Atualmente as dietas são balanceadas para diversas frações de carboidratos e proteínas, em alguns casos até mesmo para aminoácidos. Os produtores mais informados sabem da importância do correto balanceamento das dietas e trabalham arduamente com seus nutricionistas para fazer tudo corretamente.
Infelizmente, alguns desses produtores acabam não dedicando tempo suficiente para se certificarem que suas vacas estão bebendo água em quantidade e qualidade adequadas. Não é incomum se observar nas fazendas a oferta de água de pouca qualidade, em bebedouros sujos e de difícil acesso, ou ainda com tamanho inadequado e baixa pressão de água, o que impede a rápida reposição do volume consumido.
O resultado final é o baixo consumo de água pelas vacas. Isto não faz sentido. O leite é composto em 87% de água, de forma que sua produção é, em grande parte, dependente da ingestão de água. A água só perde para o oxigênio na ordem de importância para a vaca. Ela é necessária para manter o volume sanguíneo, digerir alimentos e manter órgãos e tecidos.
A ingestão diária de água é afetada pelo tamanho, idade, atividade e produtividade da vaca, bem como pelo ambiente. Além daquela bebida diretamente, as vacas recebem água dos alimentos e forragens. Existem várias tabelas e equações para estimar o consumo de água. Um exemplo de equação simples é a seguinte:
Ingestão de água (kg/dia) = [(4 x ingestão de matéria seca) + kg de leite corrigido para 4% de gordura + 11.64)], onde:
Leite corrigido para 4% de gordura = (0,4 x kg de leite) + [15 x (% de gordura/100) x kg de leite]
Usando as equações acima, uma vaca produzindo 36 kg de leite com 3,5% de gordura e consumindo 22,7 kg de matéria seca de dieta por dia teria um consumo de cerca de 136 kg de água por dia. Se a dieta tiver 50% de umidade, a vaca irá consumir 22,7 kg de água na dieta, além de beber outros 113 kg (litros) de água diariamente.
Uma regra mais simples é admitir que uma vaca Holandesa necessita cerca de 4 litros de água para cada litro de leite produzido. Com a exceção que em regiões de clima quente estes requerimentos podem subir de 10 a 20%.
Sendo assim, quando estiver tentando achar uma razão para produções abaixo do esperado, confira o fornecimento de água. Em muitos casos a solução de problemas relacionados à quantidade e qualidade da água permite aumentos de produção da ordem de 10 a 20%.
Ao invés de começar pela análise da água, tente medir seu consumo. Na maioria dos casos, quando a qualidade é ruim, o consumo é baixo. O conhecimento sobre análise de água e sua qualidade tem crescido. Todavia, muitas vezes se perde muito tempo e dinheiro em análises sem conseguir respostas para os reais problemas. Antes de mandar uma amostra para análise, veja se nada pode ser feito para melhorar a disponibilidade da água e conseqüentemente seu consumo.
Se necessário, encontre uma maneira de fornecer água de alguma fonte reconhecidamente boa por uma semana e veja se isto faz diferença. Se a produção aumentar você saberá que identificou o problema. Daí então você poderá investir dinheiro na melhor solução.
Uma maneira fácil de se estimar o consumo é através de medidores instalados na tubulação próxima às vacas (certifique-se que está medindo somente o consumo dos animais e não da sala de ordenha, por exemplo). Meça o consumo a cada 7 a 10 dias e baseie suas conclusões no consumo médio diário. Comece a se preocupar se a ingestão de água estiver mais de 20% abaixo do que deveria ser pelo nível de produção esperado das vacas.
Colocado de maneira simples, as vacas devem ter água limpa e fresca a qualquer momento que desejem. Um parâmetro para esta limpeza é que você deveria ser capaz de beber a água que oferece a seus animais. A limpeza dos bebedouros deve ser parte da rotina (semanal, às vezes diária) da fazenda. Se a limpeza é difícil, troque os bebedouros ou reforme-os para que isto seja facilitado. A desinfecção com água sanitária (meio copo em 20 litros de água) é recomendada.
O acesso à água é especialmente crítico após a ordenha e a alimentação. Por isso a maioria das fazendas possui bebedouros no percurso de saída da ordenha.
Os bebedouros devem ser capazes de fornecer de 8 a 15 litros de água por minuto. É recomendado ter, pelo menos, 60 cm de comprimento de bebedouro para cada 15 a 20 vacas num estábulo. Em climas quentes alguns preferem ter 50% a mais que esta recomendação.
Os bebedouros devem ser dispostos num raio de 15 metros do cocho e devem ter pelo menos 3 a 3,6 metros de espaço ao seu redor para evitar o congestionamento de animais.
Observe suas vacas comendo. Elas tomam goles longos sugando profundamente ou somente lambem a água. Lamber a água pode ser sinal de problemas de corrente elétrica no bebedouro.
Analise sua água pelo menos anualmente. Mantenha os dados para comparação. É interessante testar para contaminações bacterianas, produtos químicos, pH e matéria orgânica.
Tratar a água para bactérias ou dureza não deve prejudicar os animais mas tenha cuidado para não adicionar muito cloro à água. Bactérias devem ser controladas com níveis de cloro de 0,3 a 0,7 ppm. Níveis acima de 1 ppm parecem causar problemas de digestão de fibra e produção de leite.
O pH da água também pode ser um problema tanto no caso de ser muito alto (acima de 8,5) quanto muito baixo (abaixo de 5,5). Existem sistemas para correção desses problemas.
Muito também pode ser aprendido da análise do teor de minerais na água, mas ainda não se tem claramente os níveis que poderiam causar problemas. De qualquer maneira, as vacas parecem ser mais sensíveis que os humanos em relação a níveis altos de minerais na água. Eles podem afetar o consumo, o balanço mineral e a reprodução.
Altos níveis de nitrato (NO3 acima de 100 ppm) podem diminuir a capacidade de transporte de oxigênio do sangue causando problemas reprodutivos. Altos teores de nitrito (NO2 acima de 4 ppm) podem matar vacas.
Altos níveis de sulfato (acima de 250 ppm) e ferro (acima de 0,3 ppm) são freqüentemente constatados na água. Algumas bactérias são conhecidas por se multiplicarem melhor na presença de enxofre e ferro. Estes minerais também reduzem a palatabildade da água e a absorção de outros minerais da dieta.
Por todos estes motivos, confira o consumo de água de seu rebanho. O aumento de consumo pode fazer suas vacas produzirem mais.
Comentário do autor: alguns produtores têm usado pastilhas de cloro nos bebedouros com resultados bastante positivos. A água fica cristalina, sem formação de limo (dá até para pensar em beber). Tome o cuidado, no entanto, de usar pastilhas de liberação lenta pois existem algumas pastilhas para uso em piscinas que são efervescentes e têm rápida liberação de todo o cloro, ultrapassando os limites anteriormente recomendados, o que tem efeito contrário, reduzindo o consumo.
Fonte: Ondarza, M.B., 2002. How much water are your cows drinking? Hoard's Dairyman, May 10.