O balanço energético começa a ser afetado durante as últimas semanas da gestação, quando há uma redução de cerca de 30 a 35% na ingestão da dieta. E se torna mais severo após o parto, quando a mobilização das reservas corporais e o volume da secreção de leite aumentam muito mais rápido do que a curva de ingestão de matéria seca.
A mobilização das reservas corporais durante o balanço energético negativo é um fator chave para o aumento da susceptibilidade às doenças. O balanço energético negativo está associado a distúrbios metabólicos e desordens do sistema locomotor, tais como a hipocalcemia, a cetose e a laminite. Foi observado ainda que a laminite é uma enfermidade que leva a sérias consequências na produtividade do rebanho, já que induz à redução da produção de leite, redução do desempenho reprodutivo e aumento do índice de descarte.
Neste cenário, as vacas de alta produção, para compensar a elevada demanda de nutrientes, passam grande parte do tempo se alimentando ou ruminando, deixando de realizar atividades importantes para redução do estresse e para o comportamento social, tais como a interação com outras vacas do rebanho e a manifestação do comportamento sexual. Iniciam-se assim os sintomas de stress e alterações do comportamento, alguns animais apresentam sintomas como o ranger de dentes, pressionam a fronte contra a estrutura metálica, etc. Outros animais tornam-se mais inativos, apáticos e chegam a reduzir até a ingestão de matéria seca.
Mas a alta produção leiteira não está sempre associada aos efeitos negativos à saúde e à fertilidade; na realidade, tais efeitos dependem também do ambiente, da instalação e do conforto. O ambiente deve favorecer a alta ingestão de matéria seca, levando em consideração a competição animal, o calor e a umidade, a qualidade do piso (macio e com ranhuras) e a qualidade das camas. O estudo do conforto animal mostra que o dimensionamento e o desenho dos corredores de alimentação, corredores que cruzam a instalação, corredores do tráfego de animais para a ordenha e a localização e acesso aos cochos de água afetam a taxa de ingestão voluntária de matéria seca. Além disso, o estudo do conforto e do comportamento animal evidencia que a mudança de animais de lote afeta negativamente a interação social, e leva a um consumo extra de energia, utilizada para restabelecer a hierarquia social no grupo.
Em síntese, a atual situação dos rebanhos de alta produção leiteira merece atenção. É necessário trabalhar em busca de um balanço equilibrado entre a produção e a saúde animal. As vacas precisam manter os ciclos reprodutivos e precisam de longevidade, mas para encontrar este equilíbrio entre produção e saúde é necessário, antes de mais nada, conhecer os índices do rebanho e detectar onde estão os maiores pontos de desequilíbrio. Um bom começo é enfatizar a fertilidade, a saúde e a longevidade no momento da definição dos acasalamentos e compra de sêmen.
Figura 1. Associação de eventos nos animais acometidos pelo balanço energético negativo.
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Fonte:
Rodriguez-Martinez, H., et al. Reproductive Performance in High-producing Dairy Cows: Can We Sustain it Under Current Practice? Ivis Reviews in Veterinary Medicine, 11-Dec-2008.