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Zoneamento de risco climático na pecuária leiteira: o que é? Para que serve?

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/06/2021

5 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 09/06/2021

No Brasil, os zoneamentos de risco climático são elaborados para diversas culturas agrícolas e têm sido extensivamente investigados. O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), desenvolvido pela Embrapa e parceiros, é aplicado oficialmente desde 1996, por meio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA.

No entanto, há carência deste tipo de estudo para a pecuária, seja de corte ou de leite, que levem em consideração o desempenho de diferentes raças bovinas, bem como as condições das pastagens que podem ser afetadas pelas variações climáticas locais, regionais ou nacional.

O ZARC voltado para a pecuária leiteira pode ser visto como um instrumento de política pública e gestão de riscos climáticos visando minimizar os efeitos relacionados aos fenômenos climáticos adversos e otimizar a produção e a produtividade da bovinocultura leiteira, considerando a relação entre a genética animal, as condições ambientais para conforto animal e a disponibilidade de forragens.

Nos ambientes tropicais, a elevada temperatura associada à alta umidade relativa do ar, com maior intensidade no verão podem causar desconforto térmico aos animais e, consequentemente, perdas de produção.

O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) disponibiliza para o setor produtivo, estimativas atualizadas do Índice de Temperatura e Umidade - ITU que, entre outras aplicações, são úteis para identificar as condições de conforto térmico dos animais e orientar práticas para amenizar seus possíveis impactos negativos sobre o desempenho do rebanho.

A Figura 1 ilustra um exemplo do ITU aplicado ao município de Unaí, um importante produtor de leite de Minas Gerais.

Figura 1- Índice de temperatura e umidade (ITU) relacionado ao conforto térmico bovino para o município de Unaí, MG. Fonte: INMET (2021).

Observa-se que neste município, durante alguns dias do mês de outubro de 2020 houve perigo, quando o índice esteve acima da linha de cor vermelha que indica forte desconforto térmico. Além disso, nota-se vários dias com indicativos de alerta e de atenção, quando o ITU esteve acima das linhas de cores laranja e amarela, respectivamente.

Vale destacar que as condições ambientais têm impacto direto na eficiência dos processos de controle térmico pelo animal, resultando na intensificação de estresse calórico e, por conseguinte, interferindo na sua eficiência produtiva e reprodutiva.

Os animais de origem europeia acabam sendo mais sensíveis, mas não são os únicos. No geral, todas as raças sentem o impacto negativo desse estresse. Estudo em sistema ILPF publicado no portal Milkpoint mostrou que mesmo vacas Gir leiteiro tiveram aumento de 22% na produção de leite quando houve o acesso à sombra de eucalipto. Em outra análise, houve a avaliação do estresse em vacas secas e indicou uma redução na produção de leite da próxima lactação em cerca de 4 kg por dia.

Dessa forma, é importante observar e monitorar os animais em seu ambiente de produção, seja em sistemas a pasto ou confinado, e ao concluir a existência de estresse calórico, buscar meios para reduzi-lo.

As pastagens naturais ou cultivadas constituem base da alimentação do rebanho na maioria das fazendas de produção de leite no Brasil. Assim, qualquer alteração na sua qualidade ou disponibilidade pode interferir na produtividade e na rentabilidade da atividade.

Fundamental, portanto, considerar a pastagem como um dos principais recursos para o sucesso desta atividade. A sazonalidade da produção das pastagens é muito afetada pelas condições climáticas, determinando aspectos como a quantidade e a qualidade da massa forrageira e sua interferência na produção de leite em diferentes escalas geográficas (local, regional e nacional).

Pastagens em estágio avançado de degradação tem sido um grande problema para a pecuária brasileira. Apesar do consenso entre os especialistas sobre a existência de degradação, há divergências em relação a dimensão do problema, pois as metodologias se diferem quanto a forma de mensuração ou avaliação do fenômeno quantitativa e qualitativamente.

O Censo Agropecuário de 2017 (IBGE), de fonte declaratória, apontou a existência de cerca de 12 milhões de hectares de pastagens em condições degradação no Brasil (Figura 2).

Figura 2 – Área de pastagens não degradada (barra azul) e degradadas (barra laranja) nas Regiões brasileiras. Fonte: Censo Agropecuário (IBGE, 2017).

Por outro lado, mapeamentos do vigor ou produtividade das pastagens, por meio de técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento, como o efetuado pelo Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG), vinculado à Universidade Federal de Goiás, indicam que 99 milhões de hectares de pastagens podem estar degradadas no Brasil (Figura 3).

