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O manejo pré-abate, o bem-estar e a qualidade da carne ovina

POR CAMILA RAINERI

E AUGUSTO HAUBER GAMEIRO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 03/05/2010

6 MIN DE LEITURA

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Este mês escolhemos o trabalho "Effect of the pre-slaughter logistic chain on some indicators of welfare in lambs", publicado em outubro de 2009 na revista Livestock Science, para analisar em nossa seção. A pesquisa foi conduzida na Espanha, e é interessante por tratar de alguns assuntos bastante atuais para a ovinocultura de corte brasileira, como o início da prática de confinamentos coletivos e a preocupação com o bem-estar dos cordeiros.

O fornecimento de cordeiros é uma atividade estratégica para a indústria da carne ovina e inclui vários pontos críticos, tais como o embarque dos animais na propriedade, o transporte até o abatedouro, o desembarque e o abate. Novas etapas intermediárias têm sido adotadas em várias regiões, tornando o mercado e sua logística mais complexos e dinâmicos. Alguns destes novos fatores são a venda de animais ainda não terminados, os confinamentos coletivos de associações de produtores ou frigoríficos, ou ainda os confinamentos do sistema "hotel" nos quais o produtor paga uma diária pela terminação dos seus animais. Estes avanços podem elevar a eficiência dos sistemas, porém também se corre o risco de aumentar o estresse pré-abate, levando a condições inadequadas de bem-estar.

Na Espanha, os cordeiros de corte são abatidos mais leves (8,5 a 13 kg de carcaça) e com até 3 meses de idade. Eles são alimentados à base de concentrado até a desmama (45-50 dias) e então se adicionam também fenos e outros volumosos à dieta. Estes animais são normalmente mantidos confinados e produzem uma carne rósea com gordura branca, muito apreciada por suas características sensoriais. Naquele país, a fase pré-abate da cadeia inclui um elo entre a fazenda e o abatedouro, representado pelos centros de classificação.

Os centros de classificação são úteis por proporcionarem simplificação do manejo nas propriedades, por serem uma opção para fugir da escassez de mão de obra especializada e por possibilitarem melhor padronização das carcaças. Dependendo do peso com o qual os animais chegam ao centro, podem permanecer no local por alguns dias ou semanas até alcançarem o peso ideal para abate. Como resultado, duas viagens são realizadas em um curto período de tempo (da propriedade ao centro e então ao abatedouro).

Vários fatores estressantes aos animais durante o transporte têm sido estudados. Nesse sentido sugerimos a leitura da dissertação de Thays Mayra da Cunha Leme (Leme, 2009) intitulada "Métodos de transporte e períodos de descanso pré-abate sobre nível de estresse e qualidade de carne de ovinos", defendida no final de 2009 na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA/USP).

Ainda sabemos muito pouco sobre o efeito dos centros de classificação sobre o bem-estar e a qualidade de carne dos cordeiros. O objetivo do trabalho que apresentamos foi analisar o efeito do tempo de permanência nos centros de classificação sobre indicadores fisiológicos de bem-estar e sobre a qualidade da carne dos cordeiros.

Os autores conduziram o estudo na cidade de Zaragoza, norte da Espanha, tanto no período do inverno (com temperaturas em torno dos 17,4°C e 62,3% de umidade) quanto no verão (com média de 30,9°C e 35,45% de umidade). Foram utilizados 144 cordeiros, alojados em um centro de classificação com capacidade para 180 mil cordeiros por ano. Neste centro, os animais foram divididos em três grupos, de acordo com seu peso à chegada e, consequentemente, com o tempo que iriam permanecer no local até atingirem o peso de abate: G0 (animais que permaneceram apenas algumas horas no centro de classificação), G7 (animais que permaneceram 7 dias em confinamento no centro) e G28 (animais que passaram 28 dias em confinamento no centro).

