Como já foi citado anteriormente, a BHV-1 se manifesta de forma sutil causando dúvidas e atraso na implementação das medidas de controle, confira agora os principais sinais clínicos desta virose.
BHV-1 e a Reprodução
Atualmente a BHV-1 é reconhecida em todo o mundo como uma importante doença da reprodução em bovinos. Sua transmissão pode ocasionar sérias perdas reprodutivas às vacas, tais como absorção embrionária, lesão nas tubas uterinas e aborto.
Os sinais clínicos que levam o produtor e o técnico a suspeitar da doença são infertilidade temporária, repetição de cios, morte embrionária, abortamentos e natimortalidade. As maiores perdas econômicas estão associadas aos abortos e repetições de cio.
Os abortos associados à BHV-1 ocorrem, geralmente, após o quarto mês de gestação. Raramente os fetos afetados chegam a termo, quando o fazem, são natimortos ou morrem na primeira semana de vida. A expulsão do feto pode demorar até 100 dias após a exposição ao vírus. Até 25% das fêmeas acometidas podem abortar durante um surto da doença.
A vulvovaginite é a forma genital da doença e é disseminada pelo coito. Apresenta um curto período de incubação (1 a 3 dias). A infecção se dissemina rapidamente pelo rebanho, afetando 60 a 90% dos animais. No início, a VPI (vulvovaginite) ocasiona corrimento vaginal mucopurulento, surgem pústulas que podem evoluir para úlceras, sendo facilmente observadas na vulva. O vírus também afeta a mucosa peniana do macho, ocasionando uma balanopostite.
BHV-1 e o Trato Respiratório
A forma respiratória se caracteriza por rinite e traqueíte. Os sintomas podem ser leves ou mais graves, neste caso, quando há presença de pneumonia bacteriana secundária, que é a responsável pelas maiores perdas econômicas. Os animais afetados apresentam anorexia, depressão, tosse, focinho avermelhado, corrimento nasal (inicialmente seroso, passando a mucopurulento) e queda na produção de leite. Os abortos podem acontecer concomitantemente à moléstia respiratória, ou 100 dias após a infecção. Entretanto, a presença dos sintomas respiratórios não é essencial para a ocorrência do aborto.
BHV-1 e a Conjuntiva Ocular
A conjuntivite é a manifestação ocular mais comum nos animais acometidos com o vírus. Para a realização do diagnóstico diferencial, deve-se estar atento para: lacrimejamento excessivo (inicialmente seroso, tornando-se mucopurulento), bilateral ou unilateral, desenvolvimento de placas brancas na superfície palpebral uma a duas semanas após o surgimento dos sintomas clínicos. Diferente da ceratoconjuntivite bovina infecciosa causada pela Moraxella bovis, não causa ulceração. A moléstia pode ocorrer isolada ou acompanhada dos demais sintomas, tais como problemas no trato respiratório e aborto. A recuperação é espontânea, dentro de 10 a 20 dias. Todavia, para que não ocorra uma infecção secundária, pode ser útil o tratamento paliativo. Este tratamento consiste na limpeza do corrimento ocular das pálpebras e aplicação de antibiótico tópico de amplo espectro.
- Diagnóstico
Os rebanhos sob suspeita da doença devem ser submetidos à diagnósticos laboratoriais, sendo esta a única maneira de obter um diagnóstico conclusivo. Confira abaixo algumas das doenças que podem apresentar sinais semelhantes e causar dúvida no diagnóstico clínico da BHV-1.
- Vulvoginite: apresenta sintomas que podem ser confundidos com as infecções ocasionadas pelo Micoplasma bovigenitalium e Ureaplasma diversum.
- Quadros clínicos no sistema respiratório causado pelo BHV-1: apresentam sintomas semelhantes aos ocasionados pelo BRSV, BVD, PI-3 e Pasteurella.
- Encefalites causadas pelo BHV-5: apresentam sintomas semelhantes à raiva, babesiose cerebral, enterotoxemia, toxinfecções, intoxicação por plantas tóxicas, uréia, chumbo, acidentes ofídicos e encefalopatia espongiforme bovina.
- Distúrbios reprodutivos ocasionados pelo BHV-1: os abortos causados pela infecção podem ser confundidos com a brucelose, leptospirose, campilobacteriose, neosporose, tricomonose, BVD, entre outras...
Para o diagnóstico laboratorial da doença as provas sorológicas como a soroneutralização (SN) e o ensaio imunoenzimático (ELISA) são utilizadas como rotina na identificação de anticorpos para o BHV-1. No entanto, a soroneutralização apresenta algumas limitações nos casos em que os animais apresentam baixos títulos de anticorpos para o BHV-1. Além disso, é importante destacar que ambas as técnicas são incapazes de diferenciar os títulos provenientes da exposição ao vírus vacinal daqueles oriundos da exposição natural ao vírus de campo. Nestes casos, o melhor recurso é optar pelo diagnóstico laboratorial etiológico, dentre eles:
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- Isolamento do BHV-1 em cultivo celular - apresenta custo elevado e necessita de material clínico bem conservado
- - Imunoperoxidase e imunofluorescência: também necessita de material clínico bem conservado
- - PCR (Reação da polimerase em cadeia): técnica que apresenta vantagens frente às demais, pois uma ampla variedade de amostras biológicas pode ser utilizada. Além disso, o impacto causado pelo atraso no trânsito das amostras e pela condição inapropriada de transporte até o laboratório é inferior quando comparado aos demais métodos de diagnóstico. A eficácia da técnica de PCR tem sido descrita por inúmeros trabalhos de pesquisa, sendo destacado como um método altamente sensível e específico.
Como já foi dito, para o sucesso do diagnóstico laboratorial é importante atenção ao remeter o material ao laboratório. Para o isolamento viral e PCR podem ser enviados "swab" nasal, "swab" e raspado vaginal, sêmen fresco ou congelado, fragmentos de tecidos de fetos abortados, gânglios dos nervos ciático e trigêmio. Todo o material deve ser enviado sob refrigeração (não congelar), devidamente identificado e acompanhado de um breve histórico e das alterações encontradas. Para pesquisa de anticorpos por sorologia (soroneutralização e ELISA) enviar soro sanguíneo colhido de forma asséptica (se possível, sem coágulos). O soro deve ser enviado sob refrigeração, devidamente identificado e acompanhado de um breve histórico. Todo o material deve ser coletado e enviado o mais rápido possível. É também importante entrar em contato com o laboratório que irá realizar as análises para pedir maiores informações sobre a coleta e o envio das amostras.
Os rebanhos com a confirmação laboratorial da doença e com perdas econômicas advindas da sintomatologia clínica da enfermidade devem ser submetidos às medidas de biosegurança que visam reduzir as chances de disseminação da doença, e, conjuntamente, deve-se estudar a possibilidade de um programa de vacinação. A vacinação contra o vírus da IBR não previne a infecção, mas visa proteger os animais contra os danos econômicos das formas clínicas causadas pelo vírus.
Dentre as medidas de biosegurança que visam reduzir a disseminação da doença pode-se destacar:
- - Prevenir a entrada de animais infectados
- - Quarentena dos animais recém introduzidos no rebanho
- - Checagem dos animais de reposição através de duas sorologias antes da entrada no estábulo de produção de leite
- - Utilizar somente sêmen livre do vírus
- - Higiene regular nas áreas de maternidade
Fonte:
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