíveis ao mercado 1,31 mil hectares em regiões valorizadas como Araçatuba, Jundiaí, Piracicaba, Campinas e Ribeirão Preto. Mas a própria Apta admite que se trata de uma versão enxuta do que a agência previa inicialmente - há mais opções de desmembramentos de fazendas, o que abre possibilidades para vendas futuras.

Das 13 fazendas, quatro seriam cedidas integralmente - Gália, Brotas, Itapeva e Jundiaí. Só nesses casos, a venda geraria uma economia de R$ 508 milhões, diz a Apta. Nas demais, o que se pretende é conceder parte das fazendas - às vezes, chegando à metade da área.

Para a classe acadêmica, no entanto, o que está em curso é mais um descaso do Estado com a ciência. A proposta foi repudiada pela Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), para quem o argumento de que as áreas não têm "utilidade" está mais associado à falta de mão de obra e recursos financeiros, e não à demanda científica. Joaquim Azevedo Filho, presidente da entidade, afirma que a academia não foi consultada e alerta que experimentos de décadas serão perdidos. "O próprio Estado provocou a baixa utilização. Está assim porque há 20 anos não há concurso público para equipes de campo", diz ele.

Pesquisadores mostram que a desvinculação de áreas não será popular nem fácil. Em Ribeirão Preto, por exemplo, a preocupação é com o destino das pesquisas com biofortificação de leite, realizadas em Parceria com a Faculdade de Medicina da USP. Segundo Azevedo Filho, o rebanho de 160 animais começou a ser transferido da unidade em novembro e houve uma divisão dos 12 pesquisadores - parte foi para Sertãozinho e outra para Nova Odessa. 

Em Piracicaba, onde metade da área está à venda, não serão apenas os experimentos com cana que serão afetados. Um projeto de recuperação ambiental da bacia do Ribeirão Guamim cairá, literalmente, por terra. O ribeirão deságua no rio Piracicaba, que praticamente secou em 2015, no pico da crise hídrica. Centenas de árvores foram replantadas, e a unidade tem importantes estudos hídricos com impacto direto na população. 

O Estado tem tratado o tema como alienação, ou seja, não necessariamente venda. "Podem ser feitas parcerias público privadas, trocas. E o governo nos garantiu que o dinheiro será revertido para a pesquisa através de um novo fundo que será criado", diz Castro. Segundo ele, a reversão foi "apalavrada" com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), ainda que o texto enviado à Assembleia indique que o dinheiro será para investimentos em programas essenciais à população. 

As informações são do jornal Valor Econômico.
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Benedito Martins Filho
BENEDITO MARTINS FILHO

MOCOCA - SÃO PAULO

EM 05/07/2016

se ocorrer, sera como o sistema ferroviario que foi desmantelado, com as consequencias que todos sabemos, a unica certeza e que JAMAIS VOLTARÃO !
Geraldo Tadeu dos Santos
GERALDO TADEU DOS SANTOS

MARINGÁ - PARANÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 06/06/2016

Se no Estado de São Paulo, que é a máquina que move este país, o agronegócio é tratado com tamanha desconsideração, imagine como será tratado o agronegócio nos demais Estados brasileiros governados pelo PSDB? O Estado de São Paulo, que nos últimos anos governado pelo PSDB, sempre foi, para uma boa parte dos Paranaenses, um exemplo a ser seguido, agora se configura numa péssima opção!!! Acorda Geraldo Alckmin !!! De exemplo, você vai passar a ser odiado e não vai resolver o problema financeiro do Estado. Faça uma reforma geral, mas não venda as 13 fazendas de pesquisa.
Luiz Pitombo
LUIZ PITOMBO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - MÍDIA ESPECIALIZADA/IMPRENSA

EM 06/06/2016

Considero inadequada essa atitude do governo paulista. Reduzir o potencial da pesquisa e da educação, como tem sido feito, é um tiro no pé.
Sidney Lacerda Marcelino do Carmo
SIDNEY LACERDA MARCELINO DO CARMO

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 06/06/2016

Isto é uma vergonha. Nenhum político dá importância para a agricultura.
Helton Hipolito de Moraes
HELTON HIPOLITO DE MORAES

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 04/06/2016

O dia em que eu acreditar em "apalavramento de políticos", estando no papel o inverso do que se "apalavrou", estarei morto e enterrado !!! Querem acabar co tudo mesmo. Não aceitaremos tamanha inverdade e omissão de políticos que nada entendem do agronegócio, a não ser levantarem mais $$$$$$$$$$$ para ser fartamente distribuído entre seus corruptos amigos !! A briga vai ser longa e renhida  !!!!Não ao desmantelamento das pesquisas no campo do único setor do país que gera algum lucro e carrega nosso déficit financeiro nas costas !!!!
Qual a sua dúvida hoje?