“A união faz a força”. Esse ditado popular muito conhecido, nos mostra uma verdade: seres humanos precisam uns dos outros. E precisamos uns dos outros em todas as esferas: no ciclo familiar, na vida em comunidade, no meio profissional. Mas, por que estamos falando disso?
A produção de leite na propriedade rural é uma das muitas etapas que integram a cadeia produtiva do leite. De forma resumida, essa cadeia é uma sucessão de etapas necessárias para se transformar insumos em um produto final, que pode ser o leite propriamente dito ou derivados.
Portanto, para desenvolver sua atividade profissional, o produtor de leite precisa de muitas outras pessoas. Como exemplos, podemos citar os fornecedores dos mais diversos insumos, os profissionais que prestam consultoria técnica, os funcionários ou outros membros da família que trabalham na produção, o motorista do transporte que faz a coleta do leite na propriedade, os colaboradores do laticínio, e até mesmo o consumidor final de produtos lácteos.
Além disso, a cadeia produtiva do leite, como um todo, é influenciada por três principais ambientes, além do mercado:
- Ambiente institucional, que inclui as leis, normas e regras que norteiam a produção;
- Ambiente organizacional, que envolve os organismos de representação de classe;
- Ambiente tecnológico, que envolve as diversas tecnologias utilizadas em todo o processo produtivo.
Dessa forma, podemos dizer que, ainda que de forma indireta, o produtor de leite precisa de muitos outros “atores”, como aqueles que elaboram e instituem leis, os formadores de políticas públicas, os pesquisadores de diversas áreas, como nutrição, saúde e reprodução animal, os líderes de sindicatos rurais, entre tantos outros.
Mas, o que dizer de um produtor de leite que precisa de outros produtores?
Nos últimos anos, o incremento da competitividade do setor lácteo brasileiro vem se baseando no aumento da produtividade, ou seja, a produção de leite aumentou, enquanto o número de estabelecimentos rurais que produzem leite, bem como o quantitativo de vacas ordenhadas, diminuiu.
Muitos fatores têm sido apontados como motivadores para que o produtor deixe a atividade leiteira ou migre para o mercado informal. Elevação dos custos de insumos e da mão de obra, dificuldade em atender aos requisitos de volume e qualidade impostos pela indústria e/ou legislação, dificuldade de acesso a crédito e a baixa margem de lucro da produção, ou até mesmo prejuízo, são apenas alguns desses fatores.
Nesse sentido, uma estratégia que muitos produtores vêm lançando mão para permanecer na atividade e torná-la mais rentável, é união de esforços por meio de cooperativas e associações. Mas, quais seriam os reais benefícios que a ação coletiva pode trazer aos produtores de leite?
No meio rural, a ação coletiva tem o papel de impulsionar o desempenho produtivo, econômico e social dos produtores.
Não são poucos os estudos científicos de várias partes do mundo, que mostram que a organização de produtores rurais em associações ou cooperativas, incluindo produtores de leite, pode resultar em ganhos com economia de escala, já que, em grupo, podem comprar insumos e vender leite em maior quantidade para a indústria, o que gera melhores preços e redução dos riscos relacionados à falta de negociação ou atrasos de pagamentos, diluindo custos de produção e custos de transação.
O acesso ao crédito e à assistência técnica também pode ser facilitado, o que permite maior disseminação de informações, aumento na eficiência técnica e maior adoção de tecnologias.
Além disso, uma pesquisa rápida na internet nos mostra casos bem-sucedidos de produtores que estão recebendo mais pelo litro do leite após criarem associações ou se tornarem cooperados.
Em minha tese de doutorado, pesquisei como a participação de produtores de leite em associações e cooperativas poderia influenciar sua competitividade, ou seja, sua capacidade de prosseguir produzindo leite de forma economicamente viável ou ainda ampliar sua atuação na atividade.
De maneira geral e resumida, os resultados dos estudos indicaram que produtores associados ou cooperados tendem a ser mais competitivos do que produtores que não participam de nenhuma forma de ação coletiva.
Na média, os produtores inseridos em associações ou cooperativas tinham maior capacidade produtiva; possuíam maior nível de conhecimento sobre as normas para produção do leite, incluindo critérios de qualidade composicional e microbiológica; apresentaram menor assimetria de informação com a indústria; e maior utilização de tecnologias que visam promover o aumento de produtividade, como rebanhos formados por raças especializadas para a produção de leite e técnicas de reprodução como inseminação artificial ou inseminação artificial em tempo fixo.
Dessa forma, voltamos ao nosso título e podemos concluir que a união de esforços em prol de um objetivo comum, pode ser a força necessária para que produtores de leite obtenham maior rentabilidade e, dessa forma, permaneçam trabalhando com a pecuária leiteira, atividade tão importante para o nosso país, tanto econômica como socialmente.