O primeiro grupo (G0) era formado por animais com 100 dias de idade e 28,3 +0,25 kg, o segundo grupo (G7) por animais com 93 dias e 25,5+5 kg, e o terceiro grupo (G28) por animais com 72 dias e 17,3+0,25 kg. A Figura 01 demonstra os tempos de transporte e confinamento para cada grupo.

Figura 01 - Tempos de transporte e confinamento para cada grupo no centro de classificação.

Clique na imagem para ampliá-la.

Foram coletadas amostras de sangue para realização de diversas análises, e também contadas as contusões nas carcaças e medido o pH da carne após o resfriamento. Os resultados apontaram efeitos da estação do ano e também do período de permanência no centro de classificação sobre o estresse dos animais.

Percebeu-se que os animais confinados no inverno tiveram níveis mais elevados de estresse do que os confinados durante o verão. Na maior parte das regiões brasileiras este resultado provavelmente seria inverso, pois nosso inverno é seco e nosso verão chuvoso, ao contrário do verificado na região do estudo.

O período de confinamento afetou o estresse sofrido pelos animais de duas formas: verificou-se um estresse agudo no grupo G0, causado pelas duas viagens realizadas no mesmo dia, brusca mudança de manejo e reconfiguração dos lotes. No entanto, os animais que ainda permaneceram no centro demonstraram adaptar-se às novas condições, superando o estresse agudo e entrando em uma fase de estresse crônico, menos intenso, porém crescente e persistente.

Os indicadores fisiológicos de estresse crônico estudados demonstraram que quanto mais tempo os cordeiros passaram no centro de classificação, mais intensas as alterações em sua fisiologia. Os fatores enumerados pelos autores para explicar o fato envolvem a densidade de animais mais alta no centro de classificação do que os cordeiros experimentariam em suas propriedades de origem (0,45 m2 por cordeiro nas condições do estudo, o que realmente representa um espaço bastante reduzido), a menor atenção despendida pelos funcionários do centro de classificação, o maior tempo de exposição a possíveis doenças (especialmente com a queda de imunidade ocasionada pelo estresse) e o repetido processo de contenção e pesagem ao longo do período.

A qualidade da carne não sofreu alterações nos três grupos de cordeiros estudados.
Os autores concluíram que o centro de classificação, nas condições do estudo, representou uma fonte de estresse para os animais, comprometendo, portanto seu bem-estar. Eles ressaltaram também que controles ambientais mais eficientes deveriam ser aplicados nas instalações destes centros, para minimizar os efeitos de condições climáticas adversas. Recomendou-se também que sejam elaborados alguns protocolos a respeito dos pontos mais críticos para o bem-estar dos cordeiros nos centros, como a reorganização social e a densidade.

Cabem mais algumas colocações a respeito do estudo e das condições brasileiras. A medida da linha de cocho por animal não foi mencionada no estudo, e é uma informação bastante importante especialmente quando se tratam de animais em engorda e quando se misturam lotes, o que gera instabilidades hierárquicas. A densidade animal apresentada é extremamente alta, e certamente contribui para condições pouco adequadas de bem-estar e a rápida disseminação de qualquer doença que possa se manifestar. As instalações devem ser projetadas de forma a dissipar o calor excessivo gerado por esta aglomeração de animais, especialmente em regiões de clima quente e úmido como em grande parte do nosso país.

Por outro lado, é necessário lembrar que cordeiros muito jovens (como no caso do estudo comentado) possuem temperatura de conforto um pouco acima do ideal para animais adultos, e o frio deve ser uma preocupação principalmente quando associado a ventos. Medidas para atenuar o estresse dos animais, como o enriquecimento ambiental, o manejo gentil e instalações inteligentes para pesagens e apartações precisam ser cada vez mais uma preocupação para pesquisadores, criadores e indústria.

