As espécies do gênero Cynodon spp., representadas por cultivares como Tifton 85, Coastcross, estrela africana, e ainda outras espécies perenes do gênero Panicum spp como o Tanzânia e Aruana, apresentam elevado potencial produtivo e por isso, tendem a ocupar maior proporção da área de pastagens nas propriedades em relação às pastagens de inverno, como a aveia e o azevém. Entretanto, estas cultivares de verão tem a sua produtividade drasticamente reduzida no período do outono/inverno em função das baixas temperaturas e frequentes geadas que ocorrem no sul do Brasil, comprometendo algumas vezes a produção animal neste período do ano.
Assim, a necessidade de se evitar a estacionalidade de produção forrageira implica na manutenção da disponibilidade de forragem ao longo do ano, que por sua vez, é difícil de ser obtida com a utilização de uma única espécie.
Neste sentido, a sobressemeadura de espécies forrageiras de inverno (aveia, azevém, trevos), em áreas formadas com espécies perenes de clima tropical, é uma opção a ser considerada para aumentar a produção e a distribuição anual da forragem, reduzindo assim os "vazios" forrageiros de outono/inverno e inverno/primavera causados devido à redução da produtividade das espécies de verão nesses períodos do ano. Isso pode ainda melhorar o aproveitamento da área e permitir maior uniformidade na produção de pasto ao longo do ano, possibilitando a redução da necessidade de alimentação suplementar em alguns períodos críticos dos criatórios.
Considerando a importância da sobressemeadura para os diferentes sistemas de produção, buscam-se métodos eficazes de realização da mesma a fim de se obter bons rendimentos para as espécies sobre-semeadas (aveia, azevém, trevo), e ainda, que propiciem boa recuperação da pastagem perene após o inverno possibilitando assim a manutenção da oferta de forragem durante o maior período possível no ano.
Dentre as mais diversas formas de sobressemeadura, apresentam-se a semeadura a lanço com parcagem; a semeadura a lanço com herbicida; a semeadura a lanço com roçada; a semeadura a lanço com gradagem, a semeadura direta ou mesmo o uso em conjunto das diferentes formas.
O método mais simples e fácil de ser utilizado é o método com parcagem, que nada mais é do que a utilização de uma alta carga animal instantânea, utilizada a fim de permitir que o casco do animal propicie o contato da semente com o solo. Como práticas de manejo recomendadas a fim de garantir a melhor emergência das plantas, recomenda-se rebaixar a pastagem através da utilização de cargas animais mais elevadas, podendo para isso utilizar animais de menor exigência alimentar, tais como as ovelhas e cabras vazias ou fora de estação de monta, e posteriormente fazer a semeadura a lanço deixando os animais nos piquetes por alguns dias. Essa forma de sobressemeadura pode ser utilizada em áreas menores e em casos em que o produtor não disponha de máquinas, por exemplo.
A semeadura a lanço com utilização de uma sub-dosagem de herbicida (glyfosate 1 a 1,2 L/ha) busca reduzir o desenvolvimento da cultura perene e consequentemente a competição por água, luz e nutrientes com as espécies sombreadas. Este método é passível de ser utilizado, porém, não dispensa a necessidade de utilização de métodos alternativos a fim de permitir o melhor contato da semente com o solo. Este método apresenta-se eficaz no caso da introdução de leguminosas, uma vez que reduz a competição entre as espécies e permite um maior intervalo livre de competição na primavera, favorecendo o estabelecimento das leguminosas, que normalmente são de estabelecimento mais tardio; por outro lado, está técnica pode ocasionar resistência das plantas a herbicidas, além de poder prejudicar o rebrote da pastagem no ciclo seguinte de produção.
A semeadura a lanço seguida de roçada deve ser feita de tal forma que a forragem roçada cubra a semente sobressemeada e favoreça a sua germinação. Por isso, a altura de corte deve ser rente ao solo. Na prática, a germinação das espécies de inverno é baixa e desuniforme, sendo que métodos alternativos de incorporação da semente, como o uso de rolo-faca, parcagem ou até mesmo uma gradagem leve podem favorecer o estabelecimento das culturas apresentando a vantagem de poder ser realizada mesmo em pequenas áreas através do uso de roçadeira costal ou tratorizada.
A semeadura a lanço seguida de gradagem permite flexibilidade de manejo, uma vez que o nível de interferência da grade com o solo pode ser ajustado em função da sua abertura ou fechamento, ou mesmo, caso necessário, uma gradagem duplicada realizada em sentidos opostos. Ainda, este nível de interferência pode ser ajustado de acordo com a espécie a ser sobressemeada, permitindo por exemplo, que espécies de leguminosas de semente pequena, como trevos branco e vermelho germinem adequadamente. Este método apresenta-se com extrema eficácia para a geminação e estabelecimento das espécies de inverno; entretanto, como efeito negativo, pode promover uma desestruturação e compactação do solo acarretando em dificuldade no desenvolvimento do sistema radicular das espécies forrageiras ou em um processo erosivo do solo. Em relação a interferência no poder de rebrota da espécie perene de verão, gradagem leve dificilmente apresenta efeito negativo.
Ainda, como ultimo método a ser citado, dispomos da semeadura direta com utilização de semeadora-adubadora para sementes miúdas. Em geral, este método permite melhor distribuirão do adubo e maior contato da semente com o solo, com menor interferência negativa sobre os parâmetros físicos do solo. Porém, dependendo do modelo de máquina a ser utilizado (máquinas pequenas e leves), pode ocorrer dificuldade dos discos de corte em abrir os sulcos de plantio e consequentemente na deposição da semente em profundidade adequada, sendo que, pastejos mais intensos com objetivo de reduzir a altura da pastagem ou mesmo uma roçada a fim de facilitar a realização do plantio podem evitar esse problema.
Importante salientar também que não há regras exclusivas e que estes métodos podem ser utilizados em conjunto. Entretanto, independente do método a ser utilizado, uma correta e monitorada adubação deve ser realizada em conjunto, a fim de reduzir a competição entre as espécies e favorecendo assim a sua emergência e estabelecimento, alcançando o aumento esperado na produtividade do sistema.
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