Confesso que durante alguns anos, durante minha graduação prestava muita atenção em aulas, conversas e trocas de informações sobre experiências inovadoras... nada contra, elas são válidas e sempre existirão mas, hoje, avalio sistemas de produção sob o ponto de vista de otimização das propriedades como um todo. Por ser a fonte de receita da propriedade, sempre avaliamos e nos preocupamos com os lotes em produção, claro. Nos preocupamos em melhorar a dieta a alimentação, o manejo da pastagem, a qualidade da silagem para que nossas vaquinhas produzam cada vez mais. Ok! E o restante do sistema? Gera despesas ao nosso bolso, passa despercebido muitas vezes e técnicas e manejos acabam, por vezes, sendo negligenciados.
Apenas como exemplo ilustrativo, abordemos a questão do manejo nutricional.Em sistemas intensivos de produção, com animais especializados é necessário formularmos e fornecermos (total mix, se possível) dietas de qualidade ou manejarmos adequadamente a altura de resíduo (no caso de pastagens) associado à um bom suplemento concentrado. Isso para animais em produção. E os animais em crescimento? E animais secos? A lactação é consequência de um manejo adequado no período seco. Vacas parindo com condição corporal indadequada tendem a apresentar maiores chances de problemas pós-parto, como consumo inadequado de MS, balanço energético negativo mais incidente e maiores distúrbios metabólicos. Então: o que podemos fazer?
Vamos um "case". O diagnóstico foi feito: " Sr. Carlos, o problema do Sr. está no manejo do gado seco e no manejo das suas novilhas em crescimento... o Sr. precisa melhorar sua pastagem, suas vacas não estão tendo disponibilidade de comida, essa braquiaria que elas estão comendo é muito pouco, dessa forma não tem jeito de colocarmos as vacas no momento do parto com adequado escore de condição corporal (ECC). A minha sugestão é que o Sr. implante um módulo rotacionado com uma forrageira boa como tanzânia e mombaça. O Sr. pode usar tifton também, dá um pouco mais de trabalho para formar, mas o resultado é muito bom. O Sr. pode até gastar um pouco mais para formar esse piquete, mas olha, vai economizar ração.." Onde está o erro desta avaliação? O que está errado nesta simulação comum de conversa cotidiana entre produtor e técnico? Dentro do meu ponto de vista o erro está na abordagem e na falta de capacidade de encontrar solução no que está em vigência, ou seja, por quê a braquiaria está baixa? Há necessidade real de substituí-la por uma forrageira de maior produtividade (mas também de maior custo de manutenção e muito mais exigente em termos de fertilidade do solo?). Será que não seria possível a implantação de um módulo rotacionado na Brachiaria decumbens do exemplo acima. Qual será o investimento necessário para implantação do mesmo? Qual a correção do solo e fosfatagem necessária (elevação do teor de P no solo, necessária para plantas mais exigentes)? Será que se não propusermos a implantação de um rotacionado na braquiarinha mesmo, com um período de descanso maior e apenas a realização de calagem não seria mais apropriado.
É grande a quantidade de áreas de pastagem e/ou piquetes mal dimensionados e manejados em muitas propriedades de leite. Não vejo como desafio a espécie utilizada mas sim a forma, o modo de aproveitamento. É comum encontrarmos áreas que são encaradas como "refugo", "fundões", "baixadas" que poderiam ser piqueteadas e muito bem aproveitadas para recria e/ou gado seco. A idéia vale para sistemas confinados também. É possível economizar manejando bem pastos no período e dando um descanso aos cascos de animais estabulados durante a lactação (caso dos free-stalls).
Antes de abrimos novas frentes de trabalho, acredito que o caminho seria corrigir e explorar ao máximo aquilo que está disponível à nossa frente. A economia é grande e os resultados são supreendentes. Tenho manejado vacas holandesas com suplementação no cocho, claro, mas com dieta econômica e piquete de decumbens sem grandes problemas e excelente ECC média da categoria. Infelizmente, em muitas fazendas e sistemas encontramos enorme potencial desperdiçado.