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Mercosul: a vidraça da vez

POR BRUNO VARELLA MIRANDA

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 16/07/2013

4 MIN DE LEITURA

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Já há algum tempo, virou moda falar mal do Mercosul. Outrora um ambicioso projeto de integração, o bloco hoje é considerado por muitos um empecilho para que o Brasil ganhe mercados ao redor do mundo. De fato, defender o Mercosul hoje em dia é tarefa das mais difíceis; negar o seu importante papel nas últimas décadas, porém, é parte de uma visão míope que, em busca das interpretações maniqueístas da realidade, acaba por enaltecer opções repletas de riscos e rejeitar algo que não é de todo ruim.

Comecemos pelo que nos rodeia. Se o Mercosul está longe de seus dias de maior vitalidade, é muito por culpa da incapacidade de os países da América do Sul de construírem consensos sociais e os transformarem em regras. Na Europa, o projeto de integração iniciado sob os escombros da guerra sobreviveu tanto tempo porque as trocas de poder – e de ideias dominantes – não chegaram a causar reviravoltas que abalassem a crença na necessidade de uma integração. Nos principais sócios da União Europeia, pode-se dizer que uma centro-direita e uma centro-esquerda competem pelo poder segundo um conjunto de regras bem especificado, que reflete os tais consensos que nos faltam. É bem verdade que, vira e mexe, aparecem as anomalias, como a ascensão da extrema-direta na Grécia; diante da enorme crise enfrentada pelo Velho Continente, porém, um olhar otimista diria que, apesar da falta de um horizonte para os dilemas econômicos da atualidade, as saídas curto prazistas têm sido evitadas em nome desse grande projeto.

Voltemos à América do Sul. Em nosso continente, temos um projeto de integração como o Mercosul que sofre de um problema fundamental: os seus sócios mais relevantes parecem pouco interessados em transferir poder para os órgãos comunitários. Exemplo clássico é o do Brasil, “gigante pela própria natureza” mas com dificuldades para pagar a conta da liderança na região. Justiça seja feita, com um sócio como a Argentina, detentora de um humor quase indecifrável quando o assunto é política de Estado, fica difícil confiar em um plano de longo prazo. Olhando para o continente como um todo, temos ainda os Estados “bolivarianos”, alguns dos quais amantes arrependidos do neoliberalismo. Finalmente, os “xódos” dos analistas de mercado, países cujo modelo de economia aberta é considerado um paradigma que deveria ser seguido como uma receita de bolo, embora não tenham lá a convicção que os exemplos dos livros parecem querer demonstrar. Enfim, por aqui a oscilação é a regra; em termos institucionais, falta construir muito – talvez por culpa da preferência continental por derrubar estruturas antigas e reconstruir tudo de novo, ou apenas porque somos viciados em “remendos” em nossas regras sem olhar para o todo.

Por que toda essa discussão nos interessa? Têm sido comuns as críticas ao Mercosul, devido a uma suposta incapacidade do bloco de promover a abertura de mercados para o Brasil. Ao mesmo tempo, a chamada Aliança do Pacífico, bloco criado por países como Chile e Colômbia, é apresentado como um paradigma em termos de integração regional. Tais análises, embora apresentem uma série de argumentos interessantes, costumam esquecer um aspecto fundamental: o Mercosul é resultado de um processo histórico, de aproximação entre a Argentina e o Brasil, que é mais significativo do que qualquer outro projeto em nosso continente. De países rivais, hoje argentinos e brasileiros cooperam em uma série de áreas, obtendo tais avanços em apenas 30 anos e apesar de toda a fragilidade institucional. Jogar todos esses avanços fora e enveredar por um formato de integração que mal começou seria uma irresponsabilidade.

É bem verdade – e aí concordo – que boa parte dos sócios do Brasil no Mercosul está optando por caminhos na economia repletos de armadilhas. Tanto a Argentina quanto a Venezuela estão longe de serem exemplos para o governo brasileiro, mas a questão que fica é: dado o histórico dos últimos 30 anos, quem garante que Buenos Aires seguirá adotando as mesmas políticas quando Cristina Kirchner deixar o poder em 2015? Diante de tantos exemplos de oscilação, dar corda para os críticos de ocasião e implodir um projeto de integração em nome de opções alternativas não garante nada; melhor seria se o Brasil fosse capaz de liderar um processo em que o fortalecimento institucional dos órgãos comunitários não fosse afetado a cada quatro anos, com a troca de poder.

Garantir a tal “liberdade” apostando no Mercosul é mais fácil do que muitos imaginam; devido ao baixo grau de institucionalização do bloco, o Brasil não precisa virar as costas para um dos seus projetos mais ambiciosos para ganhar os tais mercados. O fundamental é que não respondamos à incerteza institucional com mais incerteza! A integração com o mundo não se resume à economia, e há uma série de aspectos que merecem ser discutidos com cuidado por meio de órgãos comunitários fortalecidos. Logo, aos arautos da política de “terra arrasada” com antigos compromissos do país em nome da liberdade de negociar acordos bilaterais, muito cuidado: não estamos no vácuo que, não raramente, serve de cenário para as análises econômicas. Para poder negociar sozinho, é preciso se entender com os vizinhos primeiro.

