Levantamento de custo em uma propriedade rural é coisa difícil de se obter, primeiramente devido às reais dificuldades peculiares a uma empresa rural, e também devido à falta de informações e dedicação no levantamento de dados da atividade.
A cana-de-açúcar é considerada, dentre os volumosos tradicionais (silagem de milho, silagem de sorgo, silagem de capim e feno), o volumoso de menor custo. No entanto, trabalhar com cana-de-açúcar requer muita organização. A propriedade deve estar preparada para fazer agricultura anualmente, pois todo ano pelo menos 20% da área deverá ser reformada. Também, como já discutido em outro artigo, o planejamento do canavial para o corte mecanizado deve ser muito bem feito, pois existem problemas na adaptação das máquinas usadas no corte de milho para o corte da cana-de-açúcar.
Ainda em relação a se planejar o corte da cana-de-açúcar, devemos equacionar o tamanho do rebanho, pois, dependendo da necessidade de volumoso diário que deve ser cortado, teremos uma necessidade de mão-de-obra e de máquinas que determinarão o custo da tonelada da cana-de-açúcar, fazendo com que esse volumoso tenha custos muito diferentes entre os sistemas de produção.
Considerando o custo anual de uma canavial na ordem de R$490,00/ha (Quadro 1), para a produção de 80 t/ha (média de 5 anos), temos que o custo da tonelada será de R$6,13. A esse valor deve ser somado o custo de formação (R$1350,00) que deve ser diluído ao longo de 5 anos (R$310,00/ha). Desse modo, chega-se ao custo de R$10,00/t do volumoso. Esse valor é o custo do alimento no campo, sendo necessário adiocionar a ele os custos de corte e transporte.
O custo de corte e transporte está associado ao tamanho do rebanho que será alimentado. Consideraremos 4 situações, onde o que varia é o número de animais a serem tratados com cana-de-açúcar. Dessa forma, cosideraremos rebanhos de 20 animais, 100 animais, 500 animais e 3000 animais, nas 4 diferentes situações analisadas. Considerando um consumo fixo de 20 kg de cana-de-açúcar, verifica-se através do Quadro 2 a necessidade do volumoso a ser cortado diariamente, o número de carretas diárias e a área relativa a cana-de-açúcar que deve ser cortada.
Nota-se que na situação 1 o rebanho é muito pequeno (20 animais), caracterizado por um pequeno produtor de leite que só viabiliza economicamente seu sistema se ele próprio trabalhar na atividade, ou seja, nesse caso, o próprio dono das vacas é quem corta a cana-de-açúcar. O transporte é do tipo tracionado por um animal e a moagem da cana é realizada por um sistema estacionário. Qual o custo do corte, transporte e picagem da cana-de-açúcar, nesse caso? Talvez tenha algum custo, porém seria muito baixo, pois usa todos os recursos do próprio sistema de produção. Portanto, o custo da cana-de-açúcar é muito interessante, pois não seria maior que o seu custo na lavoura (R$10,00).
Para um rebanho de 100 animais, o uso da cana-de-açúcar poderia ser a pior opção. Nesse caso, o custo de corte, transporte e picagem é muito alto, pois todos os dias um trator com uma picadora traseira é levada à lavoura, o corte da cana é manual e a colocação do material na máquina também é manual, isso onera muito o custo, não fica possível racionalizar o sistema, pois o funcionário demora praticamente o dia todo apenas nessa atividade, isso quando não precisa de ajuda de outros. Para esse sistema o custo do volumoso é de R$38,75, esse valor é mais alto que para silagens de milho.
Os outros dois sistemas são maiores. As máquinas de corte usadas são acopladas à lateral do trator. Isso permite uma grande eficiência ao sistema, sendo que, desse modo, o custo da cana é reduzido em relação ao caso anterior. Para o rebanho de 500 cabeças, o uso de um trator, uma máquina forrageira e um vagão forrageiro é possível cortar e transportar as quatro carretas indicadas no Quadro 2.
Já para o sistema 4 (3000 animais), a necessidade de 60 t de cana-de-açúcar diariamente pode inviabilizar o sistema, pois cortar 24 carretas por dia exige um grande investimento em máquinas, sem contar que o corte dessa quantidade é diário e se estende por muitos dias (150 a 180 dias).
A cana-de-açúcar pode não ser o melhor volumoso para o seu sistema de produção, não por apresentar qualidades inferiores a outros volumosos, mas sim por ter custos elevados em determinadas situações ou por inviabilizar determinada necessidade diária do volumoso.
A cana-de-açúcar parece ser uma boa opção para rebanhos muito pequenos ou para rebanhos intermediários. A pior situação é para os rebanhos entre 50 e 300 animais para serem tratados, e é nesse caso que a cana é mais usada. Também, para rebanhos muito grandes, existe uma certa dificuldade devido ao alto emprego de maquinário.
Quadro 2: Custo comparativo da cana-de-açúcar em 4 situações com diferentes tamanhos de rebanho