José Roberto Peres

O artigo anterior apresentou os resultados gerais de custos de criação de novilhas em 62 fazendas americanas. Foi possível observar a grande variabilidade de custos entre as fazendas. Também ficou claro que durante a fase em que a bezerra está em aleitamento grande parte do custo recai sobre a mão-de-obra dedicada aos animais. A partir da desmama, o manejo em grupo exige menor atenção e a alimentação, mesmo sendo mais barata que na fase anterior, passa a representar porcentualmente a maior parte dos custos.

Este artigo vai detalhar um pouco mais os custos da criação de bezerras (definidas como animais entre o nascimento e o início do manejo em grupo, após a desmama). Novamente os valores que serão apresentados não podem ser adotados como referência absoluta, mas demonstrarão tendências interessantes, que permitirão levantar os principais pontos com possibilidade de redução de custos nesta importante e delicada fase da criação.

No estudo, a grande variabilidade de custos para se criar uma novilha de reposição iniciou-se logo ao nascimento. Os dados coletados demonstraram um custo médio de criação de bezerras de US$ 260,00 (R$ 507,00), porém a variação foi de US$ 185,00 a US$ 435,00. Quando se fala em custo diário, a média foi de US$ 2,78, com o valor mínimo a US$ 1,51 e o máximo a US$ 6,75. A tabela 1 mostra um detalhamento dos principais custos envolvidos na criação, em função do tamanho das fazendas.

Tabela 1: Custos diários e exigência de trabalho na criação de bezerras até a desmama.



Independente do tamanho do rebanho, os custos de trabalho/gerenciamento e alimentação foram responsáveis pela maior parte do custo total. Conforme demonstrado no artigo anterior, na média, 40% dos custos foram devidos ao trabalho e 38% à alimentação.

Como pode ser observado, os custos médios das fazendas pequenas foram superiores às demais. O que levou a isto? É de se esperar menor custo de alimentos quando se negocia grandes volumes. Todavia, embora este item tenha sido ligeiramente superior, a grande diferença foi representada pelo maior custo do trabalho nos rebanhos menores (observe os valores médios). Nenhum dos demais custos foi significativamente diferente.

Na tabela, pode-se observar também que existiram tanto produtores com altos quanto baixos custos mesmo nas fazendas de menor porte. Qual seria então o fator limitante?

Existe uma premissa na indústria leiteira que fazendas maiores significam maior eficiência. Na maioria dos casos, isto é válido para vacas de leite, mas este estudo não demonstrou isto na criação de bezerras. A tabela 1 claramente demonstra que os criadores mais eficientes (custos mínimos) são bastante semelhantes independentemente do tamanho das fazendas. Isto nos leva a perguntar: o que estes produtores estão fazendo para manter os custos baixos?

O produtor de menor custo em todo o estudo pertencia ao grupo de fazendas pequenas. Ele tinha um rebanho com 36 vacas a pasto, com concentração de partos na primavera. Após o parto os bezerros eram manejados individualmente somente por 48 horas e então colocados em grupos, amamentados por barris com mamadeiras, concentrado e pasto rotacionado. Eram desmamados com 8 semanas. O sistema era simples, econômico e eficiente. Neste sistema, uma pessoa poderia cuidar de 206 bezerros por dia. Em comparação, no sistema menos eficiente um homem poderia cuidar de 15 bezerros por dia.

No grupo de fazendas de médio porte, o produtor de menor custo tinha 76 vacas e um estábulo de 30 anos sendo usado como bezerreiro. O investimento em instalações e equipamentos foi mínimo mas um bom planejamento assegurou ventilação apropriada e bezerros limpos, secos e livres de correntes de ar. Dois itens realmente diferenciaram os custos desta fazenda: eficiência do trabalho e o baixo custo do substituto de leite. Nesta propriedade um homem seria capaz de cuidar de até 160 bezerros por dia. Para finalizar, a desmama era feita na quarta semana de vida, o que reduzia drasticamente as despesas com substituto de leite.

No grupo de fazendas com mais de 150 vacas, a de custo mínimo tinha custos abaixo da média em todos os itens, com exceção das despesas veterinárias. Isto não é incomum em grandes fazendas devido a medidas de biosegurança adotadas para prevenir surtos de doenças. Novamente as instalações eram modestas e foram remodeladas sem grande investimento. Esta fazenda criava 270 bezerras/ano, o que ajudava a reduzir os custos. A desmama na sétima semana também significa número mais baixo do que a maioria. O que mais diferenciava, no entanto, era a eficiência do trabalho. Um homem seria capaz de cuidar de 192 bezerros por dia.

Ficou óbvio neste trabalho que um dos maiores fatores de custo na criação de bezerros é a mão-de-obra necessária. Todos deveriam olhar para sua criação e avaliar qual a eficiência de utilização do tempo neste fase crítica.

Sistemas de criação que funcionam bem num tamanho de fazenda podem ser inviáveis em outros. Mesmo assim o estudo sugere que muitas fazendas têm uma excelente oportunidade de melhorar sua margem de lucro ou diminuir a mão-de-obra necessária na criação de bezerras.

Comentário do autor: o estudo demonstrou que bezerros saudáveis podem ser criados de forma econômica e eficiente em vários tipos de sistemas. É desta diversidade que surge a inovação, e se pode misturar idéias para desenvolver um sistema melhor adaptado à sua situação.

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fonte: CADWALLADER, T. e WILDECH, M, 2000. Real herds, real heifers... Time is money when raising a calf. Hoard´s Dairymen, March 25.