O prolapso uterino é um episódio que causa muita preocupação com os procedimentos para sua redução. O prolapso ocorre quando parte do trato reprodutivo é projetado pela vagina, geralmente acontecendo após o parto. Os fatores que predispõem esta ocorrência são partos onde ocorrem contrações excessivas (distócicos e gemelares), hipocalcemia, retenção de placenta e infecção uterina. O evento apresenta maior prevalência em vacas pluríparas e com relaxamento excessivo dos ligamentos pélvicos. Com base na variedade dos fatores causais, pode se imaginar como é difícil atuar na prevenção do problema.
O prolapso uterino requer um tratamento de urgência e os casos não tratados costumam ser fatais. Muitas vezes, mesmo com a presença do Veterinário, a perda do animal pode ocorrer devido à ruptura da artéria mediana do útero. Este vaso, que pode apresentar a espessura do dedo polegar, é a principal via de irrigação do útero durante a gestação. Nos casos de ruptura, não há uma maneira efetiva de controlar a hemorragia.
A redução do prolapso é um verdadeiro desafio! Esta manobra requer muita força, pois o útero deve ser erguido acima da vulva para que a gravidade possa ser uma auxiliar no procedimento e não um empecilho. Um útero edemaciado pode pesar mais de 50 Kg.
O útero evertido é semelhante a uma mala virada do avesso. A superfície que é observada no útero prolapsado é, na realidade, a face interna do útero que envolve o feto durante a gestação (o endométrio). É através desta superfície que o feto recebe os nutrientes durante a gestação. A placenta é conectada à parede do útero por estruturas chamadas carúnculas. Estas carúnculas podem ser de vários tamanhos, algumas têm até 10 cm. Tais estruturas são responsáveis pela chegada do sangue materno até a placenta. Na placenta existem os cotilédones, projeções que se conectam às carúnculas.
O inchaço e aumento de volume do útero ocorrem rapidamente após o prolapso. Sem dúvida, este aumento de volume do útero é um dos principais empecilhos para o retorno à posição anatomotopográfica. O edema ocorre devido ao grande fluxo e pressão da chegada de sangue na região e ao lento e difícil retorno sanguíneo devido à ocorrência do trauma.
No intuito de prevenir uma maior distensão do útero e também para aliviar a dor do animal, deve ser feita uma anestesia peridural. A anestesia peridural facilita a manobra, inibindo contrações e a defecação durante a operação. Esta anestesia é um procedimento com baixo custo, prático e eficiente, no qual o anestésico local é aplicado no espaço peridural entre a última vértebra sacral (S5) e a primeira coccígea (Co1) ou entre a primeira e segunda coccígea (Co1-Co2). Atenção especial deve ser dada à assepsia no local da aplicação. A penetração do canal pela agulha é seguida por uma pequena sucção devido à pressão subatmosférica ali existente. O anestésico utilizado é a Lidocaína 2%, 1mL/100kg.
Antes de iniciar a redução do prolapso, o útero deve ser lavado com bastante água corrente e uma solução diluída de polivinil-pirrolidona de iodo (PVPI). Os restos de placenta e corpos estranhos devem ser retirados neste momento. Para auxiliar o retorno do órgão à sua posição, pode ser utilizado um lubrificante obstétrico. Na redução propriamente dita, o útero deve ser erguido e mantido acima da vulva do animal; inicia-se, então, uma pressão suave, firme e constante da porção mais próxima à vulva. Deve-se evitar manobras bruscas que possam perfurar ou rasgar a parede do útero. Após uma parte do órgão ser empurrada, a gravidade ajudará a levar o restante do útero para seu local.
Depois de colocado em sua posição anatômica, deve-se certificar que o útero não contém dobras ou torções. É importante colocar um antibiótico no lúmen do útero para prevenir futuras infecções devido às contaminações ocorridas durante a manipulação.
Deve-se ainda, suturar a vulva com uma técnica recomendada para este procedimento, tais como a Técnica de Buhner, Técnica de Flessa e a Sutura de Tensão. Esta é uma medida importante para evitar que o ar seja sugado para dentro e para fora do útero, causando um esforço e um desconforto adicional ao animal. No momento da sutura, recomenda-se deixar livre uma área na vulva, suficiente para escoar a urina. A aplicação de Oxitocina e a soroterapia com Cálcio são importantes para manter o tônus muscular e auxiliam a conservação do útero na posição correta. A antibióticoterapia parenteral deve ser utilizada para prevenir infecções.
A prevenção do prolapso uterino está associada com as medidas de controle da hipocalcemia. Deve-se ainda, evitar animais com excesso de peso no momento do parto. Regiões com o trevo estrogênico nas pastagens apresentam um risco sempre maior de prolapsos, mesmo nos animais que não estão em gestação.
Fonte: Hoard's Daryman, julho de 2002.