A babesiose e a anaplasmose constituem um dos principais problemas sanitários da atividade leiteira e ocasionam grandes prejuízos. A babesiose é causada por um protozoário (babesia) e a anaplasmose é causada por uma bactéria/riquetsia (anaplasma). Ambas são consideradas um só complexo de enfermidade, denominada Tristeza Parasitária ou Piroplasmose. Ambas podem ser transmitidas pelos carrapatos (Boophilus microplus).
No caso da anaplasmose, o carrapato é considerado o vetor biológico, uma vez que o Anaplasma marginale se multiplica no intestino do carrapato. Já as moscas hematófogas são consideradas vetores mecânicos do Anaplasma marginale, pois a transmissão ocorre no momento da picada, de forma mecânica (de animal para animal).
Nas áreas de estabilidade enzoótica, os animais são expostos aos agentes causadores da tristeza parasitária logo após o nascimento, possibilitando o desenvolvimento gradativo da imunidade. Porém, falhas de manejo no controle do carrapato, com o combate excessivo ao Boophilus microplus, podem ocasionar baixa exposição aos agentes, e conseqüente queda da imunidade. Desta forma, áreas de estabilidade enzoótica podem se tornar áreas de instabilidade enzoótica, e nestes casos, a enfermidade pode se manifestar de forma aguda. O mesmo ocorre quando animais provenientes de áreas de instabilidade são transferidos para regiões de estabilidade enzoótica (animais trazidos do Uruguai para o sudeste do Brasil, por exemplo).
Os sintomas da anaplasmose e da babesiose são semelhantes, ambas causam febre, falta de apetite, icterícia e anemia. Na babesiose, além dos sintomas citados, pode-se observar ainda hemoglobinúria (urina com coloração avermelhada de sangue), fezes com leves estrias de sangue e sintomatologia nervosa. Na prática, os funcionários devem ser treinados para identificar os primeiros sintomas de mudança no comportamento dos animais. Dentre eles: animais isolados do grupo, animais deitados próximos ao cocho d´água, animais com cabeça baixa (apatia) e animais evidenciando cansaço, com movimento respiratório evidente nos flancos (dispnéia e taquicardia).
O diagnostico laboratorial é indispensável para confirmar o diagnóstico clínico e identificar o agente responsável. O método mais prático e mais usado é o esfregaço sangüíneo, o sangue deve ser colhido na orelha ou na extremidade da cauda do animal (aconselha-se fazer no mínimo três laminas por animal). Dentre os testes sorológicos pode-se optar pela imunofluorescência direta (IFI) e o teste de conglutinação rápida (TCR).
No, entanto devido ao caráter agressivo da tristeza parasitária, não é possível aguardar o resultado laboratorial para iniciar o tratamento. O diagnostico laboratorial irá auxiliar o tratamento, mas antes de qualquer coisa, o animal deve ser medicado (salvo as propriedades que têm condições de realizar o exame na própria fazenda). Na realidade, o sucesso da terapia contra a piroplasmose depende do diagnóstico precoce e do pronto tratamento do animal afetado. O prognóstico dos quadros de tristeza parasitária está diretamente associado à fase de desenvolvimento da doença em que é realizado o tratamento.
Por fim, o controle da tristeza parasitária passa por diferentes etapas do manejo da propriedade. Iniciando com a qualidade do manejo do colostro para favorecer a proteção dos animais jovens, passando pela manutenção de uma adequada infestação de carrapatos e finalizando pela adequação do tipo instalação para favorecer um freqüente contato do rebanho com os carrapatos.
Fonte:
Kuttler, K.L. Chemotherapy of babesiosis: A review. In: Babesiosis. Ristic, M.; Kreier, J.P. New York: Academic Press, 1981.
Lourdes, A.Z.D., et al. Condição imunológica de bovinos das raças Holandesa e Nelore frente a Babesia bovis e B. bigemina em duas regiões do Estado de São Paulo. Pesq. Vet. Bras., v.26, abr/jun, 2006.
https://www.vet.uga.edu/VPP/gray_book02/fad/bab.php (consulta em 05/04/2008).