Um episódio rotineiro nas fazendas produtoras de leite é a falta de atenção com o piquete para onde são enviadas as vacas no início do período da secagem. Não é difícil observar nesses piquetes acúmulo de barro, ocorrência de capoeiras, cupins, etc.. A falta de atenção com esses locais pode favorecer o desenvolvimento de plantas tóxicas, e como este assunto é raramente divulgado, poucas fazendas estão atentas para este sério problema. Na seqüência deste raciocínio, quando começam a aparecer os quadros de intoxicação, várias hipóteses complexas são pesquisadas em busca da causa dos quadros clínicos. Dentre as inúmeras plantas tóxicas encontradas no Brasil, a samambaia é uma das que mais causa controvérsia em seu diagnóstico, devido à semelhança com doenças tais como o carbúnculo hemático, a leptospirose, a tristeza parasitária e a pasteurelose.
A samambaia é uma planta encontrada em áreas com maior altitude, principalmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. A ocorrência de solos pobres em fósforo e arenosos favorece seu desenvolvimento. Além disso, a prática das queimadas favorece a brotação e contribui para sua proliferação. Além de ingerida diretamente no pasto, a samambaia pode estar presente em fenos contaminados e na cama dos animais estabulados, sendo que a planta, mantém seus princípios tóxicos, verde ou seca.
A samambaia, também conhecida como samambaia-do-campo, tem poder cumulativo e seu princípio tóxico é uma tiaminase do tipo I, que nos bovinos é metabolizada em fatores determinantes da hematúria, da anemia aplástica e da neoplasia enzoótica.
Os sintomas clínicos da intoxicação podem ser agudos ou crônicos. A sintomatologia aguda é mais rara e pode ser dividida em dois tipos: Laríngeo e Entérico. No tipo laríngeo os animais apresentam redução de peso, pêlo arrepiado, hemorragias cutâneas e nas cavidades naturais (boca,etc..), edema de garganta e andar cambaleante. O curso da intoxicação é de aproximadamente três dias. No tipo entérico os animais apresentam anorexia, diarréia, fezes escuras e com coágulos de sangue, mucosas pálidas com petéquias, febre e dificuldade de coagulação sanguínea, sendo que as áreas picadas por parasitas apresentam hemorragia.
A sintomatologia crônica é também conhecida como a hematúria enzoótica dos bovinos. É importante diferenciar a hematúria (que pode ocorrer nos casos de intoxicação com samambaia) da hemoglobinúria (que pode ocorrer nos casos de tristeza parasitária). Em ambos os casos a urina apresenta-se com a coloração avermelhada, entretanto nos casos de hematúria há presença de hemácias na urina, e a hemoglobinúria está associada à hemólise ocorrida na babesiose.
Nos casos crônicos de intoxicação por samambaia, além da hematúria, também são encontrados carcinomas na região do esôfago, faringe e rúmen, que ocasionam tosse, dificuldade de deglutição dos alimentos, podendo ainda levar à ocorrência de Timpanismo (devido à dificuldade de eructação). Os animais acometidos apresentam-se anêmicos e podem também possuir ulcerações na cavidade oral.
Frente à grande variedade dos sintomas descritos acima, o diagnóstico deve associar, além da sintomatologia, a presença da planta na fazenda e os resultados do exame laboratorial. Dentre os achados laboratoriais dos animais intoxicados com a samambaia vale a pena ressaltar: baixa dosagem de plaquetas (trombocitopenia), tempo de coagulação aumentado, neutropenia, anemia e hematúria (urina).
Os casos suspeitos ou confirmados devem ser retirados da área com a presença da samambaia. Apesar de não existir tratamento eficaz, uma das alternativas é recorrer à transfusão de sangue, a outra, à antibioticoterapia, visando combater as infecções secundárias.
Figura 1- Folha da Samambaia
Fonte: Cad. Téc. Vet. Zootec., n. 32, p.20, 2000
Fonte: Melo, M.M. Plantas Tóxicas. Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, n.32, p.20-25, 2000