Para o controle da Piroplasmose pode-se recorrer ao controle dos vetores, à quimioprofilaxia e à vacinação. Estas opções de controle estão sendo continuamente aprimoradas pela pesquisa, mas ainda merecem muito estudo, e tudo indica que serão aperfeiçoadas no futuro. Mas como abordar o controle da tristeza parasitária, sem antes entender um pouco da epidemiologia da doença? Uma noção sobre a epidemiologia irá favorecer a compreensão da enfermidade e a aplicação das medidas de controle de acordo com cada região.
EPIDEMIOLOGIA: epi = sobre; demos= população; logos= tratado. A epidemiologia estuda o processo saúde - doença, analisa a distribuição e os fatores determinantes da enfermidade, bem como, propõe medidas de prevenção, controle ou erradicação, fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, administração e avaliação das ações.
O conhecimento epidemiológico é fundamental para o entendimento e para a prevenção de qualquer doença. A epidemiologia entende o espaço (clima, vegetação, latitude) como um fator determinante para a ocorrência da doença. O número de vetores no ambiente é um fator importante na epidemiologia da piroplasmose, sendo o primeiro passo para entender a dinâmica do controle da doença em diferentes regiões.
No Brasil é possível encontrar diferentes cenários:
• áreas naturalmente livres, áreas que na maior parte do ano apresentam condições climáticas pouco favoráveis ao desenvolvimento do carrapato (extremo sudeste do Rio Grande do Sul, por exemplo);
• áreas de instabilidade endêmica, na qual o carrapato interrompe o seu ciclo por um período de dois a três meses (devido ao frio);
• áreas de estabilidade endêmica, demais regiões do País com condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento do carrapato durante todo o ano (o controle excessivo do vetor pode comprometer a estabilidade de algumas regiões)
Nas áreas onde a população de vetores é alta e presente durante todo o ano, a maioria dos animais jovens é infectada antes dos nove meses de idade, quando ainda possuem resistência natural. A resistência dos animais jovens se deve à presença de anticorpos colostrais, maior eritropoiese da medula óssea, rápida resposta da imunidade celular e presença de hemoglobina fetal nos eritrócitos. Nestes casos, não são esperados surtos de piroplasmose, nem mortalidade de animais adultos, pois estes animais já estarão na fase de portadores. O cenário descrito neste parágrafo é denominado Estabilidade endêmica.
Nas áreas onde há flutuação na população de vetores devido a condições climáticas desfavoráveis, manejo inadequado (por exemplo: tipo de instalação que não favoreça a infestação) e medidas de controle inapropriadas dos vetores, os animais jovens não são infectados com a piroplasmose. Porém quando adultos, ao entrarem em contato com os agentes, sofrem doença clínica aguda com alta taxa de mortalidade. O cenário descrito neste parágrafo é denominado Instabilidade endêmica.
Para determinar se uma área é instável ou estável recomenda-se a sorologia do rebanho, realizando a colheita de sangue de uma amostra representativa dos animais com idade acima de 9 meses (10%). A ocorrência de mais de 75% de animais positivos para Tristeza Parasitaria indica que grande parte dos animais já adoeceu (primoinfecção precoce, durante a fase mais resistente às plasmoses) e está resistente, caracterizando uma área como Estável. Porém, se menos de 75% dos animais apresentam sorologia positiva, a maioria dos animais ainda não sofreu a infecção, e está exposta ao risco de apresentar um quadro agudo e fatal de Tristeza Parasitária, caracterizando a área como Instável.
Neste ponto já é possível observar que uma importante informação de controle é oferecida pelos dados epidemiológicos da doença: a mudança na intensidade da população de carrapatos nos bovinos afeta a taxa de inoculação de protozoários no hospedeiro. Para a manutenção da estabilidade é necessária uma população mínima de vetores. Por isso, já se sabe que a população de carrapatos deve ser controlada em níveis economicamente viáveis, favorecendo a manutenção da capacidade de resposta imunológica ao aumento da parasitemia. Recomenda-se que o número de carrapatos para manutenção da resposta imunológica, sem causar prejuízos devido ao parasitismo, é de aproximadamente 15 teleógenas/animal/dia.
Com poucas informações sobre a epidemiologia fica simples perceber que o carrapato não deve ser erradicado da propriedade, porém controlado. No próximo artigo serão abordadas as características da quimioprofilaxia, as opções de vacina e suas limitações. A convivência com a Piroplasmose não é simples, exige atenção com o manejo dos animais desde o fornecimento do colostro após o nascimento, o diagnóstico precoce de casos clínicos e também, a manutenção dos vetores na propriedade. Os métodos de controle auxiliam a redução das perdas, mas a convivência com a doença ainda é complexa.
Fonte:
Barros, S.L., et.al. Serological survey of Babesia bovis, Babesia bigemina, and Anaplasma marginale antibodies in cattle from the semi-arid region of the state of Bahia, Brazil, by enzyme-linked immunosorbent assays. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, v.100, n.6, 2005.
Gonçalves, P.M. Epidemiologia e controle da tristeza parasitária bovina na região sudeste do Brasil. Ciência Rural, v.30, n.1, p.187-194, 2000.
Kessler, R.H.; Schenk, M.A.M. Quando e como vacinar contra Tristeza Parasitária. https://www.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/divulga/GCD40.html - acessado em 16/05/2008
Ribeiro, M.F.B; Passos, L.M.F. Tristeza Parasitária Bovina. Cad. Tec. Vet. Zootec., v.39, p.36-52, 2002.