O pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Dr. Paulo Martins, publicou recentemente artigo "Para analisar o negócio leite" no MilkPoint, clique aqui para ler, retratando o esforço para se estabelecer critérios de avaliação de desempenho de uma propriedade leiteira. Procurando operacionalizar esta metodologia, o presente artigo visa apresentar os resultados apurados em 162 unidades de produção. São unidades sediadas nos principais estados produtores de leite do país, cujo levantamento de dados contou com a colaboração das principais empresas e cooperativas compradoras de leite.
Os estados selecionados foram MG, SP, PR, RS e GO, que, no agregado respondem por cerca de 70% da produção leiteira nacional. As empresas parceiras foram Nestlé e Itambé (MG), Parmalat e Coonai (SP), Castrolanda e Frimesa (PR), Elege e Parmalat (RS) e Centroleite e Laticínios Morrinhos (GO).
Como critério de escolha da região de estudo, dentro de cada estado, estabeleceu-se que fossem aquelas que mostrassem maior produtividade por vaca ordenhada. Foram selecionadas propriedades que atendessem os seguintes critérios: a) Propriedades cuja renda proveniente da venda de leite fosse em torno de 70%; b) Propriedades que estivessem na atividade há algum tempo e que possuíssem sistemas de produção consolidados ou próximos, em termos de rebanho, infra-estrutura e outros.; c) Propriedades que fossem referências na produção de leite e que estivessem mantendo-se economicamente e com perspectivas de permanecerem na atividade pelo menos por mais cinco anos.
Quanto ao procedimento adotado para a apuração dos custos de produção, considerou-se a segmentação do sistema global de produção de leite em cinco setores, sendo três de produção (leite, fêmeas para reposição e alimentos volumosos) e dois de serviços (trator + implementos e reprodução). Os resultados, apresentados na Tabela 1, referem-se aos observados no setor de produção de leite. Neste setor, foi considerado como ativo imobilizado: as benfeitorias, máquinas, equipamentos de uso específico e aqueles de uso em comum com outros setores, rateado segundo tempo de utilização em cada setor, bem como os animais de produção (vacas em lactação e vacas secas). As pastagens foram computadas somente quando efetivamente utilizadas pelo setor de leite, considerando-se o seu custo total anual, portanto, incluso o custo de oportunidade da terra. Os alimentos volumosos também foram computados apenas aqueles realmente consumidos pelo setor de leite, valorizados aos seus custos de produção.
Na Tabela 1 são apresentados os resultados dos cinco indicadores de desempenho selecionados para aferir os desempenhos econômicos da atividade leiteira, nos cinco estados pesquisados, cujas identificações de cada indicador encontram-se no rodapé da tabela. As variáveis que constam da segunda coluna da tabela indicam: abaixo da média = média aritmética dos indicadores de desempenho das unidades de produção que apresentaram valores inferiores à média geral; n = número de unidades de produção nos grupos abaixo da média, média e acima da média; média geral = média aritmética considerando todas as unidades de produção; e acima da média = media aritmética dos indicadores de desempenho das unidades de produção que apresentaram valores superiores à média geral.
O dois primeiro indicadores mostram o desempenho técnico enquanto os três últimos o desempenho econômico.
A Taxa de Lotação das Pastagens indica o número médio anual de vacas em lactação por hectare.
A Produtividade das Pastagens mostra o volume médio anual de leite produzido por hectare.
A Taxa de Remuneração do Capital indica retorno médio anual do ativo imobilizado no Setor Leite.
O Ativo Imobilizado por Litro de Leite mede o nível de ociosidade do ativo imobilizado no Setor Leite.
Por fim, o
Analisando os dados apresentados na Tabela 1, observa-se que o indicador Taxa de Lotação das Pastagens, para o grupo média geral que incluiu a totalidade das unidades de produção em cada estado, foi de 3,31 cabeças/ha/ano no RS seguido do PR com 3,21 cabeças/ha/ano, com a menor taxa sendo registrada em MG de 1,00 cabeças/ha/ano. Seguindo o mesmo raciocínio, o maior valor encontrado para o indicador Produtividade das Pastagens foi de 23.066,13 litros/ha/ano no RS, seguido do PR com 22.159,67 litros/ha/ano e com o menor valor observado também em MG com 4.565,65 litros/ha/ano. Quanto ao indicador Taxa de Remuneração do Capital o maior valor encontrado foi de 16 % no RS seguido do PR com 14%, sendo o menor valor obtido de 2% em SP. Para o indicador Ativo Imobilizado por Litro de Leite o menor valor encontrado foi de R$ 0,71 no PR seguido de MG com R$ 1,02 e RS com R$ 1,09. Por último, o maior valor encontrado para o indicador Giro do Ativo Imobilizado foi de 0,66 vezes no RS, de 0,53 vezes no PR, sendo o menor valor observado de 0,29 vezes em SP.
Analisando agora os grupos abaixo da média e acima da média, conforme definidos acima, observa-se também que as unidades de produção dos estados do RS e PR apresentam melhores indicadores de desempenho quando comparados com as unidades dos estados de SP, GO e MG. Verifica-se ainda, que no estado de São Paulo, o grupo abaixo da média, obteve valor negativo para o indicador de desempenho Taxa de Remuneração do Capital, sinalizando que algumas unidades desse grupo estarão fora do mercado, no longo prazo, a persistirem tais resultados.
Do exposto pode-se inferir que o melhor desempenho, tomando no conjunto os cinco indicadores, coube ás unidades de produção do Rio Grande do Sul, seguidos das unidades do Paraná, Minas Gerais, Goiás e São Paulo. Cabe mencionar que no grupo abaixo da média o número de unidades de produção foi, para todos indicadores, maior ou igual ao do grupo acima da média. No Rio Grande do Sul, essa desigualdade mostrou-se bem mais acentuada, variando de 60% para o indicador Taxa de Remuneração do Capital a 86% para Ativo Imobilizado por Litro de Leite. Por fim, pode-se concluir que as unidades que compõem o grupo acima da média, são referências na produção leiteira dentro dos seus estados.
Tabela 1. Indicadores de desempenho selecionados para aferir a eficiência econômica da atividade leiteira
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1Taxa de Lotação das Pastagens (Número de vacas em lactação/Área de pastagens).
2Produtividade das Pastagens (Produção anual de leite/Área de pastagens).
3Taxa de Remuneração do Capital (Margem líquida/Valor do ativo imobilizado).
4Ativo imobilizado por litro de leite (Valor do ativo imobilizado/Produção de leite).
5Giro do Ativo Imobilizado (Faturamento/Valor do ativo imobilizado).
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1Luiz Carlos Takao Yamaguchi, Aryeverton Fortes de Oliveira e Paulo do Carmo Martins são pesquisadores da Embrapa Gado de Leite