Estamos entrando num período de inverno e em várias regiões do Brasil a oferta de boas pastagens será escassa ou mesmo inexistente. Como agravante, a estiagem pode ter comprometido a produção da forragem que seria conservada para esse período crítico. Nesse cenário será muito comum a compra de alimentos volumosos para complementação, ou até mesmo a sustentação, da dieta de nossas vacas leiteiras.
Determinar um preço justo para o produto pode ser um desafio. Certamente prevalecerá a lei da oferta de procura. De qualquer modo pretendo, de forma bem simples, contribuir com algumas dicas práticas que certamente ajudarão o produtor de leite na sua avaliação. Vamos lá:
Regra geral
Avalie o preço da quantidade de nutrientes adquiridos quando se compra “QC” (QC = Qualquer coisa):
Some os custos operacionais como transporte (frete total), mão de obra (carregar e descarregar) e hora máquina (cortar, compactar, moer, etc.). Nos meus artigos “Terceirização de serviços na produção de forragens (Partes 1 e 2)” tem tabelas de custos de mecanização que podem ajudar.
Determine o teor de matéria seca do volumoso adquirido. Pode ser feito em laboratórios, equipamentos de secagem rápida ou até mesmo um forno de microondas. Deve-se ter uma estimativa da quantidade real de alimento que se está adquirindo. Evite transportar e tentar armazenar grandes quantidades de água.
Faça uma análise bromatológica (matéria seca, proteína, NDT, etc.) para se estimar a quantidade de nutrientes que estão sendo adquiridos.
Exemplo prático:
Preço de 10 toneladas (adquiridas ou colhidas) de “QC” = R$ 1.000,00
Custo para transportar, descarregar, compactar e cobrir as 10 t = R$ 500,00
Teor estimado de matéria seca para “QC” = 30%
Teor de PB (proteína bruta) de “QC” = 10% na MS.
Teremos 10 t x 30%MS (3 t de MS) X 10% PB = 300 kg de PB
Foram gastos R$ 1.000,00 (compra ou colheita) + R$ 500,00 (operacional) = R$ 1.500,00
O custo de cada quilo da proteína será de R$ 5,00 (R$ 1.500,00/300kg).
Sugiro que usem essa mesma “continha de padeiro” para rações, farelos, etc. Parece muito simples, mas se todos fizessem talvez não tivéssemos, por exemplo, resíduo industrial de milho verde (70% de água) “passeando de caminhão por aí”.
Compra de lavoura de milho para silagem
A forma mais correta seria o pagamento em equivalente da produtividade de grãos. A colheita fica por conta do comprador, que pode usar máquinas próprias ou contratar serviços de terceiros. Muito cuidado em comprar silagem por tonelada de massa verde. A colheita antecipada sobrevaloriza o produto (paga-se por água) e eleva em muito o custo por nutriente adquirido. A falta de palhada no solo com a remoção de toda a lavoura pode ser compensada pelo custo da colheita que o produtor teria caso colhe-se grãos. A estimativa da produtividade de grãos pode ser feita por amostragem (no espigas/ha x peso de grãos).
Compra de silagem pronta
O valor, certamente, será de acordo com a demanda e a disponibilidade na região. Já é realidade em algumas regiões empresas (fazendas) que cultivam milho exclusivamente para venda na forma de silagem. O mais indicado é transportar rapidamente a quantidade adquirida de silagem para o local de uso e novamente ensilar. É recomendável fazer silos de menor capacidade, pois o tempo para ensilagem é reduzido e as retiradas posteriores serão mais profundas. A compactação é o segredo para se minimizar as perdas de matéria seca e de qualidade que ocorrem durante o processo. A ensilagem em silos bolsa (linguiça – 1,5m) tem custo elevado para grandes volumes, uma vez que a quantidade de matéria seca armazenada é pequena e os custos com lona e operacional são relativamente elevados (faça a conta do “QC”).
Compra de silagem pré secada
Geralmente, a venda é feita em fardos revestidos de filme plástico (bolas) com peso entre 400 a 600 kg. Os teores de matéria seca são variáveis e a qualidade do produto nem sempre é o que se espera. Procure vendedores idôneos e que “garantam” de alguma forma a qualidade do produto. Fardos muito pesados podem ter umidade elevada e se muito leves podem indicar forragem passada. A silagem deve ter teores de matéria seca superiores a 40%, coloração verde e ausência de bolores.
Compra de feno
São empregados na dieta de vacas de leite como fonte de fibra efetiva (estimular a ruminação). Raramente é usado como fonte principal de volumoso. A compra de feno costuma ser norteada pelos seus teores de proteína bruta, de forma que uma análise bromatológica deve acompanhar o produto quando comprado em maiores quantidades. Fardos de coloração escura indicam possível aquecimento da forragem no campo ou no armazenamento, enquanto que a coloração palha pode indicar perda de qualidade (conteúdo celular) em decorrência de chuva durante o processo de produção.
Palhadas ou Resíduos fibrosos
Como o próprio nome indica são alimentos volumosos de baixíssima qualidade. Exceto com fonte de fibra efetiva e em pequenas quantidades, devem ser evitados para vacas leiteiras. Os altos teores de fibra depreciam a ingestão de matéria seca e indicam baixa energia disponível, além da proteína, também baixa, ser pouco aproveitada. Os elevados teores de matéria seca facilitam o armazenamento e, aparentemente, reduzem os custos de aquisição. No entanto, os baixos teores de nutrientes a ingestão limitada reduzem sensivelmente sua viabilidade de uso pela grande demanda de concentrado que será necessário para o atendimento das exigências nutricionais do rebanho.
Consulte sempre um nutricionista, de preferência descomplicado, para auxilia-lo na elaboração das dietas combinando alimento disponível x custo x produtividade do rebanho. Nem sempre o que parece barato vale o que custa. Tenha sempre em mãos uma calculadora (R$ 1,99) para avaliar de forma mais segura suas opções de compra.
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