Nossa intenção não é, de forma alguma, criar pré-conceitos em relação aos confinamentos coletivos que estão se instalando no Brasil. Pelo contrário, acreditamos que este tipo de iniciativa, bem como o associativismo e outras formas de organização são essenciais para conquistarmos escalas de abate e padronização de carcaças, tão necessários à atividade. Nosso objetivo com este artigo é lembrar que um bom planejamento é essencial para a operação destes estabelecimentos, para aumentar sua eficiência e reduzir o custo biológico dos animais durante o processo de adaptação.

Referências bibliográficas

MIRANDA-DE LA LAMA, G.C.; RIVERO, L.; CHACÓN, G.; GARCIA-BELENGUER, S. Efect of the pre-slaughter logistic chain on some indicators of welfare in lambs. Livestock Science 128, p. 52-59. 2010.

LEME, T.M.C. Métodos de transporte e períodos de descanso pré-abate sobre nível de estresse e qualidade de carne de ovinos. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo, Departamento de Zootecnia. 2009. 95f. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/74/74131/tde-12042010-133357.

CAMILA RAINERI

Zootecnista formada pela FZEA/USP, com mestrado pela mesma instituição. Doutoranda pela FMVZ/USP. Responsável Técnica pela Paraíso Ovinos e consultora em Ovinocultura.

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CAMILA RAINERI

LEME - SÃO PAULO

EM 18/05/2010

Prezado Roberis Ribeiro da Silva,

O artigo não descreve bem as instalações. Diz apenas que foi conduzido em um centro de engorda e classificação pertencente a uma cooperativa de produtores, e que as instalações estão de acordo com as exigências técnicas da União Européia. Este centro possui três galpões, sendo que um abriga um curral para manejo e formação de lotes e cada um dos outros dois é dividido em 50 baias coletivas (25 de cada lado de um corredor central).

Cada baia possui 18m2 e capacidade para 40 animais, portanto a área por cordeiro é de 0,45m2 (o que é bastante apertado). Infelizmente, não há informações no artigo a respeito dos materiais utilizados na construção nem como cama ou das demais medidas dos galpões.

Estas informações seriam muito interessantes para compreendermos melhor o efeito sobre os animais.

Atenciosamente,

Camila

CAMILA RAINERI

LEME - SÃO PAULO

EM 18/05/2010

Prezado Thiago Henrique da Silveira Borges,

Existem muitas raças de ovinos de corte, inclusive a Suffolk e a Dorper, e cada uma tem suas qualidades e seus pontos menos favoráveis. Não é possível dizer qual é a melhor, pois tudo depende dos objetivos da criação, das características da carcaça a ser obtida, dos recursos disponíveis para a criação, do sistema de manejo (a pasto? confinado?), das características climáticas e do ambiente em que os animais serão criados... enfim, são muitos os fatores que devem ser considerados no momento da escolha da raça (ou raças) a ser(em) criada(s).

A respeito do manejo da pastagem, o sistema rotacionado oferece vantagens em relação ao contínuo em vários aspectos, como na redução do problema da verminose. Um ponto importante é que, para que essa vantagem exista, é necessário que os animais não permaneçam mais que 3-4 dias em cada piquete, especialmente na época em que a forragem é mais escassa.

Espero ter ajudado.

Camila
ROBERIS RIBEIRO DA SILVA

SALVADOR - BAHIA

EM 17/05/2010

Conforme mencionado a densidade é algo preocupante. Pergunto: Quais as medidas destas instalações (altura, comprimento, largura..) e quais os materiais utilizados na construção destes centros (madeira, cimento, telha...).
THIAGO HENRIQUE DA SILVEIRA BORGES

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - SÃO PAULO - ESTUDANTE

EM 03/05/2010

Oi boa tarde! Gostaria de saber melhor, qual a raça de ovino, mais indicada para a criação de ovino de corte, se é a Suffolk ou a Dorper e também qual a forma de manejo de pastagem se é o sistema contínuo ou rotacionado. Com a preocupação de verminose !
Obrigado pela atenção.

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