O mapeamento foi baseado em dados de satélite e avalia alterações no vigor das pastagens por meio da análise temporal de índices de vegetação. As áreas com tendências de perda de vigor da vegetação foram consideradas como áreas com indicativos de degradação.

Tal estatística evidencia o grande potencial de incremento de produtividade na pecuária nacional via melhorias no manejo destas pastagens, o que vai também impactar positivamente a redução de custos de produção de leite e de corte.

Conforme mostrado na Figura 3, essa realidade não é específica de um bioma, mas um retrato do País. Vale mencionar que a degradação de pastagens acaba afetando mais a pecuária extensiva de corte, mas tem o seu efeito no leite também.

A ausência de dados mais desagregados dificulta uma quantificação do seu impacto, mas é comum a observação de pastagem com algum grau de degradação em fazendas de leite em sistemas mais extensivos e semi confinamentos.

Em Minas Gerais, é fácil observar essa situação em propriedades da Zona da Mata, Campo das Vertentes e Norte de Minas. Mas ela pode ser estendida para outras localidades.

Em muitos casos a degradação não está no pasto das vacas em lactação, mas nas áreas utilizadas por vacas secas e novilhas, podendo ter efeitos negativos inclusive na reprodução dos animais e idade ao primeiro parto.

Figura 3 – Área de pastagens não degradadas (barra azul) e degradadas (barra laranja) em Biomas brasileiros, período 2011 a 2016.

Fonte: LAPIG – Atlas das Pastagens Brasileiras.
 

Dessa forma, o conhecimento do território e a sua representação são condições básicas para a promoção do desenvolvimento, sendo que o fator do risco climático mostra a necessidade premente do desenvolvimento de pesquisas focadas no aumento da eficiência produtiva em condições climáticas tropicais, conforme zoneamento estabelecido.

Assim, é importante a criação de programas de seguro de produtividade ou de renda, uma pauta dos principais fóruns do setor no País (Câmara Setorial do MAPA, CNA, entre outros) e no mundo, de acordo com o risco climático identificado.

Atualmente, a Embrapa Gado de Leite lidera um projeto de zoneamento de risco climático para a pecuária leiteira. Esta pesquisa integra amplas bases de dados históricos de clima e produção, obtidos a partir das séries de dados meteorológicos (INMET, ANA e outras), controle zootécnico e produtividade das pastagens. Com os resultados espera-se conferir maior precisão nas informações geradas sobre o risco climático no País, contribuindo para estabelecer estratégias de gestão de risco e políticas de apoio ao setor.

 

Autores
Ricardo Guimarães Andrade - Engenheiro Agrícola, Doutor em Meteorologia Agrícola, Pesquisador da Embrapa Gado de Leite. E-mail: ricardo.andrade@embrapa.br

Marcos Cicarini Hott - Engenheiro Florestal, Doutor em Engenharia Florestal, Pesquisador da Embrapa Gado de Leite. E-mail: marcos.hott@embrapa.br

Walter Coelho Pereira de Magalhães Junior - Ciências Econômicas, Mestre em Ciência da Computação, Analista da Embrapa Gado de Leite. E-mail: walter.magalhaes@embrapa.br

Glauco Rodrigues Carvalho - Ciências Econômicas, Ph.D. Agricultural Economics, Pesquisador da Embrapa Gado de Leite. E-mail: glauco.carvalho@embrapa.br

 

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JERRI TEIXEIRA ZANUSSO

PELOTAS - RIO GRANDE DO SUL - PESQUISA/ENSINO

EM 01/10/2021

Parabéns aos autores pelo artigo. Cabe ressaltar que os gráficos gerados pelo INMET consideram um valor de ITU = 72 para dar o "alerta" para o estresse térmico por calor. Mas, com o avanço no melhoramento genético, manejo, nutrição, em sistemas de elevada produtividade, para animais acima de 35 kg de leite/vaca/dia, Israel Flamembaum, especialista do setor considera que o ITU adotado deve ser 68 e NÃO 72! Ou seja, os dados do INMET subestiman o estresse térmico.
Outro ponto é: se os dados do INMET consideram a temperatura média para o cálculo do ITU... mais subestimado fica o estresse térmico por calor!
Espero ter contribuído com o debate, trazendo algumas reflexões sobre o assunto.
Prof. Jerri Zanusso (UFPEL/FAEM) - Bioclimatologia animal.

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