Outro agravante neste contexto é que, além de ter que enfrentar este desafio de contar com funcionários pouco habilitados, o pecuarista ainda tem que considerar que alguns aspectos culturais atrapalham a atividade. É notório que em pecuária de leite existe uma dependência total da mão-de-obra, no sentido de que não se tem horários onde a produção pára, como no comércio ou na indústria. Os trabalhos com os animais e com a produção de alimentos se dão continuadamente e rotineiramente todos os dias da semana, sem exceção. Se os funcionários não entendem que sua presença é essencial e que sua falta pode desencadear vários problemas para a propriedade, fica ainda mais difícil manejar as folgas e as faltas dos funcionários.
Neste sentido, buscando fornecer algumas alternativas para o problema das faltas e/ou folgas dos empregados, um artigo muito interessante foi apresentado na última Reunião da Sociedade Brasileira de Zootecnia em julho de 2002 na cidade de Recife/PE. O artigo de autoria de Daniel de Noronha Figueiredo Vieira da Cunha, Oriel Fajardo de Campos, Marcos Macedo Junqueira e Rosane Scatamburlo Lizieire avalia as consequências da falta do tratador de bezerros em aleitamento aos domingos, dia em que ocorre a maioria das faltas.
No trabalho foram utilizados bezerros mestiços das raças Holandês x Zebu e as variáveis comparadas foram as seguintes: (1) presença do tratador todos os dias da semana; (2) ausência do tratador aos domingos, com compensação na quantidade de leite oferecida (seis litros de leite integral aos sábados e segundas) e (3) ausência do tratador aos domingos, sem compensação na quantidade de leite oferecida. Os bezerros recebiam quatro litros de leite diariamente e foram desmamados com 8 semanas de vida. A partir de duas semanas de vida aos bezerros também fora fornecido alimento concentrado, com limite de 2 quilos por cabeça por dia.
Por incrível que pareça esta avaliação é extrema importância na atual situação por que passa a pecuária leiteira. Porém, o problema da folga de funcionários que trabalham em leiteria e da falta que faz um funcionário de determinado setor que não aparece para trabalhar em uma fazenda de leite, fez com que quesitos semelhantes ao que foi avaliado tivessem sido realizados por vários autores em outras épocas, como: APPLEMAN et al. (1975), WOOD et al. (1971) e BONCQUE et al. (1971). Portanto, o tema além de ser atual, é recorrente, demonstrando que esta preocupação em se reduzir os custos de mão-de-obra é constante em pecuária leiteira.
A surpreendente conclusão do trabalho mostra que a ausência de trato em um dia da semana não provocou diferença significativa no peso dos bezerros aos seis meses de idade, o consumo de concentrado e a ocorrência de diarréias até os 70 dias de vida. O fornecimento de quantidades compensatórias de leite e concentrado aos sábado e segundas ainda aumentou o peso dos animais ao desmame com 70 dias! Este fato nos leva a crer que aparentemente o animal passou a utilizar melhor o alimento nestes dias, compensando a ausência de alimentação em um dia na semana. Lembramos que apesar do peso ter sido maior ao desmame, não houve diferença com relação ao peso aos seis meses de idade, ou seja, a vantagem existente no final da fase de aleitamento desaparece quando o animal já se comporta como ruminante de fato há algum tempo.
Na tabela 1 abaixo, podemos observar os números que comprovam o que foi avaliado no referido experimento.
TABELA 1: Efeito da ausência do tratador aos domingos e da compensação da quantidade de leite oferecida durante a fase de aleitamento sobre o ganho de peso (gramas/animal/dia) e o consumo de concentrado (gramas de matéria natural/animal/dia) por bezerros mestiços das raças Holandês x Zebu.
Outra observação importante retirada dos dados da tabela acima, se refere ao custo de criação dos bezerros do tratamento 3. Este custo foi ainda menor do que nos outros tratamentos, pois além da ausência do tratador em um dia da semana, estes animais não receberam o volume de leite compensatório aos sábado e segundas-feiras. Como pode ser visto, nem mesmo nestes bezerros houve diferença significativa no ganho de peso, quando comparado ao desmame aos 70 dias e ao peso aos 6 meses.
O que ocorre na realidade, e é o que importa mesmo, é a redução dos custos com mão-de-obra nesta fase inicial da criação, já que este centro de custo é o que representa maior parcela no custo total de criação de bezerros leiteiros. Se os empregados deste setor em questão podem ser dispensados aos sábados ou domingos, é possível reduzir o custo de manutenção da propriedade, evitando o pagamento de horas-extras e a contratação de folguistas.