Dentre as doenças que afetam o sistema locomotor, as afecções podais estão entre as mais importantes e dentre estas é possível destacar a dermatite interdigital (DI), a foot-rot (FR) e a dermatite digital contagiosa ovina (DDCO), além de algumas outras de menor prevalência como erosão do talão, doença da linha branca e hiperplasia interdigital.
O uso de pedilúvios é uma ferramenta essencial no controle das doenças podais, sendo a forma mais fácil de se prevenir e tratar casos de DI e FR - as duas principais afecções podais na ovinocultura. O objetivo aqui é limitar a difusão das doenças reduzindo sua prevalência no rebanho e minimizar a severidade dos casos diminuindo o impacto sobre os animais afetados.
Figura 1. Pedilúvios de passagem, por onde os animais são conduzidos lentamente, são importantes ferramentas na prevenção de afecções podais em rebanhos.
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A adoção de pedilúvios deve ser bem planejada e implementada estrategicamente antes e durante o período chuvoso, sendo que os principais produtos utilizados são a formalina (formol), o sulfato de zinco e o sulfato de cobre que, por sua vez, apresentam uma eficácia similar, no entanto, os resultados alcançados dependem da qualidade da preparação, da freqüência de passagem, do dimensionamento e do manejo do pedilúvio em si.
A formalina é uma solução de formaldeído a 40% com propriedade bactericida e que torna o estrato córneo do casco mais espesso e rígido, além de permanecer ativa em meios com alto nível de matéria orgânica (dejetos animais e terra). Portanto, é o produto de eleição nos banhos de passagem de curta duração (< 1 minuto) sob condições de umidade e lama, podendo ser utilizado soluções a 3% e a 5% (volume/volume) diluindo-se 3 litros de formalina em 97 litros de água (ou 5 em 95). Devido ao seu alto poder irritante para as mucosas e pele, é preciso tomar alguns cuidados durante a manipulação da formalina, sendo recomendado o uso de EPI (botas, luvas, máscara e óculos de proteção) quando da produção da solução.
O sulfato de zinco (ZnSO4) apresenta uma das melhores capacidades de penetração e é o mais seguro de todos os produtos disponíveis para elaboração de soluções de pedilúvio, sendo menos desagradável tanto para os animais quanto para os operadores. É um bom antiséptico, não mancha a lã ou pêlo dos animais e é mais resistente à inativação pela presença de matéria orgânica do que o sulfato de cobre. Além disso, por não apresentar limites no tempo de exposição, pode ser utilizado como solução de permanência em pedilúvios estacionários na forma de soluções a 10%, diluindo-se 10 quilos de ZnSO4 em 100 litros de água.
O sulfato de cobre (CuSO4), apesar de ser um bom antiséptico com alto poder adstringente, é inativado mais facilmente na presença de matéria orgânica, além de ser corrosivo, manchar a lã de forma permanente e possuir risco de contaminação ambiental e de intoxicação caso ingerido acidentalmente. Por esses motivos, não é recomendado para uso com ovinos.
Figura 2. Pedilúvios estacionários, onde os animais permanecem em estação por alguns minutos, são úteis em procedimentos terapêuticos individuais ou de pequenos lotes.
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Os chamados pedilúvios de passagem, que também podem ser usados como estacionários, devem ter entradas e saídas em rampa, no mínimo 6 metros de comprimento, profundidade aproximada de 12 cm e altura de lâmina d´água de cerca de 6 cm, o suficiente para cobrir até a banda coronária dos ovinos. Aqui os animais devem ser conduzidos lentamente em fila indiana e objetivando a prevenção e o controle estratégico, passagens semanais de curta duração geralmente são eficientes, mas se as condições já são altamente desfavoráveis, com elevada umidade e lama, e já há casos diagnosticados de DI e FR, as passagens podem ser repetidas em intervalos de 5 dias ou 2 vezes na semana com tempo de permanência de no mínimo 15 minutos.
Com a finalidade de otimizar a ação das soluções, recomenda-se construir um lava-pés (pedilúvio contendo apenas água) antes e a 2 metros de distância do pedilúvio propriamente dito para efetuar a retirada de matéria orgânica e demais sujidades que estejam aderidas aos cascos, além de estimular a micção e evacuação neste local, reduzindo a contaminação da solução do pedilúvio. O lava-pés pode ter o mesmo comprimento e profundidade do pedilúvio de passagem, mas uma lâmina d´água um pouco mais alta.
Após as passagens os animais precisam permanecer por no mínimo 2 horas em áreas com solo seco, preferencialmente em apriscos suspensos ou áreas cimentadas previamente desinfectadas, o que pode coincidir com o retorno dos animais no final da tarde para as instalações de pernoite.
Tanto a DI quanto a FR afetam a eficiência de pastejo, o comportamento de monta, produzem desconforto e dor aos animais, comprometem o crescimento, a produção de leite e elevam os casos de cetose e mortalidade neonatal. Dessa forma, o uso de pedilúvios associado a outras práticas como vacinação, pastejo rotacionado, limpeza diária e desinfecção periódica das instalações e instalações bem dimensionadas e estruturadas são fatores cruciais na prevenção e controle das afecções podais dos ovinos.