Muitos produtores também acreditam que o problema da consangüinidade restringe-se apenas ao nascimento de animais com defeitos genéticos. No entanto, os prejuízos ocasionados pela consangüinidade vão mais além: ela também prejudica o desempenho produtivo e reprodutivo dos animais. Como grande parte dos produtores não faz escrituração zootécnica, esses prejuízos acabam passando despercebidos.
É verdade que a consangüinidade pode ser utilizada como ferramenta para promover o melhoramento genético dos rebanhos. E, desde que orientado por um técnico especializado, o produtor tem condições de tirar proveito dela, pois seu uso de maneira criteriosa permite a detecção de genes recessivos deletérios no rebanho e a seleção através do descarte dos animais portadores desses genes.
Além disso, a exploração da prepotência do animal consangüíneo (tendência para imprimir suas características com maior intensidade), facilita a uniformização racial e a fixação de características que o produtor considera desejáveis.
Apesar dos benefícios citados, de maneira geral, a consangüinidade é considerada prejudicial. E, como já foi afirmado, além do aumento da incidência de defeitos genéticos, ela influencia de maneira negativa o desempenho produtivo e reprodutivo dos animais. No Quadro 1 são apresentados os resultados obtidos com estudos envolvendo os efeitos da endogamia, realizados com diversas espécies animais exploradas economicamente, e que têm evidenciado esse aspecto.
Quadro 1. Resultados de estudos sobre efeitos da consangüinidade realizados com diversas espécies animais.
Quando se trata de caprinos e ovinos, praticamente não se encontram trabalhos desta natureza no Brasil. Mas, em países como Índia, Escócia e Estados Unidos, pesquisadores já obtiveram alguns resultados com ovinos.
Quadro 2. Resultados de estudos sobre efeitos da endogamia realizados com ovinos na Índia, Escócia e Estados Unidos.
Com base nessas informações, é possível perceber que a influência negativa da consangüinidade sobre o desempenho produtivo e reprodutivo dos ovinos é bastante significativa, devendo algo semelhante ocorrer com os caprinos.
Sabe-se que os desempenhos produtivo e reprodutivo dos animais têm impacto econômico. Sendo assim, fica fácil concluir que um rebanho com alto nível de consangüinidade terá seu desempenho geral reduzido, e conseqüentemente, os lucros do produtor também serão diminuídos. Este é um aspecto importante que não deveria ser esquecido pelo produtor de rebanhos comerciais ao realizar acasalamentos consangüíneos.
Porém, na prática, não é o que acontece. Muitos desses produtores nem têm conhecimento dos aspectos negativos da consangüinidade. Esses efeitos adversos poderão ser minimizados apenas quando eles tomarem consciência sobre a importância de manter baixo o nível de consangüinidade dos rebanhos.
Alguns produtores começam a caminhar nessa direção. É o caso dos que participam do Programa de Melhoramento Genético de Caprinos e Ovinos de Corte - GENECOC - da Embrapa Caprinos. O programa consiste numa assessoria genética aos produtores, a qual compreende avaliação genética dos animais, além da orientação dos acasalamentos, de acordo com os objetivos de cada produtor e com as particularidades de cada rebanho, sempre visando maior produção de carne e pele por hectare, em determinado tempo e a menores custos.
Portanto, de uma maneira geral, para os produtores de rebanhos comerciais, o mais indicado é evitar os acasalamentos consangüíneos, a fim de minimizar esses efeitos indesejáveis.