Finalmente, aos que tantas pedras jogam no Mercosul, vale a pena olhar para a Europa e para os Estados Unidos, e analisar os tratados de livre comércio assinados por estes gigantes e os seus principais parceiros entre os países em desenvolvimento. Caberão tais textos na complexidade da economia brasileira? Não raramente acabamos sendo influenciados por um olhar setorial quando, no comando das ações, é necessário uma avaliação mais ampla. Quem acompanha a enorme resistência da União Europeia em discutir a liberalização em agricultura sabe que, talvez, o preço cobrado por uma fatia do mercado europeu seja alto demais para o país como um todo. Em outras palavras, que comércio é bom, ninguém nega; é preciso, porém, muita calma, para que os vencedores não se concentrem demais em um dos lados da história.


 

ARTIGO EXCLUSIVO | Este artigo é de uso exclusivo do MilkPoint, não sendo permitida sua cópia e/ou réplica sem prévia autorização do portal e do(s) autor(es) do artigo.

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 30/08/2013

Prezado Antonio Carlos,



Agradeço a sua participação. Sobre as suas palavras:



1)     Concordo contigo no que se refere à retórica utilizada pelo Mercosul: acredito que muitas vezes as palavras escolhidas são inadequadas, e reforçam uma visão "anti norte-americana" exagerada. Convenhamos, porém: eventos como o que envolveu o presidente da Bolívia, Evo Morales, e o seu avião, tampouco são exemplos de boa convivência.



2)     Não entendi exatamente no que você discorda sobre a minha avaliação da União Europeia/Europa, que, por sinal, é otimista. Estou aberto a debater o tema, inclusive com referência à obra do Tony Judt, que conheço. Trata-se de um tópico que me interessa muito.



3)     Sobre a questão do Paraguai, trata-se de um tema complexo, e que mereceria um artigo apenas seu tratamento. Caso o tema te interesse, sugiro a leitura de um texto que expõe a visão de um pesquisador paraguaio sobre o tema: https://ictsd.org/i/news/pontes/161339/.   ;



4)     O Mercosul já faz muito em termos de comércio; basta observarmos a evolução do comércio no interior do bloco. Para as empresas daqui, trata-se de uma plataforma interessante, dado que permite experimentar em outros mercados e explorar sinergias antes de competir em mercados mais exigentes. Concordo que o momento não seja dos melhores (vide o caso da Vale na Argentina) mas, no longo prazo, creio que vale a pena não virar as costas para os nossos vizinhos.



5)     É evidente que o Brasil precisa se abrir mais ao comércio e assinar mais acordos. Isso não implica, porém, abandonar o Mercosul como muitos dos que visitam esta página argumentam. O baixo grau de institucionalização do bloco permitiria soluções negociadas com os seus sócios para adequar os desejos de cada membro. Ademais, as negociações dos principais acordos seriam duras, e a pressa para assiná-los pode jogar contra o Brasil.



Relatos como o seu (e o de todos os outros leitores, a razão de existência do CaféPoint) são fundamentais para o debate. Logo, fica o convite para que outros leitores também deixem a sua opinião. E, claro, réplicas e tréplicas são mais do que bem-vindas. O tema é polêmico, eu sei; não por acaso, foi escolhido...



Atenciosamente



Bruno Miranda
BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 30/08/2013

Prezado Adir,



Agradeço o seu comentário. Na relação com os vizinhos, não acho que o Brasil "entregue a melhor parte do bolo para os adeptos do Fidel Castro", como diz. Sugiro um texto, escrito por um influente economista argentino, chamado Orlando Ferreres, cujo argumento principal é: apenas o Brasil ganhou com o Mercosul! Segue o link: https://ictsd.org/i/news/pontes/142100/.



Sobre as relações com os EUA, considero que o mercado norte-americano está repleto de oportunidades para os produtores brasileiros; não creio, porém, que as negociações com Washington sejam tão fáceis quanto muitos analistas sugerem. Um acordo comercial pode gerar ainda mais problemas para um país se for mal negociado: afinal, cada concessão feita significa menor poder de barganha (voltar atrás é mais difícil). Em resumo, queremos comércio com os países desenvolvidos, mas um comércio que seja benéfico para os dois lados.  



Finalmente, o Mercosul oferece oportunidades comerciais, mas também para a integração em outras esferas. Embora não concorde com a orientação política da Venezuela ou com os rumos tomados pelo governo argentino, reconheço que há diversas áreas em que é possível cooperar sem que estejamos de acordo com aquilo que os outros países fazem. Ciência e tecnologia é um exemplo.



