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Limites da eficiência alimentar em bovinos leiteiros

POR ALEXANDRE M. PEDROSO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/02/2005

8 MIN DE LEITURA

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Na última reunião anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, realizada em Campo Grande/MS no último mês de julho, o Prof. Wilson R. S. Mattos fez uma apresentação com o título acima, que foi extremamente elogiada pelos presentes ao evento. Como já abordamos esse tema há alguns meses aqui no Radar, e é assunto da maior importância, vamos apresentar neste artigo os pontos mais importantes discutidos nessa apresentação.

Segundo o Prof. Wilson, o conceito de eficiência alimentar é bastante amplo, expressando a relação entre a os produtos comercializáveis produzidos pela vaca (leite, bezerros ou carne) e a quantidade de matéria seca consumida, descontando-se ou não o gasto com manutenção.

De forma bastante simplificada, a eficiência alimentar serve de índice para avaliar se uma dieta atende ou não as exigências específicas de uma categoria animal, e para comparar as suas demandas relativas de manutenção e produção. Num contexto mais amplo, a eficiência alimentar engloba, além da ração consumida, fatores ambientais e de manejo que acabam por afetar a eficiência com que os alimentos são digeridos, e as exigências de manutenção dos animais. Considerando que a função primordial de uma vaca em lactação é a conversão dos alimentos em leite, quanto menos leite for produzido, mais fezes serão produzidas e menor será o retorno sobre o custo da alimentação.

Principalmente em épocas de preço baixo do leite, o aumento da eficiência alimentar é uma ótima alternativa para se manter a lucratividade da operação leiteira sem sacrificar a saúde ou bem-estar do rebanho. E para tal, como destaca o Prof. Wilson, o importante não é a maximização do consumo de matéria seca, e sim sua otimização. O produtor não pode se esquecer de que em qualquer sistema de produção de leite, os alimentos são utilizados não só para se produzir leite e carne, mas também para manter animais não produtivos.

A eficiência alimentar varia de zero até o valor que equivalha à eficiência líquida máxima de síntese de leite (situação hipotética em que todo alimento ingerido é convertido integralmente em leite). Esse efeito da produtividade sobre a eficiência alimentar é chamado de "Diluição da Manutenção", constituindo-se num fator importante associado à lucratividade de altas produções de leite. Qualquer discussão sobre eficiência de produção de leite tem que levar em conta o efeito do volume de produção na eficiência alimentar, fato que muitas vezes é deixado de lado.

A tabela 1 mostra claramente a tendência de aumento na eficiência alimentar à medida em que aumenta o volume de leite produzido, em função da diluição das exigências de manutenção. No entanto, os incrementos na eficiência alimentar são decrescentes, caracterizando uma resposta não linear, em função do maior direcionamento da energia dos alimentos para deposição de gordura em detrimento da produção de leite, à medida que o consumo aumenta.

Tab. 1. Exigências energéticas, consumo de matéria seca e eficiência de produção de leite para uma vaca de 600 kg adulta, vazia, produzindo de 0 a 50 kg leite com 3,5% de gordura (NRC, 2001)
 

tabela


O maior problema associado à eficiência líquida de produção de leite decorre do fato de que as funções metabólicas do animal em produção não podem ser isoladas, de forma que fica muito difícil estimar separadamente o custo energético de manutenção, da síntese de leite a partir da energia da dieta, da síntese de leite a partir da mobilização de tecidos, e da síntese de tecidos a partir da energia dietética em vacas em lactação. Trabalhos realizados na década de 60, envolvendo mais de 300 experimentos de balanço energético com vacas em lactação, mostraram claramente que a produção de leite não tem grande impacto, nem aumenta significativamente a exigência de manutenção.

Dessa forma, percebe-se que a conversão de energia da dieta em leite é um processo bastante complexo, e é importante o conhecimento dos fatores fisiológicos que contribuem com a variação na eficiência de produção de leite, independente do volume de leite produzido, e se esses fatores podem ser manipulados por melhoramento genético e/ou alterações no ambiente. O Prof. Wilson aponta como principais causas de variação na eficiência de produção de leite o processo digestivo, tamanho corporal, utilização de energia metabolizável para produção e a partição de nutrientes.

Processo Digestivo

A digestibilidade e absorção de nutrientes podem ser influenciadas pela manipulação da dieta. Um exemplo claro é o aumento da eficiência digestiva quando se aumenta o teor protéico de dietas baseadas em forragens de baixa qualidade. Também não existe dúvida de que à medida que aumenta o consumo, ocorre redução na eficiência digestiva, o que está relacionado com a digestibilidade da dieta para manutenção. De maneira geral, quanto maior a digestibilidade da dieta em manutenção, maior é a taxa de decréscimo na digestibilidade quando a dieta for consumida por animais em produção.

Tamanho Corporal

Embora seja positivamente correlacionado com o volume de produção de leite, o tamanho corporal é leve e inversamente correlacionado com a eficiência biológica. Isso significa que para as mesmas produções diárias de até cerca de 40 kg leite, uma vaca de 800 kg seria menos eficiente que uma de 600 kg. Já para produções superiores, a relação entre tamanho corporal e eficiência pode mudar, em decorrência do menor efeito da partição de nutrientes, e do maior efeito da capacidade digestiva. Assim, se a capacidade digestiva for proporcional ao peso metabólico, uma vaca de 800 kg seria mais eficiente que uma de 600 kg, se ambas estiverem produzindo mais de 50 kg leite/dia.

