A leucose enzoótica bovina é uma doença infecto-contagiosa bastante comum, que causa diminuição da produção de leite. As perdas econômicas envolvem o descarte precoce dos animais, redução na produção de leite em cerca de 11%, e uma maior suscetibilidade à ocorrência de outras enfermidades.
Bovinos de todas as idades podem ser infectados, entretanto, os animais adultos apresentam percentuais de infecção mais altos. O agente etiológico da leucose enzoótica é um retrovírus (parasita de Linfócitos B).
No Brasil, a doença foi descrita pela primeira vez em 1943, e pesquisas comprovam que desde a descrição do primeiro caso, há quase 60 anos, a propagação da leucose deu-se de forma intensa e incontrolável, atingindo grandes proporções. A enfermidade é hoje caracterizada como enzoótica em 11 estados brasileiros: São Paulo, Rondônia, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Ceará, Bahia e Acre.
Quais os sintomas da leucose?
É caracterizada pelo aparecimento de tumorações com infiltração mononuclear em órgãos ricos em tecido linfoide – como os linfonodos, o abomaso, o coração, o útero, o baço e os rins – e por alterações hematológicas, baseadas na detecção de leucocitose por linfocitose com aumento das formas linfocitárias atípicas.
O quadro hematológico de bovinos infectados pelo vírus da leucose bovina foi estudado por pesquisadores brasileiros no intuito de avaliar a resposta imune humoral e celular. A resposta humoral foi avaliada através da imunização dos animais com vacina contra a febre aftosa e posteriores titulações semanais dos anticorpos séricos contra a aftosa. Já a resposta celular foi avaliada através da reação cutânea à tuberculina em bovinos naturalmente sensibilizados pelo Mycobacterium sp.
Esta pesquisa concluiu que a leucose não é responsável por variações imunológicas de natureza qualitativa ou funcional. Outro grupo de pesquisadores brasileiros, buscou avaliar a influência da doença sobre o proteinograma sérico e as quantidades de imunoglobulinas (IgG e IgM) nos bovinos, não sendo encontradas diferenças entre os animais sadios e os infectados com o vírus da leucose. Com base nestas informações, não foi possível associar a imunossupressão aos animais infectados com leucose.
Transmissão da leucose
A leucose pode ser transmitida por meio da ingestão de leite ou colostro contaminados, transfusões de sangue, premunições e fômites (agulhas, tatuadores, material cirúrgico, etc.).
Controle e prevenção da leucose
Dentre as alternativas de controle destacam-se três opções: eliminação dos animais soropositivos; segregação dos animais soropositivos; manejo misto, com adoção de medidas de controle para evitar a transmissão do vírus.
A alternativa da eliminação dos animais positivos é uma proposta economicamente inviável para a maioria das propriedades, podendo ser aplicada apenas nos rebanhos com baixos índices de leucose. A alternativa de segregação é pouco prática e se adequa a um número limitado de propriedades. As duas alternativas citadas acima são as que apresentam os melhores resultados.
A terceira alternativa, apesar de ser a mais indicada, também causa transtornos no manejo, pois engloba dentre as medidas de controle para evitar a transmissão do vírus:
- introdução somente de animais sorologicamente negativos no rebanho
- uso de agulhas individuais
- desinfecção dos instrumentos utilizados para cirurgias
- brincagem e descorna (com álcool iodado)
- uso de luvas obstétricas individuais para palpação retal
- uso de receptoras soronegativas para transferência de embriões
- evitar que os bezerros tenham acesso ao colostro e ao leite advindo das vacas soropositivas
Contudo, deve-se destacar que o controle por segregação necessita de um período prolongado para a observação de resultados satisfatórios.
Em última análise, a implantação de um programa para o controle da leucose enfrenta várias limitações, dentre elas: a falta de motivação de técnicos e produtores devido ao fato da infecção ser, na maioria das vezes, inaparente; dificuldade em quantificar os prejuízos e aumento dos esforços de manejo para realização do controle.
Fonte:
Birgel Junior, E. H., et al. Dinâmica das Proteínas Séricas de Fêmeas Bovinas da Raça Holandesa Naturalmente Infectadas pelo Vírus da Leucose dos Bovinos. Ciência Rural, v.31, n.4, p. 615-19, 2001.
Garcia, M. Avaliação da resposta imunitária em bovinos naturalmente infectados pelo vírus da leucose. São Paulo - SP, 1992. 60p. Tese (Doutoramento) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, 1992.
Braga, F. M., et al. Avaliação de Métodos de Controle da Infecção pelo Vírus da Leucose Enzoótica Bovina. Ciência Rural, v.27, n.4, p. 635-40, 1997.