Atenciosamente



Bruno Miranda
BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 30/08/2013

Prezado Marden,



Obrigado pelo comentário. É fato que o Mercosul passa por um momento de impasse, em que é preciso uma reinvenção do bloco. Reinventar o bloco, na minha opinião, significa manter o que dá certo e tentar encontrar outros espaços para cooperação. O que moveu o meu artigo não foi tanto um otimismo em relação ao Mercosul, e sim a opinião de que processos históricos como a aproximação entre Argentina e Brasil desde a década de 1980 foram muito importantes.



Todo mundo quer mais comércio, claro; o que o artigo propõe é apenas que evitemos uma visão maniqueísta. Nem tanto preto, nem tanto branco: uma visão intermediária reconheceria que i) o Mercosul oferece um espaço para cooperação entre os países da região que merece ser explorado dentro do possível; ii) embora a integração com EUA e União Europeia seja importante, tal processo não será fácil, porque em política internacional o que mandam são os interesses internos de cada país; iii) o Mercosul possui um grau de institucionalização relativamente baixo, o que permitiria uma solução criativa que permitiria, por um lado, que o Brasil negociasse acordos interessantes sem, por outro lado, virar as costas para a integração regional.



Atenciosamente



Bruno Miranda
ANTONIO CARLOS SILVA

BOA ESPERANÇA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 17/07/2013

Você é muito corajoso em apoiar abertamente o Mercosul. O seu ponto de vista coincide com a do "grande" trio Garcia/Amorim/Patriota - mais do mesmo. Assim:



"Este trio é um desastre a nível doméstico, se entrelaçou com governos ditatoriais de cunho socialista, transformando o Itamaraty em balcão de negociatas a serviço de arrogantes e soberbos governantes que ameaçam a democracia e a paz mundial. Graças aos oportunistas e debochadores da alta cúpula petista, aliados com as raposas do PMDB e outros partidos comprados, vivemos sob a hegemonia do cinismo."



Infelizmente não consigo vislumbrar o "importante papel nas últimas décadas" e, se é que existe este papel.



Não vale apostar no único consenso do bloco que é criticar e afirmar que os Estados Unidos é único grande culpado por todos os males da América Latina. É mais fácil colocar a culpa em um inimigo externo e controlar o "gado" do que assumir a própria incompetência.



Quanto a análise sobre a Europa/UE, no segundo parágrafo, sugiro que leia, em regime de urgência: Pós-Guerra - Uma História da Europa desde 1945, de Tony Judt, Editora Objetiva. A leitura fará com que você amplie sua visão sobre a Europa/UE.



O Paraguai não foi entendido pelos vizinhos e foi suspenso. Intrometeu-se em um assunto exclusivamente interno visando forçar a entrada da Venezuela no bloco. O Paraguai pode e deveria sair do bloco. Negociando acordos comerciais independentemente teria maiores vantagens do que ter esses parceiros socialistas de araque.



Um bloco que tem como governantes: um cocaleiro, uma beiçola em Buenos Aires, um motorista de caminhão desgovernado e uma terrorista, que se aliam com os piores regimes do mundo (Irã, Cuba, Coréia do Norte, Sudão, etc), não esta preocupado com o comércio mundial, mas sim com seu projeto de dominação socialista (furado, é claro!) e não se acanham em pertencer ao clube da escória da humanidade.



O comércio fica para depois. Desde que estejam criticando os EUA e tocando seus projetos socialistas, o comércio é apenas retórica - mais do mesmo, todos os dias!



Quando lembro do Mercosul e de seus competentes governantes, de seus objetivos sombrios e o que nos pode suceder..... me dá vontade de vomitar.



Vou continuar colhendo o meu café!
ADIR FAVA

MURIAÉ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 17/07/2013

Prezado Bruno,

Eu percebo que os brasileiros não conseguem ver o Brasil como parceiro de outros, tão pouco conseguem conhecer melhor seus vizinhos. O Brasil deixou de fazer ótimos acordos com os Estados Unidos porque deseja todo o bolo para si mesmo quando se trata de Estados Unidos mas entrega a melhor parte do bolo para os adeptos de Fidel Castro. Brigou com o Paraguai desnecessariamente para impor teorias chavistas. Então, o que é o Mercosul? É um tratado de Comercio ou uma plataforma política? O Brasil e seus vizinhos não sabem discernir uma coisa da outra. É lamentável ter uma mentalidade tão atrasada e o preço disto é sem duvida algo que não desejamos.
MARDEN CICARELLI

MONTE CARMELO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 16/07/2013

Caro Bruno,



É difícil ver o Mercosul com sua visão benevolente. Realmente, as nossas companhias no bloco não ajudam mesmo. Como agravante, parece que o Brasil tem buscado, a todo custo, fazer lambança em termos de política internacional. Vejo um quase esforço em fazer o pior. A Venezuela foi a cereja do bolo. E tem Equador, Bolívia, Cuba... Acho mais fácil a Argentina sair do buraco em que se meteu e virar as costas para o Mercosul que o bloco vir a dar algum caldo grosso.



O Brasil tem se especializado em parcerias vagabundas, em que os parceiros entram com possibilidades vagas, e o Brasil entra com o resto.



Queria ter o seu otimismo. Mas vou pra lavoura apanhar café.

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