Utilização de energia metabolizável (EM)

O que mais afeta esse fator é o estado fisiológico do animal, composição e características físicas da dieta, perfil de metabólitos digeridos e absorvidos, condições climáticas e atividade física. Dentre as funções metabólicas, as que apresentam eficiência mais baixa são crescimento e engorda. Diversos trabalhos de pesquisa mostram que a eficiência de utilização da EM para produção de leite é sujeita a pequenas variações, independente do volume de leite produzido, sendo seu valor médio de 64%. A variação entre animais na utilização de EM para síntese de leite, síntese de tecidos ou síntese de leite a partir da mobilização de tecidos é muito pequena.

Partição de nutrientes

A quantidade e proporção dos alimentos da dieta determinam o perfil de metabólitos absorvidos no trato digestivo, que, por sua vez, influencia respostas hormonais no organismo, direcionando os nutrientes para os diversos tecidos ou órgãos onde serão utilizados. O trabalho clássico de Flatt et al. (1969) mostra que a eficiência de utilização de energia metabolizável para o balanço total de energia (leite + tecidos) não diferiu entre animais recebendo dietas com características diferentes. No entanto, a energia recuperada no leite foi maior nos animais que receberam a dieta com maior proporção de forragem, enquanto que os que receberam a dieta com maior proporção de concentrado acumularam mais energia nos tecidos.

Também numa revisão clássica, Moe (1981) afirma que a principal diferença entre dietas, bem como entre animais, no que se refere ao balanço de energia, deve-se à quantidade de energia consumida e à partição dessa energia, ou seja, quanto da energia é recuperada no leite ou tecidos, e não à eficiência de utilização da energia metabolizável. O Prof. Wilson também cita que pesquisadores da Nova Zelândia mostraram que em animais da mesma raça, os de alto potencial genético possuem maior capacidade de ingestão, e utilizam com mais eficiência as reservas corporais no início da lactação, em relação aos de baixo potencial genético.

Eficiência Alimentar e Lucratividade

Em artigos bastante recentes o Dr. Mike Hutjens, da Universidade de Illinois, EUA, relata que a maior eficiência alimentar via de regra está associada ao maior volume de produção de leite, estágio de lactação menos avançado, perda de condição corporal (característica de início de lactação), alta qualidade de forragem e alta digestibilidade da dieta. Já eficiência alimentar mais baixa se relaciona com lactações mais avançadas, maior concentração de vacas primíparas, ou de segunda cria, ganho de condição corporal, estresse calórico e acidose ruminal.

A partir de dados obtidos em fazendas leiteiras no estado de Illinois (EUA), o Dr. Hutjens sugere alguns índices para a eficiência alimentar:

 

 

 

 

  • Apenas um grupo de vacas, recebendo ração completa: 1,4 - 1,5
  • Vacas adultas, em início de lactação: 1,6 - 1,8
  • Vacas primíparas, em início de lactação: 1,5 - 1,7
  • Grupo de baixa produção: 1,2 - 1,4

A tabela 2 mostra alguns dados de algumas propriedades incluídas no levantamento do Dr. Hutjens.

Tab. 2. Resumo do levantamento feito em oito propriedades em Illinois, EUA

 

 


Observem que a variação na eficiência alimentar foi de 1,24 (fazenda 2) a 1,59 (fazenda 1), com média de 1,42. Apesar da variação no custo total de alimentação por vaca ser razoável, US$ 2,85 (fazenda 4) a US$ 4,17 (fazenda 1), esses valores estão abaixo do limite mínimo recomendado. É interessante notar que mesmo com maior custo de alimentação, a fazenda 1 apresentou melhor eficiência alimentar, devido à sua maior média de produção.

Conclusões

A eficiência alimentar é um índice muito útil para avaliar o desempenho de rebanhos leiteiros, sob determinadas condições de ambiente, manejo e alimentação. Quanto maior seu valor, maior será o retorno sobre o custo de alimentação, e, provavelmente, maior será a lucratividade da atividade leiteira. Ainda há muitas áreas a serem pesquisadas para ampliar os conhecimentos atuais, o que pode trazer muitos benefícios aos produtores, com ênfase no aumento da capacidade de consumo de alimentos, aumento da eficiência digestiva e partição de nutrientes para síntese de leite.


Referência:
Mattos, W. R. S.. - Limites da eficiência alimentar em bovinos leiteiros- 41ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Campo Grande, 2004.

ALEXANDRE M. PEDROSO

Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciência Animal e Pastagens, especialista em nutrição de precisão e manejo de bovinos leiteiros

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FERNANDO ENRIQUE MADALENA

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 25/02/2005

O autor deveria ser mais cuidadoso com as suas generalizações. Concluir que "quanto maior (a eficiência alimentar) provavelmente maior será a lucratividade da atividade leiteira", pode ser válido para países onde os subsídios levam a sistemas de alta produção por vaca, mas não é verdade para a grande maioria das fazendas no Brasil, onde alimentar com altas quantidades de ração não é econômico.

<b>Resposta do autor</b>:Prezado Dr. Madalena,

O conceito de eficiência alimentar se refere ao bom (ou mau) uso que a vaca faz dos nutrientes consumidos para convertê-los em leite, e isso não tem relação direta com a quantidade de alimento fornecido. De fato, quanto mais eficiente a vaca for em converter nutrientes em leite, maior será o lucro sobre o custo de alimentação, receba ela 0 ou 15 kg de concentrado por dia. E se o retorno sobre o dinheiro investido na alimentação for maior, há uma grande chance de a lucratividade do sistema ser também maior.

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