Renata de Oliveira Souza Dias
As doenças do periparto, como por exemplo as desordens metabólicas que têm origem nutricional e resultam em sintomas agudos que requerem tratamento, afetam sobremaneira o desempenho animal durante a lactação. O período de maior incidência dessas doenças (febre do leite, deslocamento de abomaso, cetose, retenção de placenta, metrite, laminite) vai desde alguns dias antes do parto até o pico da lactação.
Na maioria dos casos, o produtor não sente o impacto negativo dessas desordens do periparto até que elas se tornem um problema evidente, com vários casos clínicos. No entanto, as perdas começam logo que uma vaca recém parida desenvolve um problema sub-clínico, e o problema persiste por algum tempo até que seja, então, diagnosticado. Por exemplo, foi constatado numa pesquisa da Universidade de Cornell - USA, que 30 % do total das perdas na produção de leite ocasionado pelo deslocamento de abomaso ocorrem antes do diagnóstico do problema. Outra pesquisa da mesma universidade buscou mensurar as perdas diárias na produção de leite de vacas acometidas com problemas metabólicos durante os primeiros 30 dias da lactação; observe os resultados obtidos no gráfico 1 abaixo.
Gráfico 1 - Redução na produção de leite devido a desordens do peri-parto
Considerando um rebanho de 100 vacas, as doenças do periparto podem ocasionar durante os primeiros 30 dias de lactação perdas da ordem de R$520,00, considerando apenas, a redução da produção de leite (tabela 1). Mas, infelizmente, os prejuízos não param por aí; eles afetam também os índices reprodutivos e a taxa de descarte do plantel.
Tabela 1- O alto preço das desordens metabólicas do periparto - perdas na produção de leite
Um dos piores problemas é que, mesmo após os sinais clínicos da doença desaparecerem e a produção de leite normalizar, o distúrbio ocorrido continua a atrapalhar o desempenho animal durante a lactação, aumentando suas chances de descarte. Uma pesquisa realizada em 1998 observou os efeitos de sete doenças do periparto sobre a taxa de descarte. Os dados obtidos evidenciaram que durante os primeiros 30 dias de lactação um animal que tenha sido acometido com um deslocamento de abomaso tem 2,3 vezes maior predisposição para ser descartado quando comparado com um animal que não tenha apresentado o problema. Já um animal acometido com cetose tem 1,9 vezes maior predisposição para o descarte que uma vaca sadia. Veja a tabela 2 com os resultados obtidos nesta pesquisa.
Tabela 2- Doenças do periparto e o aumento do risco de descarte do animal
E, como foi dito anteriormente, além das perdas na produção e do aumento das taxas de descarte, há ainda o impacto negativo das doenças do periparto sobre o desempenho reprodutivo dos animais durante a lactação. Vacas que foram acometidas por cetose apresentam em média um período de serviço de 100 dias e uma taxa de concepção ao primeiro serviço de 40%, ao passo que vacas sadias, não acometidas por cetose, apresentam em média um período de serviço de 80 dias e uma taxa de concepção ao primeiro serviço de 75%. Outro bom exemplo é a taxa de concepção de vacas acometidas por retenção de placenta e metrite, que são 14% e 15% menores que as de vacas sadias respectivamente.
Em última análise, fica a ressalva de que para cada real salvo nos custos significa um real a mais na rentabilidade da atividade.
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fonte: Dairy Herd Management, Agosto – 2000